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Rafael Reis

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Quais são os pontos fortes e fracos dos candidatos a técnico da seleção?

Jorge Jesus, atualmente no Fenerbahce, está no páreo para sucessão de Tite - Getty Images
Jorge Jesus, atualmente no Fenerbahce, está no páreo para sucessão de Tite Imagem: Getty Images

Colunista do UOL

29/03/2023 04h00

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A derrota por 2 a 1 no amistoso contra Marrocos, no último sábado, no primeiro compromisso oficial do Brasil depois da Copa do Qatar-2022, aumentou o clamor para que a CBF contrate o mais rápido possível um novo técnico para dirigir a única seleção cinco vezes campeã do mundo.

Apesar de ainda não ter se acertado com nenhum profissional para a vaga que era de Tite até dezembro, a entidade já afirmou que gostaria de definir o próximo comandante da equipe canarinho antes da próxima Data Fifa, marcada para junho — ainda que exista a possibilidade de o interino Ramon Menezes ser mantido na função nos amistosos de meio de ano.

De olho em tudo que tem sido dito a respeito do futuro treinador da seleção nos últimos meses, o "Blog do Rafael Reis" apresenta abaixo os pontos fortes e fracos dos principais candidatos ao cargo.

CARLO ANCELOTTI
Italiano
63 anos
Real Madrid (ESP)

CBF espera por Ancelotti na Seleção Brasileira - Getty Images - Getty Images
Imagem: Getty Images

Pontos fortes: Favorito da CBF para suceder Tite, é um dos treinadores mais respeitados e admirados do futebol mundial. Dono de quatro títulos da Liga dos Campeões da Europa, é o único treinador na história que levantou o troféu de todos os cinco principais campeonatos nacionais do planeta (Inglês, Italiano, Espanhol, Alemão e Francês). Se já não fossem credenciais suficientes, Ancelotti tem fama de ser "gente boa", está mais do que acostumado a lidar com estrelas e não tem nenhum histórico de desavenças com jogadores.

Pontos fracos: O contrato que o liga ao Real Madrid só termina em junho de 2024. Ou seja, se quiser mesmo contar com Ancelotti, a CBF terá de convencê-lo a abdicar do último ano do seu vínculo com a equipe espanhola... e, claro, pagar caro por isso. Além disso, de todos os treinadores na mira da entidade, o italiano é, de longe, o mais bem remunerado. No Santiago Bernabéu, ele recebe 10,9 milhões de euros (R$ 61 milhões) por ano. Tite, o último técnico da seleção, tinha rendimentos na casa de 3,9 milhões de euros (R$ 21,8 milhões) a cada 12 meses.

JORGE JESUS
Português
68 anos
Fenerbahce (TUR)

Jorge Jesus não deve retornar ao Flamengo - GettyImages - GettyImages
Imagem: GettyImages

Pontos fortes: Nenhum treinador que passou pelo futebol brasileiro neste século foi tão aclamado quanto JJ. Sua passagem de 13 meses pelo Flamengo foi marcada por títulos (Libertadores, Brasileiro, Carioca...) e também por um nível de jogo que era admirado e invejado até por torcedores rivais. Durante a estadia no Rio, Jesus também virou sinônimo de futebol ofensivo e bonito, tudo aquilo que os amantes da equipe canarinho mais sentem falta.

Pontos fracos: Os trabalhos de JJ desde que foi embora do Flamengo derrubaram um pouco a ideia de que ele é um treinador de elite. No Benfica, ele não conseguiu ser campeão português e até foi eliminado nas fases preliminares da Champions. Com o Fenerbahce, tem apresentado resultados um pouco mais sólidos. Mesmo assim, não lidera o Campeonato Turco. Para completar, Jesus é muitas vezes visto como um treinador de personalidade difícil, até mesmo um tanto quanto arrogante, e que gosta dos holofotes voltados para si, não para o elenco.

LUIS ENRIQUE
Espanhol
52 anos
Desempregado

Luis Enrique, técnico da Espanha, agradece torcedores após derrota para Marrocos nos pênaltis - Odd ANDERSEN / AFP - Odd ANDERSEN / AFP
Imagem: Odd ANDERSEN / AFP

Pontos fortes: Dirigir a seleção brasileira não é tarefa para qualquer um. A rica história de títulos e grandes jogadores do futebol pentacampeão mundial fazem com que a torcida e a imprensa sempre cobrem demais do técnico escolhido para conduzir os jogadores que vestem a amarelinha. Só que Luis Enrique está mais do que acostumado a lidar com pressão. O cara disputou três Copas do Mundo como jogador, trabalhou em um Mundial como técnico, vestiu durante cinco temporadas a camisa do Real Madrid e teve coragem suficiente para trocar os merengues por seus históricos arquirrivais —jogou mais oito anos no Barcelona, onde encerrou a carreira. E, para completar, já ganhou uma Champions como treinador e dirigiu a Espanha no Mundial-2022.

Pontos fracos: Modelo de jogo adotado por Luis Enrique na seleção espanhola, o "tiki-taka" saiu um tanto quanto queimado da Copa do Qatar. Nos gramados do Oriente Médio, o futebol de troca incessante de passes se mostrou pouco eficaz para superar barreiras defensivas bem montadas, como as construídas por Japão e Marrocos. Além disso, algumas declarações infelizes dadas pelo treinador, como a de que os espanhóis jogavam o melhor futebol da competição, pegaram mal na opinião pública.

JOACHIM LÖW
Alemão
63 anos
Desempregado

Joachim Löw se torna o técnico com mais partidas no comando da Alemanha - EMMANUEL DUNAND / AFP - EMMANUEL DUNAND / AFP
Imagem: EMMANUEL DUNAND / AFP

Pontos fortes: Passou 15 anos dirigindo uma das seleções mais poderosas do planeta (Alemanha) e ganhou uma Copa do Mundo. Mais que isso: foi responsável direto por fazer o Brasil protagonizar aquele que provavelmente é o maior vexame da sua história (a derrota por 7 a 1 nas semifinais do Mundial-2014, em pleno Mineirão). Especialmente por esse resultado, é difícil imaginar alguém no cenário internacional que conheça tão bem os defeitos do futebol pentacampeão (e que tenha ideias valiosas de como resolvê-los).

Pontos fracos: Não fala português. E, de todos os nomes da lista, é o único cujo idioma materno está bem distante de ser compreendido pelos jogadores brasileiros. Além disso, Löw não trabalha para um patrão diferente da Federação Alemã de Futebol há 19 anos (e nem tinha uma carreira de treinador tão brilhante assim antes disso). Ou seja, sua adaptação a uma outra cultura futebolística e exigências diferentes das quais está habituado é uma completa incógnita.

ABEL FERREIRA
Português
44 anos
Palmeiras (BRA)

Abel Ferreira, técnico do Palmeiras, em jogo contra o Santos pelo Paulista - Marcello Zambrana/AGIF - Marcello Zambrana/AGIF
Imagem: Marcello Zambrana/AGIF

Pontos fortes: É o mais brasileiro dos treinadores estrangeiros na mira da CBF. Abel já está na quarta temporada por aqui e transformou o Palmeiras em uma máquina de empilhar títulos. Só na sua gestão, a equipe alviverde já conquistou sete troféus (dois da Libertadores, prioridade máxima do clube). E o oitavo pode ser levantado na próxima semana, já que seu time enfrenta o Água Santa na decisão do Campeonato Paulista. Competitivo ao extremo, o português consegue tirar o máximo dos seus jogadores e se adaptar aos mais variados tipos de adversário.

Pontos fracos: Ao contrário de Jorge Jesus, que conquistou até mesmo os torcedores adversários enquanto esteve no Brasil, Abel só é mesmo idolatrado pelos palmeirenses. Dois fatores ajudam a explicar esse sentimento. O primeiro é que seu time vence (e como vence), mas raramente dá espetáculo. O futebol proposto por Abel é mais pragmático do que fantasioso e não mexe com o coração do torcedor brasileiro. O segundo é que o português criou uma imagem enorme de chato desde que chegou ao Brasil. Abel reclama demais da arbitragem e vive sendo expulso por não se comportar bem à beira do campo. O fato de ser "estouradinho", aliás, minou suas chances de ser contratado por outra seleção, a portuguesa.

FERNANDO DINIZ
Brasileiro
48 anos
Fluminense (BRA)

Fernando Diniz, técnico do Fluminense, gesticula durante clássico contra o Botafogo - Thiago Ribeiro/AGIF - Thiago Ribeiro/AGIF
Imagem: Thiago Ribeiro/AGIF

Pontos fortes: Ao contrário dos outros nomes da lista, é brasileiro... e esse é um fator que historicamente pesa na definição do técnico da seleção. Além disso, é defensor do jogo bonito e normalmente monta times que buscam se impor sobre os adversários e controlar o ritmo de jogo. Além disso, como ainda não trabalhou nos clubes de maior orçamento do país, tem um amplo conhecimento do mercado interno e pode ajudar na identificação de novos valores para serem observados pela seleção.

Pontos fracos: Diniz convence, mas nem sempre vence. Aliás, seu currículo de títulos é bem modesto para alguém que almeja treinar uma das camisas mais pesadas do futebol mundial: foi duas vezes campeão da Copa Paulista (com Votoraty e Paulista de Jundiaí), venceu uma terceira divisão do Estadual de São Paulo e acabou de faturar a Taça Guanabara com o Fluminense. Pelo histórico da sua carreira, ganhar até parece um mero detalhe.