Topo

Rodrigo Mattos

ANÁLISE

Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.

Copa do Nordeste é uma lição para clubes da Superliga da Europa

Taça da Copa do Nordeste disputada por Ceará e Bahia neste ano - Divulgação CBF
Taça da Copa do Nordeste disputada por Ceará e Bahia neste ano Imagem: Divulgação CBF

09/05/2021 04h00

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

O Bahia bateu o Ceará, neste sábado, na final da nona edição seguida da Copa do Nordeste. A partida foi cheia de reviravoltas, lances de ataque e rivalidade entre as equipes. Rendeu a liderança de audiência na TV paga, além de bons índices ao SBT na TV Aberta na região Nordeste.

A Copa Nordeste tornou-se referência esportiva e financeira para região na última década. Sua realização só foi possível porque os clubes da região enfrentaram a entidade máxima do futebol como fizeram times da Superliga da Europa. As diferenças: a Copa Nordeste contava com o apoio popular e tinha uma justificativa esportiva.

A história de ligas no Brasil é habitualmente marcada por rupturas seguidas de reações do poder central. Em seguida, vem a acomodação. Foi assim no Clube dos 13, na revolta dos clubes de 2011, na Primeira Liga. A CBF sempre abafou o movimento.

A Liga do Nordeste foi recriada em 2001 pelas mãos da própria confederação, não era um movimento de revolta dos clubes. Veio junto com a criação do calendário quadrienal. Fez sucesso de público. Mas, depois, deixou de fazer sentido para os interesses políticos da CBF.

Quando a entidade acabou com a competição, os clubes do Nordeste foram à Justiça e impuseram a volta da competição. A CBF só aceitou porque levaria um prejuízo e teria de pagar indenização. A Copa do Nordeste só voltaria, de fato, a ser realizada com estabilidade em 2013,

Ou seja, os clubes brigaram por um direito que lhes tinha sido dado e tirado sem justificativa esportiva. Havia apoio popular, já que o público dos jogos da Copa Nordeste era crescente enquanto o dos Estaduais era decadente. E, assim, a competição gerava uma renda que não seria possível nos Estaduais. O motivo financeiro, portanto, era o ponto final.

Nesta edição, a Copa Nordeste conta com um pay-per-view com 100 mil assinantes que pode ser assinado em diferentes plataformas. Tem acordos para transmissão em TV Fechada (Fox Sports) e Aberta (SBT). E acumula patrocinadores.

Esportivamente, os times da região têm crescido e há quatro na Série A e outros cinco na Série B. Os clubes da região cada vez mais têm disputado competições internacionais como a Sul-Americana.

Ao mesmo tempo, quando a CBF capitulou na disputa com os clubes, a Copa do Nordeste foi incluída no sistema de calendário e gera vagas em fases da Copa do Brasil. Idealmente, a confederação nem deveria se meter em ligas, apenas incluir suas datas no calendário e deixar que se organizassem sozinhas.

Em comparação, a Superliga da Europa propunha uma ruptura quase total que redesenharia o futebol a partir do dinheiro. Era até meio óbvio que isso ocorresse quando capitalistas de fora do meio compraram tantos clubes, dinheiro sempre quer mais dinheiro.

Nesta sexta-feira, a UEFA fechou um acordo com nove dos 12 clubes da Superliga com o compromisso de que não farão de novo e cederão parte de suas rendas ao sistema. Juventus, Real Madrid e Barcelona ainda enfrentam problemas disciplinares. Certamente não é o capítulo final da intenção dos clubes de moldarem competições aos seus interesses.

A lição da Copa do Nordeste é que tem de haver um fim esportivo e apoio popular à ideia para que se possa construir um projeto de ruptura no sistema de competição. Ou esse está condenado ao fracasso.