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REPORTAGEM

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Ouvidor da polícia abre procedimentos após denúncias contra PM em estádios

26/01/2023 10h16

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A Ouvidoria da Polícia do Estado de São Paulo abriu procedimentos de acompanhamento da apuração de dois casos em que a PM é acusada de praticar abusos contra torcedores em estádios paulistas.

Um dos episódios aconteceu em Ribeirão Preto, no último dia 19, no jogo entre Botafogo x Palmeiras, pelo Paulistão. Policiais Militares agiram para retirar uma faixa com a inscrição "Sem Anistia" [pedido de punição para terroristas que atacaram as sedes dos Três Poderes]. A manifestação foi promovida pelo coletivo Resistência Caipira - Antifa do Botafogo-SP.

Imagens postadas no perfil do grupo no Instagram mostram policiais militares dando golpes de cassetetes. Sangrando, um torcedor diz ter sido agredido enquanto tentava dialogar com os policiais.

O outro caso é o do integrante da Gaviões da Fiel que acusa a PM de impedi-lo de entrar com suas muletas no setor de visitantes do estádio Major Levy Sobrinho, em Limeira, no último dia 21, também em jogo do Paulistão. Ele assistiu à partida se equilibrando em uma perna.

"Pedimos informações para as polícias. No caso de Ribeirão Preto, oficiamos a corregedoria da Polícia Militar, pedimos afastamento dos policiais militares dos trabalhos operacionais [enquanto acontece a apuração], pedimos imagens das câmeras corporais usadas pelos policiais e enviamos o link da publicação no Instagram para que eles possam visualizar as agressões e o que ocorreu lá", afirmou Claudio Aparecido da Silva, ouvidor da polícia de São Paulo.

"Para a Polícia Civil, pedimos informações sobre os procedimentos instaurados já que um dos torcedores [do Botafogo] foi gravemente agredido", completou o ouvidor.

No caso de Milton Leandro Fiani de Pina, o corintiano que não conseguiu entrar no estádio com suas muletas, foi enviado para a corregedoria da Polícia Militar um pedido de informações sobre a postura do policial em questão.

"Também pedimos informações sobre o fato de o policial ter solicitado ao torcedor que fosse para um setor que é quase que totalmente ocupado pela torcida adversária [onde estava a área destinada para pessoas com deficiência], sendo que, se o torcedor tomasse essa atitude, ele poderia ter colocado a sua integridade em risco. A partir dessas respostas, a gente vai encaminhando outras questões", disse Silva.

"A corregedoria não faz investigações próprias, ela acompanha as apurações das polícias. Lógico, na medida do possível, se a gente perceber que tem algum equívoco no decorrer da apuração, a gente vai sugerindo correções", explicou o ouvidor.

"Eu não sou policial, não passei por nenhum treinamento da polícia, então, minha visão é externa. O policial jamais poderia ter agredido o torcedor porque ele abriu uma faixa no estádio, seja lá qual faixa for. Mesmo que essa faixa tivesse crítica à corporação policial porque nós vivemos numa democracia. O torcedor não fez nenhum ato fora da ordem, não atacou ninguém, não agrediu ninguém, não desobedeceu nenhuma ordem do policial. Isso não aconteceu pelo que a gente percebe das imagens do ocorrido", opinou o ouvidor.

Silva, que é profesor de educação física, também critica a atuação da Polícia Militar em relação ao corintiano PCD. "No caso do torcedor com deficiência, houve total falta de bom senso. A gente não pode tratar uma pessoa com deficiência dessa forma. E faltou procedimento operacional padrão que é garantir as boas condições de proteção para as pessoas, além da sugestão de ir para um setor no qual só estava a torcida adversária, o que também oferecia risco para esse torcedor", comentou.

Trecho de nota emitida pela Polícia Militar sobre o que aconteceu em Limeira diz que "integrantes da torcida organizada Gaviões da Fiel tentaram adentrar ao estádio Maj. José Levy Sobrinho pelo portão 6 (torcida visitante) utilizando muletas. Esclarecemos que os torcedores foram alertados sobre os requisitos de permanência no setor em questão e que estava sendo disponibilizado, pelo promotor do evento, um camarote apropriado e com todas as condições de segurança necessárias para atender às necessidades dos PCDs, o que foi recusado".

Em relação ao episódio em Ribeirão Preto, entre outras alegações, comunicado da PM aponta que "uma equipe policial foi acionada no posto de comando informando que uma faixa que estava sendo exibida pela Torcida organizada do Botafogo estava causando animosidade e grande risco de enfrentamento entre outros torcedores que não concordavam com seus dizeres. Diante dessa situação a equipe policial se deslocou até o local, contudo foi hostilizada pelos torcedores que a portavam, ocorrendo resistência e desobediência por parte de alguns torcedores mais exaltados. Dessa forma foi necessário o uso de força física moderada a fim de promover segurança aos participantes do evento e aos policiais".