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Presidente do Flu cita 'hostilidades' ao explicar saída de grupo da Ferj

Presidente do Fluminense, Mário Bittencourt concede entrevista coletiva no CT tricolor - Lucas Mercon / Fluminense
Presidente do Fluminense, Mário Bittencourt concede entrevista coletiva no CT tricolor Imagem: Lucas Mercon / Fluminense

Do UOL, no Rio de Janeiro (RJ)

05/06/2020 10h47

Mário Bittencourt, presidente do Fluminense, explicou os motivos pelos quais resolveu sair do grupo de WhatsApp que conta com os mandatários dos clubes da Série A do Campeonato Carioca e representantes da Federação do Rio de Janeiro (Ferj). O dirigente tricolor afirmou que, na visão dele, houve ameaça da federação em relação à possibilidade de a equipe não entrar em campo, além de publicações hostis tanto ao Flu quanto ao Botafogo, clubes que se mostram contra o retorno do futebol neste momento.

Em entrevista à Rádio Globo, Bittencourt apontou ainda que o trâmite para reunião com o prefeito Marcelo Crivella (Republicanos) e o arbitral que votou a retomada das atividades foi "bem arquitetado para ter uma questão fática em sequência". O presidente do Fluminense fez também reclamações quanto à postura de Rubens Lopes, presidente da Ferj.

"Entendo que um posicionamento no sentido da preservação de vidas não deveria ser sequer motivo de levantamento de discussão de aplicar pena desportiva ao clube que está tentando preservar ao máximo não só sociedades como seus atletas, que têm o direito de se recusarem a entrar em campo, a jogar. Em momento nenhum disse que não iria, só que a posição de momento era de ficar em casa. Fomos ameaçados, entendi como ameaça, sim", disse, em trecho da entrevista.

Em nota, a Ferj garante que "não há desgaste" com o clube das Laranjeiras e salienta que "o estado democrático permite, e é salutar, o debate dentro dos preceitos legais, e o fato do presidente do Fluminense opor divergências não compromete em nada as relações pessoais e institucionais".

Veja as declarações de Mário Bittencourt:

Grupo do WhatsApp

"Esse foi um grupo criado logo no início da paralisação pela Ferj e discutimos sobre a questão da continuidade do campeonato, das férias coletivas e acordo da redução salarial. Só nas últimas semanas é que veio a pauta do retorno. A federação tentou criar um ambiente para forçar a volta do torneio e o Fluminense sempre deixou muito clara a sua posição. Enquanto o debate foi feito na medida do respeito e da razoabilidade, participamos. A partir do momento em que houve posicionamento de ideia contrário ao retorno, tanto do Fluminense quanto do Botafogo, passaram a ser hostilizados de maneira velada, não diretamente, dentro do grupo, com centenas de matérias postadas propondo retorno, enfim... Só para entender o contexto: centenas de postagens diariamente defendendo o retorno e mostrando números de países como Alemanha e Bélgica. A gente sempre se posicionando, "ok, mas aqui não chegamos no pico da pandemia", e continuamos defendendo nosso posicionamento"

Documento a favor do retorno

"Houve uma outra situação muito chata: foi criado um documento dos clubes pedindo o retorno das atividades. Curiosamente, foi feito durante uma tarde e enviado para Botafogo e Fluminense à noite. Estava tudo em ordem alfabética, e Botafogo e Fluminense estavam fora da ordem e por último, ou seja, já sabiam que não iríamos assinar e nos isolaram. A gente realmente não assinou aquele documento".

Reunião com a Prefeitura

"Recebemos um comunicado dentro do grupo dizendo que o prefeito estaria convidando para uma reunião presencial para discutir o retorno. Me posicionei dentro do grupo que não iria. Uma coisa é você ser a favor do retorno no momento em que entender que a pandemia está controlada, e outro é você se mover em direção à Prefeitura. Foi um movimento dos clubes para a prefeitura no sentido de pleitear o retorno imediatamente, no mês de junho. Nos posicionamos contra".

Ameaça de W.O.

"As hostilidades veladas seguiram. Aliás, em abril, quando disse que a posição do Fluminense era de não retornar no momento, dizem que não fomos ameaçados, mas é o que está escrito no grupo: "Se vocês não forem a campo vão tomar W.O. como diz o regulamento". Tem gente que não considera ameaça, eu considerei porque não estamos falando de um momento comum, ou seja, não é ir a campo porque não quer, não concorda com horário do jogo ou porque quer jogar de manhã, de noite... Estamos vivendo o maior problema da história da humanidade dos últimos 100 anos".

"Entendo que um posicionamento no sentido da preservação de vidas não deveria ser sequer motivo de levantamento de discussão de aplicar pena desportiva ao clube que está tentando preservar ao máximo, não só a sociedade, como dos atletas, que têm o direito de se recusarem a entrar em campo. Em momento algum disse que não iria, só que a posição de momento era de ficar em casa. Fomos ameaçados, entendi como ameaça, sim, mas isso foi em abril. Me mantive no grupo depois disso, fiz outros debates sobre outros assuntos técnicos".

Arbitral

"Houve a convocação do arbitral. Curiosamente, na sexta-feira foi avisado que o prefeito queria receber a gente domingo, e logo em seguida o arbitral é marcado para segunda. Tudo bem arquitetado para ter uma questão fática em sequência. No arbitral o edital tinha sete itens dos quais cinco eram lacônicos, e eu impugnei educadamente".

Posicionamento do Cremerj

"As hostilidades aumentaram quando o Cremerj se posicionou contrário ao retorno. Parece que teve uma notificação a alguns médicos de outros clubes, e aí começou um movimento no grupo de repulsa ao Cremerj. E propuseram que todos os clubes assinassem uma nota dura, a meu ver até deselegante, contra o Cremerj. Novamente, Botafogo e Fluminense se posicionaram de maneira contrária, até porque não tem nada a ver com essa questão, é uma posição do conselho de medicina com relação aos profissionais, nada a ver com os clubes. Mas mesmo que tivesse Botafogo e Fluminense não assinariam uma nota de repúdio a um órgão que está defendendo a manutenção da quarentena".

"A partir desse momento as hostilidades, ao meu sentir, passaram a ser diretas. Nesse mesmo dia o presidente da federação postou uma matéria falando sobre o atraso salarial do Botafogo, insinuando que o Botafogo era contra a volta, mas os jogadores queriam voltar e o Botafogo não pagava salário. Eu achei deselegante. E, logo em seguida, a questão do Cremerj. Postaram uma foto do presidente do Cremerj, com quem eu não tenho nenhum tipo de relação, com um avatar escrito "100% Fluminense". Ele é tricolor parece, e isso foi colocado de maneira insinuada, como se tivesse alguma coisa a ver com o movimento do Cremerj".

"Quando houve essa postagem, achei, sinceramente, que presidente da federação não pode pender para nenhum lado e nem se portar dessa forma. Mesmo que de forma velada ou insinuando alguma coisa, atacar clubes que compõe a federação e são centenários. Fiz uma mensagem educada, que estava me retirando do grupo por entender que não tinha mais necessidade de ficar ali, nenhum tipo de questão objetiva".

'Briga' com a Ferj

"Não é nem uma briga, a discussão nesse momento é mais ligada à sociedade, salvar vidas, e optei por sair. Mas nada além disso, a mensagem é até grande e relata mais ou menos tudo isso que falei. Minha participação sempre foi técnica, educada, mas estava cansado de ser alvo desse tipo de atitude. Optei por sair e ponto final"

Veja nota da Ferj:

"Não há desgaste com o Fluminense, a quem respeitamos como filiado e pelo que representa para o futebol do Rio de Janeiro. Há uma diferença entre desgaste e divergência. O estado democrático permite, e é salutar, o debate dentro dos preceitos legais, e o fato do presidente do Fluminense opor divergências não compromete em nada as relações pessoais e institucionais. Faz parte do contexto, como também o respeito à decisão da maioria. A Federação não trabalha com hipótese de abandono da competição por nenhum clube, por se tratar de medida sem nenhum sentido, radical e geradora das indesejáveis e graves consequências que foram estabelecidas pelos próprios clubes. Acreditamos na convergência, trabalhamos para isso e a tradição e importância das instituições não admitem equívocos nesse sentido e de tamanha magnitude".

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