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OPINIÃO

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Neymar escolhe pior caminho ao se vitimizar em conflito com a Nike

Neymar durante trabalho da seleção na Granja Comary - Lucas Figueiredo/CBF
Neymar durante trabalho da seleção na Granja Comary Imagem: Lucas Figueiredo/CBF

30/05/2021 12h02

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Neymar escolheu o pior caminho ao se vitimizar no conflito com a Nike. Mesmo que suas acusações de que a empresa distorce a história sobre o fim do contrato entre ambos sejam verdadeiras, sua opção coloca em segundo plano o mais importante: a funcionária da empresa que teria sofrido abuso sexual por parte dele.

A Nike diz que rescindiu o contrato porque Neymar se recusou a colaborar com a investigação interna feita pela empresa. O jogador afirma que essa versão é mentirosa.

O atleta e seu estafe não percebem o tamanho do absurdo que é querer roubar o papel de vítima de uma mulher que afirma ter sofrido abuso sexual.

A primeira postagem de Neymar no Instagram sobre o assunto deixa clara a tentativa de vitimização. Ele reclama que não teria tido o direito de se defender. Também se queixa de que a Nike teria distorcido a relação comercial e quebrado a regra de não falar sobre os contratos. Isso enquanto ele é orientado a continuar sem revelar detalhes contratuais.

O trecho a seguir da postagem do jogador resume essa vitimização:

"Não tive sequer oportunidade de conversar, saber os reais motivos da sua dor. Essa pessoa, uma funcionária, não foi protegida. Eu, um atleta patrocinado, não fui protegido. Até quando? Ironia do destino continuarei a estampar no meu peito uma marca que me traiu. Essa é a vida! Sigo firme e forte acreditando que o tempo, sempre esse cruel tempo, trará as verdadeiras respostas".

Neymar não parou para pensar que a funcionária que, segundo a Nike, falou internamente sobre o suposto caso, está infinitamente mais angustiada e sofrendo mais do que ele?

Com suas palavras, o jogador da seleção brasileira reforça a imagem de menino que reclama de tudo e se sente o centro do mundo. Um cara que embarca na infeliz frase de Eduardo Gaspar, ex-coordenador de seleções da CBF e que afirmou um dia: "é difícil ser Neymar". Não, difícil é uma mulher denunciar um abusador.

Toda denúncia precisa ser provada. Neymar, nem ninguém, pode ser condenado sem provas. O caso foi investigado internamente pela Nike, que afirma ter sido inconclusivo o resultado das investigações.

O que o astro do PSG deveria demonstrar publicamente é seu interesse em esclarecer o assunto e sua preocupação com o bem-estar da funcionária da Nike.

Porém, além de se vitimizar, ele flerta com a lógica do abusador ao escrever no mesmo texto que "os fatos podem ser distorcidos porque as pessoas os enxergam de ângulos diferentes". Tal afirmação remete a uma surrada e descabida desculpa. A de que o abusador, talvez, tenha interpretado as reações da vítima de modo errado.

Mais uma vez, num momento de dificuldade, Neymar não consegue mostrar que amadureceu. Pelo contrário. Exibe com orgulho seu lado infantil (todos temos o nosso) ao cobrir com emojis as marcas da Nike em seu uniforme da seleção em fotos no Instagram. Ele não entendeu que nada nesse caso é motivo para fazer graça?