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Rafael Reis

REPORTAGEM

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Como funciona a rede de olheiros pela Europa que montou seleção de Marrocos

14/12/2022 04h20

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O lateral direito Achraf Hakimi nasceu na Espanha. O volante Sofyan Amrabat e o meia-atacante Hakim Ziyech são da Holanda. Os três pilares técnicos de Marrocos tinham totais condições de jogar pelos seus países de origem, mas escolheram defender a seleção semifinalista da Copa do Mundo.

O sucesso da equipe africana, que joga contra a França, às 16h (de Brasília), em Al-Khor, em busca de uma ida inédita para decisão do Qatar-2022, é resultado do ótimo trabalho dentro de campo feito pelo técnico Walid Regragui, mas também de um intenso programa mantido por sua federação.

Marrocos conta há mais de uma década com uma rede de observadores espalhados por países de intensa imigração marroquina, como Espanha, Holanda, Bélgica e França, encarregados de identificar, monitorar e se aproximar de jogadores aptos a defender sua seleção.

A ideia está longe de ser uma exclusividade dos Leões do Atlas. Praticamente todos os países importantes do primeiro escalão da África realizam algum tipo de trabalho desse tipo para conseguir atrair os filhos e netos da sua diáspora, especialmente, pela Europa.

A diferença dos semifinalistas da Copa-2022 para a maior parte dos seus companheiros de continente é que eles não se limitam a buscar jogadores prontos para jogar pela seleção principal. O monitoramento dos descendentes de marroquinos começa muito cedo, ainda no fim da infância ou no começo da adolescência.

Hakimi, por exemplo, tem contato com funcionários da FRMF (Real Federação Marroquina de Futebol) desde que tinha 11 anos e estava começando sua trajetória no centro de formação de jogadores do Real Madrid.

Apesar de ter recebido inúmeros convites para jogar pela Espanha, o hoje lateral do Paris Saint-Germain optou, ainda na categoria sub-20, por defender "quem já o acompanhava de perto desde os primeiros chutes".

Amrabat, atualmente na Fiorentina, tem uma história bastante parecida. A diferença é que ele até chegou a jogar pela seleção da sua terra-natal, a Holanda, na categoria sub-15. Mas, com 16 anos, decidiu que só passaria a aceitar convocações de Marrocos.

É graças a esse intenso trabalho feito por seus observadores, que passa também por convencer os descendentes de imigrantes que jogar pela terra dos antepassados é uma boa ideia profissional e uma forma de manter a conexão com suas raízes, que a seleção marroquina possui hoje uma seleção internacional.

Menos da metade dos 26 convocados por Regragui para a Copa nasceram dentro do território marroquino. Dentre os 14 atletas "importados" pela seleção, há gente oriunda de Bélgica, França, Canadá, Itália e das já citadas anteriormente Espanha e Holanda.

É com essa diversidade toda que Marrocos se tornou a primeira seleção africana a superar a barreira das quartas de final e terminar um Mundial entre os quatro primeiros colocados. Para chegar até lá, a equipe de Regragui foi primeira colocada em um grupo que tinha Bélgica, Croácia e Canadá e eliminou nos mata-matas duas potências europeias, primeiro a Espanha e depois, Portugal.

A partida entre franceses e marroquinos definirá a segunda vaga na decisão de domingo, a partir das 12h (de Brasília). O primeiro finalista, a Argentina, foi conhecido ontem, com a vitória sobre a Croácia por 3 a 0.

A Copa do Qatar é a primeira disputada no Oriente Médio e teve a participação de sete das oito seleções que já levantaram a taça. Pela segunda edição consecutiva, a tetracampeã Itália não conseguiu a classificação e foi baixa.

O torneio está sendo jogado no fim do ano, e não no seu período habitual (meses de junho e julho), por causa do calor que faz no país sede durante o auge do verão no Hemisfério Norte.

Essa é a última edição da competição da Fifa com o formato que vem sendo utilizado há 24 anos, desde a França-1998. A partir do Mundial seguinte, organizado por Estados Unidos, Canadá e México, serão 48 participantes na disputa pelo título.

O UOL News Copa fala sobre a decisão de vaga entre França e Marrocos, o show de Messi, a Argentina na final, a invasão marroquina no Qatar e mais! Confira: