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Coudet "pistola": 5 momentos da coletiva mostram técnico do Inter irritado

Marinho Saldanha

Do UOL, em Porto Alegre

17/08/2020 04h00

Eduardo Coudet não estava confortável em sua última entrevista coletiva. Além de o Inter ter perdido de virada para o Fluminense por 2 a 1, o treinador argentino ficou descontente em vários momentos da sabatina virtual com os jornalistas. Entre explicações sobre o grupo e o time, ele citou Manchester City, tratou de falar português e cobrou a abordagem dada a suas declarações.

Cada frase, porém, sempre era sucedida por um recuo. Coudet se mostrava desconfortável e descontente, logo em seguida dizia que estava cômodo. Mas nas declarações do comandante o evidente tom "pistola" foi evidente em vários momentos. Por ser "super sincero", ele até já foi cobrado pela direção do clube.

"Vou falar português, senão vocês não entendem"

Coudet tinha respondido sobre várias coisas, sempre no "portunhol" que lhe acompanha desde os primeiros dias em Porto Alegre. Também como de costume, interrompeu alguns jornalistas para conseguir manter uma conversa. Mas o tom sempre foi amistoso, não houve qualquer fala mais ríspida. Até que foi perguntado sobre a opção por Pottker ao invés de Yuri Alberto.

"Se queres saber, Yuri está treinando conosco há uma semana. É um menino de 19 anos, com três jogos de primeira divisão. Como Peglow, que entrou", disse. Em seguida, Coudet foi questionado se o momento de dar experiência aos jovens não era o Campeonato Gaúcho. Depois de explicar sua ideia, o argentino disse que começaria a falar português para ser compreendido.

"Vou falar português senão vocês não entendem. Acho que você vai entender. Acho que sempre a pergunta que vocês fazem é cobrando. Se joga o Fuchs, perguntam por que usa, dizem que tem que jogar o Moledo. Depois dizem que tem que jogar o jogador de base. Agora jogou Zé Gabriel. Dizem que está bem ou mal. E ele é da base. Quando eu cheguei aqui eu disse que entendo todos os problemas financeiros do clube e vou acompanhar. Sempre escuto pergunta difícil. Por que jogou um e não outro. Jogadores que nem treinaram. Não entendo", disparou.

"Não é o Manchester City"

Em seguida, questionado sobre o aparente desconforto, Coudet citou o Manchester City ao falar do tamanho e da qualidade do grupo do Inter.

"Estou trabalhando. Estou achando que sempre tem problema com a escalação. É um grupo muito pequeno. A verdade é essa. Estou trabalhando. Se vocês (imprensa) não acompanham este trabalho é muito difícil para mim. Porque (o Inter) não é o Manchester City que tem uma quantidade de jogadores de hierarquia. Obviamente queremos ganhar. Queremos estar acima, minha ilusão é ser protagonista, dos jogadores também. Mas vamos trabalhar e tratar de fazer o melhor. Creio que podemos dar mais e jogar melhor, mas o Brasileirão é difícil e parelho. Não estou desconfortável", repetiu.

"Mensagem negativa"

Já em suas últimas respostas, Coudet lembrou um fato ocorrido em uma coletiva anterior. Depois do jogo contra o Santos, ele citou que tinha "sido contratado para treinar um super Inter e que depois as coisas haviam mudado". E a interpretação desta frase desagradou o comandante. Segundo ele, a mensagem passada foi muito negativa e diferente do que ele pretendia.

"Não reclamo de nada, estou ao lado do clube, trabalhamos no dia a dia, juntos, a mensagem não tem sido a melhor. Não gosto que alguns jornalistas falem que cobro a direção, quando não estou cobrando nada. Sei da realidade que tenho. Eu sei da realidade do clube, da realidade que tenho. Sempre tive a opção de acompanhar ou não acompanhar, a direção nunca me mentiu, nunca faltou com a verdade. Eu não reclamo de nada. O time está bem. Mas não gostei da mensagem que se passou. Parece que estamos mal internamente, quando estamos muito bem aqui, trabalhando, e sabemos da realidade que temos", repetiu.

"Hoje não teve bola aérea"

Outra situação que deixou o treinador descontente ocorreu quando o questionamento se voltou para os problemas de bola aérea do Inter. Até agora, 63% dos gols sofridos pela equipe ocorreram em jogadas por cima, como mostrou o UOL Esporte. No jogo com o Santos, outro cruzamento entrou, e o gol acabou anulado. Ontem, os dois pênaltis nasceram em jogadas por cima. Mas a citação gerou resposta imediata.

"Hoje não teve bola aérea. Tomamos dois gols em três jogos no Brasileiro, todos de pênalti. Se vamos olhar para trás, para outro torneio, podemos somar mais e dizer que foi a quarta derrota em 23 jogos. Mas agora não nos serve os jogos anteriores. Temos 66% de efetividade no Brasileiro, duas vitórias em três jogos, e se tivermos isso sempre vamos brigar lá em cima", disse. "Foram os primeiros gols que levamos, de pênalti. Estou sempre trabalhando, não só a bola aérea, mas para evitar os gols", completou.

Jogadores da base

A cobrança repetida por utilizar jogadores da base também já gerou descontentamento no treinador. Questionado quase em todas as coletivas sobre a entrada ou não de jogadores mais jovens, ele voltou a falar do tema, mas novamente sublinhou que não se trata de descontentamento.

"Praxedes é categoria 2002, Peglow também, Yuri é 2001, Zé Gabriel é 99, é trabalho. Eu tenho trabalhar e ser protagonista com o que temos. Não me queixo. Vou trabalhar com isso, e não acho que seja assim. Não cobro nada. Me sinto muito bem com a imprensa, com a direção, eu não acho que tem um ambiente ruim aqui", finalizou.

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