Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.
Por que o Brasil bate recorde de medalhas mesmo com menos dinheiro
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Ao final destas Olimpíadas de Tóquio, o Brasil vai atingir o seu maior número de medalhas em Jogos com 21, superando o Rio-2016. Igualou o número de ouros dos Jogos anteriores. Esse desempenho será obtido em um ciclo olímpico em que houve queda no investimento público e privado no esporte. Como se explica essa realidade?
Primeiro, dinheiro tem, sim, total relação com êxito esportivo. Medalhas custam caro, e há inclusive cálculos sobre o quanto cada país obtém em pódios em relação ao seu investimento.
O Brasil teve um aumento crescente de dinheiro público para o esporte olímpico que chegou ao seu auge nos quatro anos anteriores à Rio-2016. Em Londres, foram R$ 2,6 bilhões. Naquela Olimpíada carioca, foram investidos R$ 3,2 bilhões diretamente em treinos e preparação de atletas, segundo levantamento da "Folha de S. Paulo". Esse valor caiu para R$ 2,8 bilhões em Tóquio-2020. Os dados foram obtidos em um banco de dados da Universidade de Brasília sobre gasto público em esporte.
Na realidade, a queda de investimento é até maior. Os números totais da Universidade de Brasília - que incluem gastos com infraestrutura da Olimpíada e com quadras esportivas - mostram que o valor foi de quase R$ 10 bilhões no ciclo anterior. Agora, foram R$ 6,44 bilhões.
Houve ainda queda expressiva de patrocínios privados para Tóquio-2020. Isso não se explica somente por serem Jogos em outro país, que atraem menos atenção da mídia brasileira. A gestão desastrosa das confederações olímpicas dos recursos levou ao afastamento de parceiros privados.
Lembremos, o presidente anterior do COB Carlos Arthur Nuzman acabou preso, acusado de participar de pagamento de propina para levar as Olimpíadas para o Rio. Houve casos de corrupção espalhados por várias das confederações olímpicas importantes, como a CBDA, da natação. A realidade é que houve muito dinheiro mal aplicado nestes bilhões.
Em paralelo, os governos de Michel Temer e Jair Bolsonaro desmontaram gradualmente as estruturas esportivas: acabou o Ministério do Esporte, reduziram-se patrocínios estatais, caiu o dinheiro da lei de incentivo. O valor obtido com a loteria - Lei Agnelo Piva - que subiu porque apostou-se mais.
Neste cenário, o Brasil ter um desempenho superior ao Rio-2016 parece contraditório. Mas não é. A formação de atletas olímpicos não é construída de uma hora para a outra. A ex-presidente Dilma Roussef anunciou o seu plano de expansão do investimento olímpico, com pompa, em setembro de 2012. Só passaria a entrar dinheiro mais grosso no ano seguinte.
Era meio óbvio que três anos e meio de investimento não seriam suficientes para formar uma geração. Os atletas que surgiram e foram apoiados, em muitos casos, vieram a explodir ou se consolidar para o atual ciclo olímpico. Houve ainda o acréscimo de esportes em que o Brasil é forte, como o surfe e o skate. O plano, portanto, estava atrasado para o Rio-2016, mas teria impacto Tóquio.
Com esses números, não se pode dizer que o esporte olímpico é pobre. Tampouco é rico, diga-se. Há casos como o do arremessador de peso Darlan Romani que foi quarto na Olimpíada e tinha condições precárias de treino em um terreno baldio durante o lockdown pela pandemia de coronavírus. O caso foi revelado por um vídeo do colega Marcel Merguizzo, do Globo Esporte. Mas, sim, o Brasil tem dinheiro para formar um certo número de campeões.
O cenário para o futuro, no entanto, parece mais incerto. Não existe uma política pública estruturada para investimento em esporte do atual governo - só uma manutenção de parte do que foi feito antes. E não está claro se as confederações olímpicas vão recuperar a credibilidade perdida no último ciclo para atrair algum dinheiro privado.
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