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Rodrigo Mattos

REPORTAGEM

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Como dono do Botafogo investirá R$ 2,2 bilhões por compra do Lyon

John Textor posa ao lado do atual presidente do Lyon, Jean-Michel Aulas, após se tornar sócio majoritário do clube francês - Olivier Chassignole/AFP
John Textor posa ao lado do atual presidente do Lyon, Jean-Michel Aulas, após se tornar sócio majoritário do clube francês Imagem: Olivier Chassignole/AFP

23/06/2022 04h00

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Lyon e o norte-americano John Textor, dono do Botafogo, anunciaram nesta semana o acordo inicial para a compra do clube francês. A operação é bem complexa já que o time tem diferentes acionistas e tipos de ações. No final, o investimento previsto do empresário é de pelo menos 413 milhões de euros (R$ 2,2 bilhões) - o valor pode ser maior a depender de algumas variáveis.

Para fazer essa conta, o blog teve o auxílio do economista César Grafietti, especialista em finanças de clubes. Todos os cálculos foram baseados no anúncio financeiro oficial do próprio Lyon sobre a operação.

Tanto a compra do Lyon quanto do Botafogo foi feito pela empresa Eagle Football Holdings LLC, de propriedade de Textor e com sede nos EUA. O empresário Jaime Salter é citado também como sócio no comunicado.

Há uma diferença bem grande no valor investido no Lyon para o Botafogo: é o quíntuplo. Textor comprou a SAF do clube alvinegro com a garantia de um investimento de R$ 400 milhões em troca de 90% das ações. Essa disparidade é bastante compreensível pela diferença do câmbio, de receita e por ser o Lyon um clube com acesso à Champions League.

Dito isso, vamos as contas. Há dois times de ações do Lyon: 1) direta de propriedade sobre o grupo 2) títulos de dívidas conversíveis em ações (Osrane) que foram feitas para pagar pela construção do novo estádio e empréstimos. Esses dois tipos de ações são fatiadas entre as empresas Pathé, IDG, Holnest e o público em geral. A Holnest é de propriedade de Jean Micheal-Aulas, que dirige o clube e será sócio de Textor.

De início, a empresa de Textor comprará 66,56% das ações do clube. O preço estipulado é de 3 euros por ação, pouco abaixo da cotação em bolsa atual. Há cerca de 59 milhões de ações no total. Assim, a Eagle Holdings pagará 117 milhões de euros por esse pacote.

Além disso, o empresário norte-americano comprará um pacote de títulos Osrane que, quando convertidos, se tornarão 69,9 milhões de ações. Por esse pacote, vai pagar outros 209,7 milhões de euros.

Há ainda o compromisso de Textor de fazer um investimento adicional de 86 milhões de euros para aumentar o capital do grupo do Lyon. Com isso, seu investimento previsto como base é 413 milhões de euros (R$ 2,2 bilhões). Com esse dinheiro, a Eagle Holdings vai deter 80% das ações do Lyon que são avaliadas em 529,5 milhões de euros.

Outros investimentos adicionais podem ser feitos por Textor como previsto no comunicado. Ele pode comprar ainda ações diluídas do público se este aceitar a oferta de 3 euros e da própria Holnest. Aliás, em associação com a Holnest, ele vai deter 88% do capital do Lyon, percentual bem parecido com o que controla no Botafogo.

Aulas, dono da Holnest, continuará como gestor do Lyon pelo menos por mais três anos. Ao final, o Lyon informa ter uma avaliação de 884 milhões de euros.

A relação entre Lyon e Botafogo será de uma comunidade, segundo as palavras de Textor. Em seu comunicado sobre o clube francês, o empresário afirmou que o Lyon é o "epicentro" e a "pedra angular" de seu projeto de investimento em clubes de futebol. É obviamente o maior investimento do empresário norte-americano no futebol. Ao colunista do Globo Esporte, Paulo Vincíus Coelho, disse que a gestão no Brasil é prioridade porque o Lyon continuará administrado por Aulas.

Grafietti analisa que a estruturação de grupos multiclubes tem sido cada vez mais comum no futebol mundial. Há uma vantagem estratégica de criar receitas em países diferentes e uma cultura esportiva padrão.

"Uma das estratégias mais interessantes para agregar valor a um clube de futebol é ser proprietário de mais de um clube em diversos mercados. O chamado Multiclub Ownership permite que se pense o futebol num conceito de escala: mesma cultura esportiva, formação padronizada, acesso a atletas e receitas de diversos países.

E há diversos modelos de atuação, como o caso do Red Bull, que utiliza o futebol para fazer marketing em vários países, com um clube mais central (o RBLeipzieg), assim como o City Football Group. E estão em desenvolvimento modelos com mais clubes competitivos, como é o caso do Textor. O 777 Partners está desenvolvendo algo dessa natureza, e em menor escala a relação Valladollid e Cruzeiro coloca o Ronaldo no mesmo perfil. Há vários grupos se especializando nesse conceito, e cada grupo encontrará um modelo que melhor se encaixe aos objetivos dos acionistas", contou ele.

A ver como Textor vai estruturar na prática o seu grupo de clubes que inclui também uma participação minoritária no Crystal Palace, na Premier League, e o controle do Molenbbek, da segunda divisão Belga.