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Quais são as apostas da Atalanta para seguir em alta no futebol europeu

Pasalic celebra após marcar para a Atalanta contra o PSG pela Liga dos Campeões - Rafael Marchante/Pool via Getty Images
Pasalic celebra após marcar para a Atalanta contra o PSG pela Liga dos Campeões Imagem: Rafael Marchante/Pool via Getty Images

João Victor Miranda

Colaboração para o UOL, em São Paulo

16/08/2020 17h49

Na última quarta-feira (12), a Atalanta esteve perto de deixar o PSG pelo caminho na Liga dos Campeões da Europa. O time italiano vencia o jogo até os 44 minutos do segundo tempo, mas levou a virada nos instantes finais da partida. Nada mal para um time que apenas estreou na principal competição do Velho Continente.

A equipe de Bergamo, considerada por muitos a sensação da temporada, voltará à Champions League na próxima edição e aposta em uma categoria de base forte, um modelo de futebol sustentável e um técnico idolatrado para mostrar que é mais que uma grande zebra.

O time que encarou de igual para igual o estrelado PSG já vinha mostrando sinais de força na Itália nos últimos anos. Sob o comando de Gian Piero Gasperini, a Atalanta foi quarta colocada no Campeonato Italiano de 2016-17, sétima na temporada seguinte, e terceira colocada nas duas últimas edições - igualando sua melhor campanha histórica. Além disso, a equipe foi vice-campeã da Copa da Itália em 2018-19.

Leonardo Bertozzi, comentarista dos canais ESPN e apresentador do Calciopizza - podcast que discute o futebol italiano -, diz não acreditar que a Atalanta será desmantelada no próximo ano. Ao contrário, o jornalista chama a atenção para a boa capacidade de reposição de peça do time nos últimos anos mesmo com pouco dinheiro, destacando a utilização de jogadores das categorias de base. A Atalanta é atual bicampeã do Campionato Primavera - uma categoria sub-19 do Campeonato Italiano.

"Acho que a Atalanta pode abrir um círculo virtuoso. Jogar a Champions League te dá dinheiro, te dá condição de trabalhar bem no mercado. A roda gira para frente. Na próxima temporada, a Atalanta pode liberar o estádio dela, que está em obras para receber jogos da Champions", declarou o comentarista, que acrescentou:

"Só o fato de estar em terceiro no Italiano por dois anos seguidos mostra que é um trabalho sustentável. (...) De qualquer maneira, não vejo desmanche. A base deve ser mantida e podem chegar reforços. Não acho que o time vá se desmantelar. Tem tudo para se manter competitiva", avaliou Bertozzi, em entrevista ao UOL Esporte.

Também comentarista dos canais ESPN e analista de futebol italiano no Calciopizza, Gian Oddi destaca o tempo de bom trabalho do clube de Bergamo como um indício de que mais conquistas estejam por vir. Ele destacou que o time tem mostrado que sabe usar bem o dinheiro, já que faz mais que seus rivais italianos com muito menos.

Cristiano Ronaldo segura a bola em jogo da Juventus contra a Atalanta - Mattia Ozbot/Soccrates/Getty Images - Mattia Ozbot/Soccrates/Getty Images
Só o salário de CR7 na Juventus é quase toda a folha salarial da Atalanta
Imagem: Mattia Ozbot/Soccrates/Getty Images

Para se ter ideia, a folha salarial da Atalanta gira em torno de 36 milhões de euros por temporada (aproximadamente R$ 230 milhões). Só com Cristiano Ronaldo, a Juventus, atual campeã do Italiano, desembolsa 31 milhões de euros (aproximadamente R$ 197 milhões) por ano. Na avaliação de Oddi, chegar às quartas de final da Champions ajuda o clube a se reforçar financeiramente e, assim, poder brigar por reforços mais qualificados no mercado da bola.

"Chegar às quartas de final da Champions League traz um dinheiro que faz diferença. A Atalanta pode se reforçar com nomes até melhores para as próximas temporadas. Um bom trabalho, como tem sido feito, pode fazer com que o time se mantenha no patamar que chegou. Superar, depende de detalhes. Até porque os concorrentes continuam sendo muito mais ricos", analisou Gian Oddi, também em entrevista ao UOL Esporte.

Treinador-ídolo

Gian Piero Gasparini - Rafael Marchante/Pool via Getty Images - Rafael Marchante/Pool via Getty Images
O técnico Gian Piero Gasperini se tornou ídolo da torcida e símbolo das boas campanhas da Atalanta
Imagem: Rafael Marchante/Pool via Getty Images

Para entender melhor o que acontece em Bergamo, é preciso voltar quatro anos no tempo, quando o clube contratou Gian Piero Gasperini, talvez o grande ídolo do clube hoje. O treinador de 62 anos tinha no currículo um grande trabalho pelo Genoa entre 2006 e 2010, quando levou a equipe à Liga Europa e fez jogadores como Thiago Motta e Diego Milito se notabilizarem no cenário europeu.

Com os grandes resultados obtidos nos últimos anos e após classificar o time para sua primeira participação na Liga dos Campeões, Gasperini virou cidadão honorário de Bergamo e, em um time que perde seus grandes jogadores para rivais a cada temporada, se tornou o principal ídolo da torcida.

"A gente pode pegar a chegada do Gasperini como um marco para o início desse bom trabalho da Atalanta. Meus últimos votos têm sido para o Gasperini como melhor técnico do Italiano. Acho que o trabalho dele faz a diferença, é o grande nome do que está acontecendo. Não chegou um investidor e eles começaram a ganhar. Pelo contrário, por ser mais pobre que seus concorrentes na Itália, eles perdem jogadores toda temporada para Internazionale, Milan, Roma. E mesmo assim, o técnico sabe repor e eles continuam jogando em altíssimo nível", analisou Gian Oddi. Bertozzi também compartilha da visão do colega de emissora.

"O Gasperini é responsável por montar um esquema que potencializa jogadores que, talvez, não atuassem no mesmo nível em outros times. O trabalho dele é notável."

Um time valente

Jogadores da Atalanta celebram o terceiro lugar no Campeonato Italiano - Emilio Andreoli/Getty Images - Emilio Andreoli/Getty Images
Jogadores da Atalanta celebram o terceiro lugar no Campeonato Italiano
Imagem: Emilio Andreoli/Getty Images

Tanto Léo Bertozzi quanto Gian Oddi destacaram a postura da Atalanta: o time se comporta da mesma maneira diante de adversários fracos e fortes. Dentro da Liga dos Campeões, a equipe mostrou essa característica - e chegou a ser punida por isso.

Na primeira fase, a equipe italiana demorou a se encontrar na competição e acumulou três derrotas nos três primeiros jogos - 4 a 0 para o Dínamo Zagreb (CRO), 2 a 1 para o Shakhtar Donetsk (UCR) e 5 a 1 para o Manchester City.

No returno, o Atalanta encarou seus algozes da mesma maneira e conseguiu vencer o Dínamo Zagreb (2 a 0) e o Shakhtar Donetsk (3 a 0), e empatar com o Manchester City em 1 a 1 para conseguir uma classificação heroica.

"A adaptação à Champions foi muito difícil. Tomou uma goleada do Dínamo Zagreb, por exemplo. Mas, quem chega tão longe na Champions, quer enfrentar os melhores e é uma honra enfrentá-los para quem não tem os melhores", opinou Léo Bertozzi ao analisar a trajetória do clube italiano no torneio continental.

Brilho ofuscado pelo Leipzig?

Jogadores e comissão técnica do RB Leipzig comemoram classificação na Liga dos Campeões - Julian Finney/UEFA/Getty Images - Julian Finney/UEFA/Getty Images
Jogadores e comissão técnica do RB Leipzig comemoram classificação na Liga dos Campeões
Imagem: Julian Finney/UEFA/Getty Images

Um dia depois do fim da grande participação do Atalanta, outro time sem expressão no cenário europeu conseguiu um feito extraordinário: o RB Leipzig venceu o Atlético de Madri por 2 a 1 e vai enfrentar o PSG na semifinal da Liga dos Campeões.

Para Gian Oddi, o feito do RB Leipzig não vai ofuscar a história escrita pela Atalanta. O comentarista entende que são narrativas muito diferentes, separadas principalmente pela quantidade de dinheiro investida em cada clube.

"A comparação entre RB Leipzig e Atalanta vai acontecer, até por uma leitura simplista sobre quem chegou mais longe. Acho que a história do Leipzig talvez vire a grande história da Champions League por ter um técnico de 33 anos no comando, por ser um clube de onze anos de idade. Mas há uma diferença enorme: o RB Leipzig tem um investimento de dinheiro muito grande. Eles trabalham esse dinheiro de um jeito muito diferente do que o PSG, por exemplo. O PSG só compra os melhores que vê. O RB Leipzig faz uma pesquisa, busca bons jogadores, mas não são grandes estrelas do mundo. É um trabalho mais difícil. Mas não dá para comparar com a Atalanta também", concluiu Gian Oddi.