A casinha e o carrossel rubro-negros
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"Proteger a casinha" sempre foi a principal preocupação de Abel, como jogador e como técnico. Zagueiro de origem, baseia a formação de seus times num esquema defensivo sólido, não abrindo mão de dois volantes, e buscando o gol adversário em contra-ataques rápidos, pelas pontas.
No sistema de seus sonhos, escalaria Bruno Henrique de um lado e Vitinho (ou Berrio) do outro, com um centroavante típico, estilo Fred ou Guerrero, atuando como artilheiro e pivô. Por que não consegue implementar tal estratégia no rubro-negro? Porque seus principais jogadores têm características bem diferentes desse perfil.
Gabigol não é um nove clássico. Mais baixo e versátil, gosta de atuar saindo da área e não prende os beques, nem é tão efetivo nas cabeçadas. Por isso, o técnico acaba preferindo deslocá-lo para a ponta, trazendo Bruno Henrique para o comando do ataque. Arrascaeta e Éverton Ribeiro tampouco são extremas rápidos, do tipo de puxar contra-ataques. E Diego é um apoiador clássico, muito mais de cadenciar o jogo do que fazer lançamentos em profundidade.
Com a bem-sucedida improvisação de Bruno Henrique como centroavante (é disparado o melhor dos reforços do Fla, neste início de temporada), Abel segue tentando adaptar os demais ao seu esquema preferido. É aí que, ao meu ver, o técnico comete um erro, que pode se tornar grave e custar o sonho da Libertadores. O sinal de alerta já foi dado em Quito, na derrota para a LDU, quando o rubro-negro teve sua pior apresentação no ano.
Dispondo de tantos jogadores talentosos e versáteis como o próprio Bruno Henrique, Gabigol, Arrascaeta, Éverton Ribeiro e Diego, o treinador precisa ter coragem de usá-los, juntos, num esquema rotativo, sem posições fixas e com muitos deslocamentos para confundir os zagueiros adversários: um autêntico carrossel.
Guardadas as devidas proporções, é assim que jogam os bem-sucedidos Manchester City, de Pep Guardiola, Barcelona de Messi e Liverpool, de Salah e Jurgen Klopp. O conceito de posição fixa é cada vez mais arcaico no futebol e o grande Flamengo de Zico (que Abel enfrentou tantas vezes como adversário), lá nos distantes anos 80, já atuava de forma semelhante, com apenas Andrade na cabeça de área e Nunes abrindo pelas pontas, para a penetração de Zico, Adílio, Tita e Lico (que nunca foram pontas clássicos e trocavam de posição o tempo todo).
Prender Bruno Henrique, Gabigol, Arrascaeta, Éverton Ribeiro e Diego em posições fixas, ocupando apenas determinadas áreas do campo tira deles boa parte do brilho individual e impede o crescimento coletivo.
Na excelente (e importante vitória) sobre o até então invicto Cruzeiro, na primeira rodada do Brasileiro, a melhor jogada rubro-negra foi a que originou o segundo gol, com Gabigol se deslocando para dentro da área e tabelando com Arão, que foi à linha de fundo e cruzou rasteiro, para a bem-sucedida conclusão de Bruno Henrique.
É desse tipo de lance que o Flamengo precisa e pode ser capaz com muito maior frequência se os ótimos jogadores do meio para a frente tiverem mais liberdade e não se preocuparem tanto em guardar posições para marcar os volantes e zagueiros adversários.
Com Gabigol preso numa ponta e Arrascaeta na outra, o Flamengo acaba condenado a sofrer com os medonhos cruzamentos aéreos do Pará (que participa da maioria dos ataques rubro-negros com sua proverbial ineficiência) e, de vez em quando, Renê. Dois laterais medíocres, autêntico calcanhar de Aquiles desse elenco milionário.
Com esses jogadores, a melhor maneira de "proteger a casinha", Abel, é ligar o carrossel lá na frente. Até porque, do jeito que está, o Fla está levando gol em praticamente todos os jogos e nem sempre consegue fazer o que precisa para compensar lá na frente.
Panorama sombrio
A primeira rodada do Brasileiro confirma o temor dos cariocas. A menos que reforcem consideravelmente seus times (com um dinheiro que não têm) Vasco (que levou uma goleada de quatro) e Botafogo (que perdeu, sem contestações, do São Paulo) passarão o campeonato tentando apenas fugir da zona do rebaixamento...
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