Topo

Renato Mauricio Prado

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Silêncio das arquibancadas expõe técnicos que azucrinam seus jogadores

O Morumvi vazio expôs algumas falas desequilibradas de Fernando Diniz - Felipe Espindola/São Paulo Futebol Clube
O Morumvi vazio expôs algumas falas desequilibradas de Fernando Diniz Imagem: Felipe Espindola/São Paulo Futebol Clube

13/02/2021 04h00

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

Neste tresloucado Brasileirão da pandemia, os estádios sem público e os microfones próximos às áreas técnicas estão expondo uma espécie de técnico de futebol que sempre existiu, mas nunca influenciou muito no jogo, por causa do clamor da torcida, que abafava seus gritos à beira do gramado.

São aqueles "professores" que adoram azucrinar seus comandados, "cantando" as jogadas e os posicionamentos que consideram mais apropriados, lance após lance. Em condições normais, com as arquibancadas cheias, apenas os pobres laterais, que corriam próximo aos locais onde ficam os bancos de reservas, sofriam com esse tipo de treinador.

- Maricááááá, ô Maricáááá! MARICÁÁÁÁ....

Os urros esganiçados de Antônio Lopes, em São Januário, tornaram-se folclóricos, com a insistência do "delegado" em clamar pela atenção de seu lateral, no Vasco. Os demais jogadores, porém, não ouviam praticamente nada do que vociferava o treinador e o pobre Maricá transformava-se num pombo-correio, nem sempre levado a sério pelos companheiros.

Sem a torcida, o panorama é bem diferente. E esse tipo de comportamento desequilibrado começa a criar problemas sérios de relacionamento, como aconteceu, recentemente, com Fernando Diniz, useiro e vezeiro do hábito, flagrado pelos microfones humilhando Tchê Tchê, chamado de "perninha", "mascaradinho" e "ingrato", entre palavrões e ordens obscenas. E Tchê Tchê não era a única "vítima". Outros sofriam com as diatribes de Diniz, entre eles Luciano e Brenner, a dupla de atacantes titular.

No Flamengo, em escala menor, Rogério Ceni padece do mesmo mal. Ele não xinga seus atletas, mas também tem por hábito "cantar" todas as jogadas de sua equipe, o que já levou Gabigol a virar-se para ele e pedir calma. O mesmo aconteceu na partida contra o Grêmio, com Gerson, que Ceni queria que guardasse a posição, recebendo como resposta um gesto do tipo ("não enche"), seguido de uma grande jogada, em que avançou para o ataque e deu um passe preciso para Gabigol marcar um golaço.

Justiça seja feita, Diniz e Ceni não são os únicos. Apenas os exemplos mais famosos e evidentes dessa conduta pra lá de discutível. Com os estádios cheios, o problema se atenua, pois por mais que berrem, os técnicos pouco são ouvidos. Mas no silêncio das arquibancadas desertas, tal atitude desagrada a maioria dos jogadores, que preferem ter tranquilidade para fazer as escolhas em campo e, naturalmente, não gostam nem um pouco de serem expostos no estádio e nas transmissões da TV.

Afinal, quem pode achar bom trabalhar ouvindo o chefe berrar ordens sem parar em seus ouvidos? Alguém já viu Pep Guardiola ou Jürgen Klopp histéricos durante os 90 minutos, à beira do gramado? Pois é...

Rodada de fogo

Muito se fala no duelo entre Flamengo e Internacional, na penúltima rodada, mas os jogos deste domingo podem encaminhar a sorte do campeonato. Se o Colorado vencer o Vasco, independentemente do resultado de Flamengo e Corinthians, terá condições de garantir o título com uma rodada de antecipação, caso derrote o rubro-negro, em seguida.

Já se o Fla ganhar e o Inter tropeçar, tal possibilidade passa a ser do atual campeão brasileiro. São Paulo e Atlético Mineiro só voltarão a ter chances palpáveis se os dois primeiros colocados na tabela perderem. É pouco provável que aconteça, mas num torneio tão cheio de altos e baixos como este, não é aconselhável desprezar qualquer possibilidade.