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Rodrigo Mattos

ANÁLISE

Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.

CBF leva Série A ao charco em jogo do Flamengo e expõe necessidade de Liga

Bruno Henrique disputa bola durante partida entre Juventude e Flamengo no Brasileirão 2021 - Pedro H. Tesch/AGIF
Bruno Henrique disputa bola durante partida entre Juventude e Flamengo no Brasileirão 2021 Imagem: Pedro H. Tesch/AGIF

28/06/2021 04h00

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O jogo entre Flamengo e Juventude foi realizado literalmente no pântano: faltaram jacarés porque não são naturais de Caxias do Sul. O campo do Alfredo Jaconi claramente não tinha condições de receber uma partida de futebol por uma soma de chuva forte anterior e gramado ineficiente para drenar o local. A CBF autorizou o campo e o jogo em uma demonstração do seu descaso com o Brasileiro.

Vamos começar pelo início. A CBF tem um suposto projeto para melhoria de gramados da Série A. Trata-se de um ideia de marketing para fingir que a entidade se importa com a competição. Nunca se viu nenhuma melhoria real nos campos brasileiros: 80% deles são ruins ou meia-boca, há três gramas boas (Neoquímica Arena, Beira-Rio e Morumbi) e um restante impraticável. O próprio Maracanã, estádio onde o Flamengo joga, está com um campo bem ruim no momento, fruto de excesso de jogos.

Quando chove, o Alfredo Jaconi está na categoria do inaceitável. Chovia fraco durante a partida, mas a grama não secava. Ao repórter da TV Globo, a diretoria do Juventude informava que a drenagem estava funcionando. Passaram-se 90 minutos e a grama não secou.

Uma análise sobre a partida seria uma inutilidade porque futebol não houve. Parou uma bola na poça e o Juventude meteu um gol com Matheus Peixoto. E, de resto, pararam outras bolas em poças durante mais de 90 minutos no jogo do Brasileiro de horário exportação. Qualquer árbitro com um mínimo de bom senso teria informado que não havia condições e adiado a partida. O árbitro Thiago Scarascati fingiu que não viu.

Haverá quem diga que "o campo é ruim para os dois lados". Verdade, o jogo - se é que podemos dar esse nome - é impraticável para todos que estavam vendo. E haverá o outro chavão que dirá: "Ah, mas sempre se jogou em campos assim no Brasil". Igualmente verdade, também foi assim na Europa, é só ver o futebol na lama do campeonato inglês da década de 80. Aí eles evoluíram e criaram ligas com regras inclusive sobre o campo que induzem à prática do futebol de fato.

A Premier Legue não é uma liga mundial vista por todos porque é inglesa. Mas por que é o campeonato que reúne os melhores jogadores, nos melhores campos, com a melhor estrutura e, por isso, atrai tanta gente pelo mundo para ficar assistindo aos seus jogos

A CBF desfalca os times do Brasileiro por 18 rodadas, espreme o Brasileiro em sete meses, empilha jogos de qualquer maneira pela semana para liberar horários para sua seleção, proporciona uma arbitragem bizarra e campos horrendos. É uma entidade que boicota cotidianamente a Série A quase como um método.

Os clubes brasileiros acabaram de fundar uma liga de futebol para organizar o Brasileiro de 2022. Se o projeto de fato vai andar - há uma reunião nesta segunda-feira dos dirigentes -, é preciso que decidam que tipo de campeonato querem organizar. Para ganhar dinheiro, vender o produto para o exterior, mudar o patamar do futebol brasileiro, será preciso resolver todas essas questões, da tabela ao gramado.

A CBF enfiou o Brasileiro no charco, resta saber se os clubes querem tirar o campeonato de lá.