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Rodrigo Mattos

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Mattos: Grêmio mostra que não adianta gestão racional com futebol mambembe

Diogo Barbosa é consolado após o Grêmio sofrer empate no fim contra o Corinthians - Ettore Chiereguini/AGIF
Diogo Barbosa é consolado após o Grêmio sofrer empate no fim contra o Corinthians Imagem: Ettore Chiereguini/AGIF

06/12/2021 04h00

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O padrão da gestão do futebol brasileiro é precário em todas as áreas, especialmente nas finanças. Por isso, quando um clube adota todas as premissas administrativas corretas como o Grêmio, é um oásis no deserto. A dura lição do Brasileiro-2021 é que não adianta nada se não for acompanhado de uma metodologia empresarial no futebol.

Ao final da última rodada, a agremiação gaúcha está por um fio do rebaixamento à Série B. Precisa torcer contra três times, Juventude, Bahia e Cuiabá. Se dois deles fizerem um ponto que seja, a degola gremista é certa.

É fácil usar a palavra profissionalização como clichê, é uma espécie de escudo que diz: "Estamos fazendo tudo certo". Mas é certo que o termo se aplica a como o Grêmio decidiu gerir suas finanças. Os gastos estavam sempre condizentes com as receitas, as rendas foram maximizadas com boas vendas de atletas, a base é bem produtiva, os contratos eram negociados para beneficiarem o clube. Não por acaso o Grêmio vinha apenas um degrau abaixo de Palmeiras e Flamengo em termos financeiros.

Como consequência, o Grêmio ganhou capacidade de investir e, em 2021, seria o ano de brigar com as potências. As vendas de jogadores e a economia proporcionavam uma oportunidade única. Deu tudo errado.

E por que? Bem, aí é preciso entender a diferença entre a gestão financeira e a do futebol. Ambas são complexas e difíceis de acertar. Mas a segunda, a que envolve o campo, tem elementos passionais que dificultam a adoção de uma metodologia racional. Ao contrário da gestão financeira de uma empresa, não existe fórmula a ser importada de outra área.

mO Grêmio optou por entregar o seu departamento de futebol ao grande ídolo do clube e técnico, Renato Gaúcho. Sim, ele enfrentou disputas dentro do clube por querer gastar além do que poderia. Só que as contratações, formação de elenco, estavam todos na conta do ex-treinador e sua passagem longeva pelo clube.

Foi ele que montou esse elenco com misto de veteranos como Rafinha e Diego Souza, com estrelas como Douglas Costa, jovens da base como Ferreirinha e Vanderson. Formam a base do time atual. Foi assim até a queda da Libertadores.

Renato se foi no início do ano, então, botar a campanha só na conta dele seria injusto. E aí vem a questão: qual era o Norte do futebol do Grêmio depois de sua saída? Após a queda do ex-técnico, a diretoria gremista foi atrás de Thiago Nunes, e depois Felipão, e depois Mancini. Um chute atrás do outro. Os perfis são díspares: incluem um técnico supostamente moderno, um sebastianismo, um recurso desesperado.

Com dinheiro, foi enfileirando contratações como Campaz e Borja para tentar resolver a situação. O investimento do futebol gremista foi maior do que o previsto no orçamento, e de forma equilibrada com as receitas. No papel, foi mais dinheiro até do que o gasto pelo campeão Galo em termos de salário. A ver se isso vai se confirmar no futuro porque o Atlético-MG tem um modelo peculiar de financiamento do futebol.

Instalou-se o sistema de tentativa e erro típico de quando um clube está meio perdido. Mancini, por exemplo, foi tirado do América-MG com promessa de bônus para salvar a equipe, e salário alto. Mais recentemente, no final da campanha, ouvimos as declarações surreais do vice-presidente de Futebol, Denis Abrahão, pouco antes do jogo decisivo contra o Corinthians. Em entrevista, disse que esperava apoio da torcida corintiana, uma fala que vai entrar para a história como uma daquelas maluquices que só o futebol brasileiro pode proporcionar.

O futebol não é uma ciência exata, e o que dá certo hoje pode virar retumbante fracasso amanhã. É preciso, ainda assim, implantar alguma lógica na gestão no departamento mais importante do clube, que afeta todos os clubes. Sob pena de produzir um fracasso como este do Grêmio que compromete todo o restante da gestão.