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Rodrigo Mattos

REPORTAGEM

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Festejo de Neymar prometido a Bolsonaro é proibido pela regra da Fifa

25/10/2022 04h00

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Durante uma live no sábado (22), em campanha pelo apoio à reeleição de Jair Bolsonaro (PL), Neymar prometeu festejar seu primeiro gol na Copa do Mundo do Qatar fazendo o símbolo 22, em alusão ao número do candidato à presidência da República. O gesto, no entanto, é vetado pelas normas da Fifa para o Mundial. Há proibição de manifestação política com exceção de defesa de direitos humanos.

Durante a live, Neymar engajou-se de vez na campanha de Bolsonaro: disse que seria maravilhoso se ele fosse reeleito e o Brasil campeão.

Ao final de sua participação, Bolsonaro fez uma brincadeira com Neymar dizendo que queria muito que ele fizesse um "Ihuuu" na Copa, uma expressão usada pelo político. Aí depois o seguinte diálogo

"Neymar: Vou fazer o Ihuuu com a taça na mão"

Carla Cecato (apresentadora): Vamos combinar se a gente ganhar?

Bolsonaro: Se, não. Vamos ganhar?

Carla Cecato: Vamos combinar o primeiro gol que você fizer?

Neymar: Vamos ganhar.

Carla Cecato: O primeiro gol que você fizer. O gesto que você vai fazer?

(Neymar faz com os dedos o gesto de 22)

Carla Cecato: 22"

O artigo 33 do regulamento da Copa, em seu parágrafo 3º afirma: "A exibição de mensagem política, religiosa ou pessoa ou slogans de qualquer natureza ou linguagem ou forma por jogadores e oficiais (árbitros e técnicos) é proibido. A regra do futebol, em seu artigo 4º, também tem veto a mensagens políticas religiosas ou pessoais.

"Entendo que caso um jogador realize durante a partida qualquer tipo de gesto que possa ser associado a um governo ou partido político, ele estará sujeito a sofrer um processo disciplinar por parte da Fifa pela desobediência ao regulamento do Mundial que não permite este tipo de atitude", disse o advogado Eduardo Carlezzo, especialista em direito esportivo.

O advogado Leonardo Andreotti, ex-membro da procuradoria do STJD (Superior Tribunal de Justiça Desportiva) e membro da Academia Nacional de Direito Desportivo, concorda. Segundo ele, todos os regulamentos da Fifa, inclusive o estatuto, estabelecem neutralidade política, o que deve se estender a filiadas como a CBF:

"A Fifa adota como regra geral, em seu Estatuto Social e nos respectivos regulamentos, a neutralidade em termos políticos e religiosos, esperando das Associações Nacionais filiadas o mesmo comportamento em termos regulatórios, chegando a proibir expressamente a promoção de quaisquer ações desta natureza dentro ou nos arredores do estádio, seja antes, durante ou mesmo após a partida que nele seja realizada, podendo ser mitigadas, tendencialmente, apenas aquelas situações em que os temas se relacionem, a título de exemplo, com os Direitos Humanos, cada vez mais adaptáveis (e aplicáveis) ao cenário da indústria do futebol", disse ele.

Essa exceção para a defesa de Direitos Humanos vale para manifestações como as previstas contra a homofobia por capitães de times europeus. Não é o caso de apoio a um político ou mesmo a rejeição. Ou seja, um protesto contra Bolsonaro ou apoio ao opositor Luiz Inácio Lula da Silva (PT) também seria vetado.

Leonardo Andreotti foi advogado da jogadora de vôlei Carol Solberg que respondeu a processo disciplinar por falar "fora, Bolsonaro" em entrevista após um torneio na praia. Mas, primeiro, as regras do vôlei não são iguais às do futebol e, segundo, ela falou após o jogo. Solberg não foi punida com suspensão pelo STJD do vôlei, que lhe deu apenas uma multa transformada em advertência

Na Copa do Mundo, na Rússia-2018, os jogadores Xhaka e Shaquiri, da Suíça, fizeram o símbolo da águia em alusão à bandeira da Albânia em jogo contra a Sérvia. De origem albanesa, os dois respondiam a provocação do sérvio Mitrovic. Existe um conflito entre a Sérvia e Albânia. A Fifa puniu os dois jogadores suíços com multas de 10 mil euros.

Caso de fato manifeste apoio a Bolsonaro no jogo, Neymar pode responder pelo mesmo processo disciplinar dos suíços. É improvável, no entanto, que seja suspenso, assim como ocorreu com os jogadores da Suíça, que, por sinal, enfrentará o Brasil na primeira fase da Copa do Qatar.