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Ex-São Paulo celebra sucesso de Osorio na Copa: "melhor técnico que tive"

Criticado até o embarque à Rússia, Osorio fez do México uma das sensações do Mundial - REUTERS/Maxim Shemetov
Criticado até o embarque à Rússia, Osorio fez do México uma das sensações do Mundial Imagem: REUTERS/Maxim Shemetov

Eduardo Carneiro e Vanderlei Lima

Do UOL, em São Paulo

27/06/2018 04h00

Não são só os mexicanos que estão felizes com os bons resultados de Juan Carlos Osorio na Copa do Mundo. Profissionais que trabalharam com o colombiano no São Paulo entre maio e outubro de 2015 o classificam como “extraordinário”, “diferenciado” e “humilde”, dentre outros adjetivos elogiosos, e celebram a boa fase do treinador.

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No caso de Luiz Eduardo, a palavra que define a relação com Osorio é gratidão. No fim de julho de 2015, o zagueiro atuava pelo São Caetano, à época na Série D do Campeonato Brasileiro, quando foi surpreendido pelo interesse do clube tricolor – a pedido do atual técnico do México.

“O Osorio queria um zagueiro canhoto, não importava a divisão que disputasse. Então, ele e o Milton Cruz (à época auxiliar-técnico) foram me buscar no São Caetano também pelas características que eu tinha. Sou um zagueiro que gosta de sair jogando e que bate bem na bola”, comenta o jogador de 31 anos.

Osorio, portanto, foi o responsável direto por uma revolução na vida de Luiz Eduardo. “Cheguei ao São Paulo numa terça-feira. Acabou o treino e ele falou para mim que eu estrearia contra o Corinthians. Disse para eu ficar calmo, que confiava em mim e que eu vinha para jogar, não para ficar no banco. Joguei bem na estreia e mantive a posição de titular”, relembra – o clássico, disputado no final daquela semana, terminou 1 a 1 no Morumbi.

Para infelicidade do zagueiro, a sequência como titular da equipe durou pouco. Não por decisão de Osorio, mas sim por uma grave lesão no joelho, da qual não se recuperou totalmente até hoje. “No dia em que voltei a treinar, ele estava se despedindo da gente”, lamenta. “Ele expôs para nós que sempre sonhou em comandar uma seleção e que, com a idade dele, não poderia deixar aquela oportunidade passar”.

A passagem de Osorio pelo São Paulo durou pouco menos de cinco meses. Foram 28 jogos, com 12 vitórias, sete empates e nove derrotas. Luiz Eduardo também não ficou muito tempo no Morumbi. Após nove partidas, foi dispensado em junho do ano seguinte. Na torcida pelo ex-comandante, o zagueiro vibrou principalmente ao ver a seleção do treinador superar a atual campeã mundial Alemanha logo na estreia na Copa da Rússia. “Eu sou suspeito para falar dele. Ele é o melhor treinador que eu tive até hoje”, afirma, enumerando o que considera ser a lista de virtudes do colombiano.

Luiz Eduardo, ex-São Paulo, em clássico contra o Corinthians - Eduardo Anizelli/Folhapress - Eduardo Anizelli/Folhapress
Luiz Eduardo (dir), na estreia contra o Corinthians
Imagem: Eduardo Anizelli/Folhapress

“A humildade dele. Ele tem aquele 'feeling' de grupo, de tratar todo mundo igual, conversar com todo mundo igual, de chegar no jogador e perguntar se está bem, como está a família, como estão as coisas... Cativar o atleta mesmo a dar 100% no seu limite”.

Uma experiência em particular marcou o zagueiro: “Estava há duas semanas no clube e ele me perguntou porque eu chegava tão cedo. Expliquei que morava em São Caetano e ele falou: ‘isto não está certo’. Falou com o pessoal da diretoria lá e eles aumentaram a minha parte de aluguel. Consegui ir morar a 2 km do centro de treinamento por causa dele”.

E que mensagem Luiz Eduardo envia para o treinador do México? “Quero deixar todo o meu agradecimento, porque não tem nenhum treinador no Brasil que faria o que ele fez por mim. Ele vê o lado humano, o lado da família, ele vê tudo. É um cara espetacular”.

“O saco do Osorio encheu”

Milton Cruz e Juan Carlos Osorio - Guilherme Palenzuela/UOL Esporte - Guilherme Palenzuela/UOL Esporte
Milton Cruz e Osorio ficaram amigos
Imagem: Guilherme Palenzuela/UOL Esporte

Se alguém conheceu Osorio de perto no Brasil, este alguém é Milton Cruz. Membro da comissão técnica do São Paulo por 22 anos, ele trabalhou ao lado do colombiano na curta passagem pelo Brasil e também guarda boas recordações.

“Conheci o Osorio quando enfrentamos o Once Caldas (na Libertadores de 2010, ocasião em que Milton era treinador interino do time). Nos falamos e ele nos atendeu superbem. Inclusive falou em um dia trabalhar no Brasil. Quando chegou aqui, ainda sem a família, a primeira coisa que fez foi colar em mim. Levei ele para casa, para o Guarujá. Ficou meu amigo”, conta o hoje técnico do Figueirense, antes de elogiar o colega de profissão.

“O trabalho dele de campo é muito bom, diferenciado. Um ser humano extraordinário e um cara muito inteligente. Ele é diferenciado em treinamento, montagem de equipe. Tem um pensamento diferente”, destaca.

Pensamento diferente que, diga-se, gerou críticas e até piadas entre os brasileiros, como as constantes mudanças na equipe titular e as canetas coloridas que usava para escrever bilhetes aos jogadores. Foram os questionamentos – aliado a um desmanche do elenco – que levaram o treinador a trocar o São Paulo pela seleção mexicana, segundo Milton Cruz.

“O pessoal foi muito contra a questão dos rodízios, ficou muito contra. Ele ficou muito p... e isso encheu o saco dele. Falou: ‘estou indo embora’. Até o próprio presidente Carlos Miguel (Aidar) mandou mensagem, falando que o São Paulo não está acostumado com isso aí”, relata. “E mais um detalhe: quando ele chegou, prometeram que não iam vender ninguém e nem mexer no time. Mas aí começaram a vender os jogadores”. Ao todo, oito atletas deixaram o São Paulo no período em que Osorio esteve no clube: Toloi, Denilson, Jonathan Cafu, Boschilia, Doria, Ewandro, Paulo Miranda e Souza.

Milton Cruz se diz feliz com a boa fase de Osorio no México, onde, importante ressaltar, o colombiano também foi alvo de duras críticas tanto da imprensa, em especial após sofrer goleada por 7 a 0 para o Chile na Copa América de 2016, quanto de torcedores, que cobravam sua saída até duas semanas atrás – como visto no último amistoso da seleção antes do embarque para a Rússia. “Ele é um cara leal, justo com os jogadores. Não interessa se é Luis Fabiano, Rogério Ceni ou quem for. Fico feliz que tenha seguido no México. A questão do rodízio também incomodou muito lá. Mas ele está demonstrando que sabe de futebol e bola pra frente”, elogia o ex-são-paulino.

O México de Osorio volta a campo nesta quarta-feira (27), quando encara a Suécia às 11h (de Brasília) precisando apenas de um empate para garantir a classificação e o primeiro lugar do Grupo F da Copa do Mundo. O resultado não se sabe, mas Milton Cruz, Luiz Eduardo e muitos outros reforçarão a torcida de milhões de mexicanos quando a bola rolar.

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