Topo

Rafael Reis

REPORTAGEM

Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

Técnico e dirigente de time feminino denunciado por orgia são suspensos

Miguel Afonso foi suspenso por 35 meses por comportamento sexual inadequado - Divulgação
Miguel Afonso foi suspenso por 35 meses por comportamento sexual inadequado Imagem: Divulgação

05/11/2022 04h00

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

O treinador Miguel Afonso e o diretor esportivo Samuel Costa, que até o fim de setembro trabalhavam no futebol feminino do Famalicão, time da primeira divisão portuguesa, foram suspensos por conduta sexual inadequada cometida contra jogadoras que estavam sob sua supervisão.

Os dois casos se tornaram públicos há pouco mais de um mês e geraram uma onda de críticas ao alto comando do clube por supostamente terem "passado pano" para os antigos funcionários. Houve até mesmo uma denúncia de que atletas da equipe teriam participado de uma orgia com integrantes da comissão técnica e dirigentes.

Na decisão emitida na última quinta-feira, o Conselho de Disciplina da Federação Portuguesa decidiu suspender Afonso de qualquer atividade futebolística por 35 meses e lhe aplicar uma multa de 5.100 euros (pouco mais de R$ 25 mil). Já Costa pegou um gancho de 18 meses e terá de pagar 3.060 euros (cerca de R$ 15 mil).

Por enquanto, as punições são exclusivas da esfera esportiva. No entanto, o teor das investigações conduzidas pela entidade que gerencia a modalidade na terra de Cristiano Ronaldo será enviada a autoridades que podem abrir também processos na Justiça comum.

Segundo relatório da FPF, o treinador cometeu cinco infrações disciplinares qualificadas como muito graves, entre elas práticas de abuso e assédio sexual contra jogadoras que, na época, tinham menos de 21 anos.

A investigação concluiu que Afonso questionou a orientação sexual de atletas por quem estava interessado, trocou mensagens por redes sociais pedindo o envio de nudes e até acariciou sem consentimento as coxas e a virilha da vítima.

Já o dirigente, ainda de acordo com o inquérito da Federação Portuguesa, cometeu três infrações também consideradas muito graves, que incluem ofensas homofóbicas, assédio moral e importunação sexual.

Trocas de mensagens levadas à público pela entidade mostram Costa conversando com um outro cartola (de identidade não revelada). Nesse bate-papo, o português diz que gostaria de "fazer muito oral" em uma jogadora subordinada a ele e reclama das atletas homossexuais usando termos como "bicharada", "são mesmo gays", "fufalhada", "lesbiquices", "é tudo lésbicas".

Os casos agora punidos pela federação não aconteceram dentro do Famalicão, mas sim nos trabalhos anteriores do técnico (Rio Ave) e do diretor (Vitória de Guimarães).

A questão é que o clube foi acusado de já ter conhecimento desse comportamento de Afonso e Costa no momento em decidiu contratá-los, no começo desta temporada.

Pouco depois, em setembro, os episódios ficaram internacionalmente conhecidos depois de serem relatados pelo jornal "O Público". Foi só nesse momento que a agremiação decidiu primeiro suspender e depois demitir os profissionais suspeitos de conduta sexual inadequada.

Aproveitando que esses casos vieram à tona e para mostrar que a forma problemática como o comando do Famalicão trata episódios de assédio e abuso sexual no futebol feminino uma ex-jogadora do clube utilizou uma plataforma da Federação Portuguesa para denunciar que oito atletas do elenco participaram de uma orgia com membros da comissão técnica e dirigentes.

Ainda não está claro se as integrantes da equipe foram de alguma forma coagidas a terem relações sexuais com seus superiores (treinadores e dirigentes) ou se participaram da suposta festa por livre e espontânea vontade.

O que se sabe até o momento é que a denunciada orgia, agora investigada pela federação e pela polícia, teria acontecido durante a temporada passada, em um apartamento que é locado pelo clube.

O Federação Portuguesa ainda não se pronunciou sobre esse caso em específico, o que deve acontecer apenas após o encerramento das investigações. Caso seja constatado que a festa sexual realmente aconteceu e que foi decorrente de algum crime, um inquérito será instaurado.