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Ex-Vasco passa por 'aventura' para voltar ao Brasil em meio à pandemia

Rafael Silva celebra gol do Vasco contra o Flamengo, pela Copa do Brasil 2015 - Paulo Fernandes / Flickr do Vasco
Rafael Silva celebra gol do Vasco contra o Flamengo, pela Copa do Brasil 2015 Imagem: Paulo Fernandes / Flickr do Vasco

Alexandre Araújo e Leo Burlá

Do UOL, no Rio de Janeiro (RJ)

28/04/2020 04h00

Marcado pela passagem pelo Vasco, o atacante Rafael Silva viveu uma aventura para "escapar" da Bolívia e voltar ao Brasil durante o período de isolamento social devido ao coronavírus. O jogador, que atualmente está no Always Ready, fez o trajeto de La Paz a Campo Grande-MS de van, juntamente com outros brasileiros. De lá, foi para São Paulo.

Em conversa com o UOL Esporte, Rafael Silva contou que a via terrestre foi a única forma encontrada para deixar o país, que já adotava diversas medidas para frear o contágio da Covid-19, e nunca tinha passado por algo parecido.

"Voltei ao Brasil de van porque era o único meio que tinha. Lá, fecharam todos os aeroportos, não tem nem voo doméstico. E estavam decretando a quarentena de 15 em 15 dias. Comuniquei à embaixada e pedi para que eles pudessem me ajudar neste retorno. Eles fizeram uma autorização para que essa van pudesse circular no país, porque nem carro está podendo circular. Eles nos auxiliaram nessa situação e fizemos essa aventura", disse ele, antes de completar:

Atacante Rafael Silva em ação com a camisa do Always Ready, da Bolívia - Reprução Instagram - Reprução Instagram
Imagem: Reprução Instagram

"Na verdade, nunca tinha feito um trajeto tão longo de carro. Foi a primeira vez e, realmente, é muito cansativo. A cada 10 km, mais ou menos, tinha barreira policial do exército. Eles paravam, fiscalizavam tudo, pediam toda a documentação... Então, foi bem desgastante esse trajeto. Deu 28 horas no total", acrescentou.

O atacante lembrou que as paradas no decorrer da viagem eram apenas para as necessidades mais básicas.

"Contatamos um pessoal que faz turismo. Eles disponibilizaram essa van para a gente. A embaixada fez a autorização com os dados da van e dos motoristas, foram dois. Passamos por Cochabamba, Santa Cruz [de La Sierra], e outras cidades que não me recordo o nome. Eles foram revezando para não cansar e a viagem foi tranquila. A gente só parava mesmo para fazer as necessidades. Era coisa rápida e já voltávamos para a van", lembra.

Apesar disso, o caminho também teve percalços, como, por exemplo, quando havia as barreiras do exército e tinha de passar por todo um processo determinado pelas autoridades para se evitar que o vírus se alastre.

"Os perrengues que passamos mesmo foram nas barreiras que tinham nas cidades. Paramos muitas vezes. Eles fiscalizavam, pediam os documentos, 'dedetizavam' a gente. Isso foi meio desgastante porque tiveram vezes que estava de madrugada. Aí, desceu todo mundo... E eu estava com cachorro e criança. Criança, às vezes, não entende muito essa demora. Mas foi divertida essa aventura. Tinham outras pessoas na van e acabou sendo divertido, fomos contando histórias. Então, passou rápido".

Ao recordar no período na estrada, Rafael Silva não escondeu que temeu não conseguir retornar ao Brasil, enquanto via o número de casos aumentar na Bolívia.

"Está começando a chegar ao pico agora. No começo, era um ou dois casos por dia. Agora, são 50, 60, e o país não é tão grande. Então, é um número expressivo. Fiquei com um pouco de medo porque estava tudo fechado, não tinha voo, não podia ir às ruas."

Ligação com o Vasco

Rafael Silva defendeu o Vasco entre 2014 e 2015 e ficou marcado por ter balançado a rede nos acréscimos do primeiro jogo da final do Carioca de 2015, contra o Botafogo, e pelo fato de ter feito o gol da classificação às quartas de final da Copa do Brasil de 2015, em duelo com o rival Flamengo.

O atante ressalta que ainda acompanha o Cruz-Maltino e a confiança de que o clube viverá "dias melhores" em breve.

"Em relação ao Vasco, desde que saí do clube, continuo acompanhando. Sou apaixonado. Apesar de ter jogado em outras equipes, tenho um sentimento grande pelo Vasco e tenho acompanhado. O clube não está passando um grande momento, mas tenho certeza que vai conseguir reverter isso."

Na comemoração deste gol, inclusive, o atacante fez o movimento de "cortar" o pescoço, algo que a torcida do Fla passou a chamar de "vapo" por causa do meia Gerson.

"Essa comemoração ficou marcada na mente de todos os vascaínos, e na minha também. Foi um clássico em uma semana que tiveram polêmicas, com o pessoal deles falando muita coisa. Mantivemos a humildade e, em campo, conseguimos a classificação. Essa comemoração ficou marcada porque foi como se estivesse degolando eles por terem falado tanta besteira. Mas são coisas do futebol. Respeito a equipe deles. Também já tiraram onda comigo e isso é normal."

Futuro

Rafael Silva não esconde que, diante do cenário atual imposto pelo coronavírus, pensa em voltar ao futebol brasileiro.

"Em relação à expectativa para o futuro, não dá muito para saber. Agora, quero muito ficar no Brasil. Apesar de ter contrato com o Always Ready, com essa pandemia, não sei como vai ser o futuro. Quero muito ficar mais próximo da minha mãe, que é uma senhora de idade, e estou preocupado com toda essa situação. Se surgir uma oportunidade de voltar ao Brasil, quero muito. Mas, caso não seja viável, vou cumprir meu contrato e respeitar o que o clube fez por mim", finalizou.

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