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Rodrigo Mattos

REPORTAGEM

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Ligas no Brasil vendem fatia maior do que Europa por aportes bilionários

Assembleia da Libra, em São Paulo, reuniu clubes como Flamengo, Palmeiras, São Paulo, Corinthians e Santos - Divulgação
Assembleia da Libra, em São Paulo, reuniu clubes como Flamengo, Palmeiras, São Paulo, Corinthians e Santos Imagem: Divulgação

Colunista do UOL

04/04/2023 04h00

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A Libra (Liga do Futebol Brasileiro) e a Liga Forte Futebol têm negociações com investidores para venda de 20% dos direitos de TV e comerciais do Brasileiro a partir de 2025. As duas ofertas giram próximas de R$ 5 bilhões. Para isso, os clubes negociam um percentual dos direitos da Liga das Séries A e B superior a transações similares em campeonatos de elite na Europa. A justificativa é que a Liga do Brasil ainda não está estruturada e os clubes precisam de aportes maiores.

Com esse dinheiro, pela fórmula da Libra, clubes como Flamengo e Corinthians ganhariam cerca de R$ 300 milhões. Já na fórmula da Liga Forte Futebol haveria um nivelamento dos valores a serem recebidos pelos 12 principais clubes do país.

Fundos internacionais de investimento têm mirado as Ligas de futebol pelo mundo. O modelo de negócio é fazer aportes financeiros para os clubes e a liga em troca de um percentual de todos os direitos futuros gerados pelo campeonato (TV e patrocínio).

No caso brasileiro, ainda não há uma liga formada por todos os 40 clubes das Séries A e B, e o campeonato é organizado pela CBF e negociado individualmente pelos times. Os dois grupos de clubes (Libra e Liga Forte Futebol) dividiram-se e fizeram negociações separadas com o fundo Mubadala (dos Emirados Árabes) e o fundo Serengeti e a Corretora LCP, respectivamente.

A oferta do Mubadala é de R$ 4,75 bilhões por 20% de 50 anos dos direitos da Liga do Brasileiro. No caso da Serengeti, a proposta é de R$ 4,85 bilhões pelas mesmas propriedades. A primeira negociação está mais avançada do que a segunda, mas ambas ainda não têm um acordo definitivo assinado pelos clubes. Também não há um acordo entre Liga e LFF sobre a divisão do dinheiro.

Tanto a Libra quanto a Forte Futebol já têm uma lista detalhada de quanto seria o aporte em dinheiro para cada clube. Os critérios são bem diferentes, como já publicado pelo blog.

Na Espanha, a La Liga fechou em 2021 um acordo com o fundo CVC Capital para venda de 10% de uma empresa que controla os direitos do campeonato. O acordo é de receber em torno de 2 bilhões de euros (R$ 11 bilhões). Real Madrid e Barcelona foram contra o acordo e entraram com um processo na Justiça para anulá-lo.

Metade do valor já foi paga a outros 38 clubes. Pelo acordo, esse dinheiro não pode ser gasto livremente pelos clubes. Há regras para investimento em infraestrutura, desenvolvimento internacional da marca e pagamento de dívidas. Um percentual pode ser gasto em contratações desde que aprovado pela La Liga.

Na França, a Ligue 1 também fechou um acordo com o CVC Capital. Foi negociado um percentual de 13% dos direitos da Liga por um total de 1,5 bilhão de euros (R$ 8,3 bilhões).

Houve propostas também de fundos para compra de 10% da Série A da Itália. Mas clubes como Juventus, Napoli e Inter de Milão foram contra a negociação. Agora, há de novo outras conversas em curso para tentar comprar uma fatia do campeonato.

No Brasil, há fontes ligadas aos clubes das duas Ligas que reconhecem que o percentual a ser negociado é mais alto do que a Europa. Há algumas explicações dos envolvidos nas negociações para essa diferença:

1) A Liga Brasileira não foi sequer formada como produto. Neste cenário, vender um percentual para um investidor pode garantir que exista uma união entre os clubes e, de fato, uma formação de uma liga. Tanto que os acordos com Mubadala e Serengeti preveem que eles passem a ser os responsáveis por negociar os direitos da Liga. Ou seja, a previsão é de que invistam para estruturar a Liga e transformar o Brasileiro em um produto melhor, em vez de deixar essa tarefa com os clubes. A projeção é elevar as receitas até a R$ 4 bilhões, o dobro do montante atual.

2) Os clubes brasileiros estão com dívidas altas e precisam de um valor significativo de aporte para arrumarem suas contas. Assim, é necessário vender um percentual mais alto da Liga para garantir um montante suficiente para que os times formem uma liga saudável financeiramente. Assim como na Europa, haverá regras para o investimento do dinheiro dos aportes, assim como haverá um Fair Play financeiro para garantir clubes saudáveis.

3) Desde o início da negociação da Liga, no final de 2021, os clubes se fixaram em um possível investimento de US$ 1 bilhão de aportes. Esse número tornou-se uma espécie de âncora do dinheiro necessário para investimento na compra da liga. Foi feita uma avaliação do valor futuro da Liga do Brasileiro por meio de consultorias. Para se chegar ao investimento próximo de US$ 1 bilhão, o percentual a ser vendido seria de 20% pelas avaliações feitas por envolvidos na Liga. Um percentual menor iria gerar aportes menores.