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Rodrigo Mattos

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Boa fase de Pedro mostra como imprensa erra em diagnósticos precipitados

Pedro mostra à torcida do Vélez três dedos da mão em referência ao seu hat trick pelo Flamengo - Marcelo Cortes / Flamengo
Pedro mostra à torcida do Vélez três dedos da mão em referência ao seu hat trick pelo Flamengo Imagem: Marcelo Cortes / Flamengo

04/09/2022 04h00

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Em fevereiro, Pedro estava no centro das principais manchetes esportivas no Brasil por causa da tentativa do Palmeiras de contrata-lo enquanto não era titular absoluto no Flamengo. Em setembro, Pedro está em títulos de matérias como seríssimo candidato a estar na seleção brasileira na Copa do Mundo do Qatar por conta da sua ótima fase na equipe rubro-negra.

No meio do caminho, o Flamengo teve uma mudança no comando técnico com a saída de Paulo Sousa por Dorival Jr. Além disso, o titular Bruno Henrique se contundiu. Isso abriu espaço para o novo técnico encaixar a dupla de Pedro com Gabigol, uma das chaves para a ascensão do time carioca.

Passados esses seis meses, fica claro que a maioria dos diagnósticos da imprensa sobre o quadro vivido por Pedro naquele momento estava equivocada - a minha análise inclusive, bastante. Talvez seja a hora de reconhecer que temos acesso a só uma parte da história e é difícil tirar conclusões definitivas só com esse pedaço.

A imprensa se dividiu em duas correntes em fevereiro. Havia um grupo número de jornalistas que defendia que o jogador tinha que sair a qualquer custo do Flamengo para ter chance na Copa. E houve outro montante de jornalistas que entendia que ele tinha oportunidades, embora não fosse titular, e o problema era sua falta de rendimento.

Com a boa fase, Pedro decidiu explicar como viveu aquele momento. Já deu algumas entrevistas, inclusive para o UOL, em que contou o que se passava. Sua versão: 1) Estava, sim, chateado por não estar jogando como titular e isso afetou "seu mental", e consequentemente seu rendimento 2) Pensou em sair do Flamengo no meio do ano, mas não negociou com nenhum clube 3) Decidiu se aprimorar fisicamente e tecnicamente para se tornar mais forte.

Começo aqui pelo meu mea culpa. Na época, entendi que Pedro podia não ser titular, mas tinha muitos minutos jogados no Flamengo, o que era um fato. E que não vinha aproveitando suas chances naquele momento - sua carreira no clube sempre foi positiva. Era uma análise pragmática do que se via em campo. Essa análise foi compartilhada por vários companheiros jornalistas.

As explicações do jogador mostram que a titularidade e confiança eram essenciais para seu rendimento. Sem isso, não conseguia enxergar caminhos dentro do Flamengo. Quem analisava o jogador apenas por seus minutos em campo, como eu fiz, desconsiderava os efeitos psicológicos que fazem parte do jogo. Pedro também pontuou que, por seu estilo, tem que jogar mais na sequência.

Do outro lado, houve quase uma campanha para saída de Pedro do Flamengo. O argumento: beirava dizer que ele estava sendo mal tratado e aprisionado pelo clube, e que só teria chance na seleção fora do clube. A posição era: ou joga de qualquer jeito ou deve sair. Ainda houve quem tenha publicado que ele aceitou uma proposta do Palmeiras, o que está claro que não era verdade.

Pelas suas falas, Pedro estava insatisfeito, pensou em sair, mas isso não tinha a ver o tratamento dado a ele pelo Flamengo. E ele ficou incomodado com todas as opiniões diversas de quem queria dizer onde ele deveria jogar, como deveria seguir sua carreira.

A realidade é que, quando Pedro e Gabigol atuaram juntos com o segundo mais recuado, o jogo do Flamengo não funcionou tão bem quanto agora. E era um time frágil defensivamente. Aliás, treinadores anteriores já tinham apontado a dificuldade de recomposição neste cenário com os dois atacantes.

Foi preciso um novo técnico para achar uma forma de Pedro atuar com Gabigol - além do fator acaso da contusão de Bruno Henrique. O próprio jogador reconhece que teve de se esforçar mais na marcação. Além disso, ajustou-se para jogar em dupla, até saindo para a lateral, aprimorou-se em aspectos técnicos físicos e técnicos. Feitas todas essas adaptações, Pedro está, sim, perto da Copa e jogando pelo Flamengo, onde tem chances de gol que dificilmente teria em outro lugar.

No final das contas, Pedro precisava, sim, jogar mais como titular. Mas era necessário que se criasse condições para isso dentro do time. E, não, ele não precisava sair do Flamengo para ter chance de ir à Copa.

Dos dois lados, portanto, houve conclusões bem precipitadas e equivocadas também porque os jornalistas não tinham acesso a todas as informações. E, mesmo assim, traçaram diagnósticos definitivos. Por isso, perdeu-se muito tempo em uma discussão que, hoje, se revela bem rasa.