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Eles postaram vídeo em "Instagram boleiro" e arrumaram time na Europa

Yuri Aguiar e Talisson, atacante e lateral esquerdo brasileiros do KF Dardana Kamenice - Divulgação/DSFootball
Yuri Aguiar e Talisson, atacante e lateral esquerdo brasileiros do KF Dardana Kamenice Imagem: Divulgação/DSFootball

Gabriel Carneiro

Do UOL, em São Paulo

16/06/2020 04h00

Um aplicativo japonês lançado há dois anos arrumou clube para dois jogadores brasileiros de futebol em meio à pandemia do novo coronavírus.

O lateral esquerdo Talisson e o atacante Yuri Aguiar, com passagens por Fortaleza e Vasco, respectivamente, assinaram por dois anos com o KF Dardana Kamenice, de Kosovo, e aguardam a retomada dos treinamentos e jogos no país europeu, que registrou até o momento 1.443 casos da doença.

O clube, que é praticamente desconhecido no Brasil, descobriu os dois em um aplicativo chamado "Dreamstock". O UOL Esporte contou a história dessa ferramenta em 2019: atletas têm perfis em que postam seus lances, e os clubes seguem para observar o que há de bom em um feed, como na maioria das redes sociais, em que você "rola" para baixo para ver as publicações mais recentes. É tipo um Instagram boleiro.

"Um amigo da minha cidade conhecia o aplicativo e falou para eu postar um vídeo meu. Eu já tinha rodado em vários clubes, conhecia o mundo do futebol e não colocava muita fé. Mas resolvi fazer, estava em casa parado há oito meses, desanimado. Acabou que deu certo, entraram em contato comigo e me trouxeram para Kosovo", diz Yuri, que passou pela base de Atlético-MG, Marília, Vasco e Coritiba.

Ceni e Talisson - Reprodução/Instagram - Reprodução/Instagram
Imagem: Reprodução/Instagram

Já Talisson é formado na base do Fortaleza e chegou a treinar sob o comando de Rogério Ceni no time profissional. O que une as histórias de ambos são as dificuldades de colocação no futebol profissional, ainda mais no contexto da pandemia, em que clubes se desfizeram de elencos inteiros por causa da crise financeira.

O aplicativo boleiro, inclusive, registra 50% mais cadastros do que a medição anterior nos últimos três meses — efeito direto das dificuldades do mercado. Há na plataforma outros jogadores com currículos respeitáveis recheados com passagens por grandes clubes brasileiros. O app até criou um selo para diferenciar jogadores com experiência profissional de amadores — hoje são 190 mil cadastrados.

O destino pode ser inusitado, como Kosovo: "Eu nunca tinha ouvido falar [do país], mas quando surgiu o interesse fui pesquisando e vi que era um Estado que declarou independência, li sobre as guerras, a Albânia... Também não sabia qual língua era, hoje convivo com o albanês e com as pessoas que falam inglês. Sou da Bahia e já encontrei -5ºC no meu primeiro dia. Mas, enfim, estou adaptado, aqui é um país de pessoas muito boas", diz Yuri, que além de Talisson vive no país com mais dois estrangeiros, um colombiano e um ganês. O plano é abrir portas.

"Os treinos voltam em 15 de julho. Tenho confiança de que acabando a primeira temporada vou para um time maior e melhor. Com a sequência de jogos vão aparecer coisas maiores."

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