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Reduzir clubes às atitudes de seus representantes é análise simplista

O que pessoas e gestões dizem sobre um clube? O quanto os atos de alguns devem se refletir na imagem de uma instituição?

Apenas nas últimas semanas, o Santos viu sua reputação manchada pela decisão da diretoria de recontratar um técnico sobre quem pesam 19 acusações de assédio — depois de, recentemente, abraçar mais de uma vez o condenado Robinho. O Vasco se deparou com uma declaração profundamente machista de Ramón Díaz, segundo quem é complicado deixar mulher decidir questões de arbitragem — em que pese o fato de que a juíza do VAR em questão estivesse certa e o juiz de campo, errado. Ainda circulou pelas redes uma acusação antiga que associa o Palmeiras e sua torcida ao fascismo.

Poderíamos lembrar, ainda, do Flamengo e o incêndio mortal no Ninho do Urubu. Dos jogadores do Corinthians abraçando Cuca, mesmo diante dos protestos das atletas do time feminino e de parte da torcida. De casos de racismo e homofobia escancarados em arquibancadas de todo o país, cometidos por indivíduos ostentando os mais diversos escudos.

Essas pessoas são o clube? O clube é essas pessoas? Sim e não.

O Palmeiras, como todos os outros, tem torcedores fascistas. E comunistas. E centristas. E apolíticos. E brancos. E pretos. E LGBTQs. E homofóbicos. E inclusivos. E babacas. E simpáticos. E generosos. E criminosos. E de tudo um pouco.

A diretoria do Santos, que vem ignorando solenemente o histórico de violência contra a mulher de seus cupinchas, representa apenas um grupo político dentro da Vila. Que pode ser defenestrado na próxima eleição e nunca mais voltar.

A história do Vasco na luta pela igualdade de direitos é absurdamente maior do que uma fala cretina de um homem que em alguns meses ou anos não estará mais lá.

A lógica se aplica a todos. Reduzir instituições centenárias às características de representantes individuais ou mesmo a coletivos é pobre. É simplista.

Nós aqui, pessoas comuns, também somos seres complexos, habitando uma sociedade estruturalmente racista, homofóbica e misógina, da qual muitos nos beneficiamos. Somos muitas coisas ao mesmo tempo, boas e ruins.

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Não podemos negar a existência do que é podre. Mas também não devemos reduzir um universo imenso a suas piores partes. Até porque aí seria difícil levantar da cama, e acreditar no futuro da humanidade.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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