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Casagrande

REPORTAGEM

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Há 22 anos, tive um dos dias mais tristes da minha vida

Colunista do UOL

14/06/2023 04h00

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Nessa terça-feira (13), fez 22 anos de um dos dias mais tristes da minha vida.

Numa segunda-feira, 11 de junho de 2001, eu tinha horário marcado para me encontrar com meu amigo Marcelo Fromer às 22h na Rádio Transamérica para a estreia do nosso programa chamado Piloto, que iria até a meia-noite.

A ideia do nome foi dele porque nós não teríamos roteiro, falaríamos sobre o assunto que "pintasse" na hora e tocaríamos músicas dos nossos CDs. É isso mesmo. A gente levava CDs da nossa casa para tocar porque a ideia era viajar nos estilos e épocas.

Então, como seria sempre uma incógnita, ele deu a ideia do programa se chamar Piloto como se fosse sempre um programa teste.

Naquela noite, me encontrei com os outros participantes, que eram o André Henning, que hoje é um ótimo narrador do canal TNT Sports, e o Rui Bala, que era um locutor muito experiente da própria rádio Transamérica.

E ficamos na rádio esperando a chegada dele e estranhamos porque demorava, e o Marcelo era pontual, mas por ser uma segunda pensamos no trânsito, mas que chegaria em breve.

Mas o tempo foi passando e nada de ele chegar, mas em nenhum momento pensamos em algo ruim e ficamos durante o programa tirando uma onda dele:

- "E ai Marcelo, se perdeu?"
- "Esqueceu o violão?"
- "Fica tranquilo que vamos até a meia-noite".

O tempo passou, o programa acabou e nada do Marcelo. Eu e o André fomos para a padaria Real, ao lado da MTV, que era um point da moçada descolada da época e portanto estávamos lá todos os dias.

Meu celular tocou e era o Nando Reis, que me falou o seguinte: "Casão, você viu o Marcelo?".

A pergunta foi essa porque desde 1994, quando tivemos um programa juntos eu, Marcelo e Nando com a Astrid Fontenelle, comandado lá na MTV, eu me encontrava todos os dias com ele e era a noite da nossa estreia.

Aí eu respondi: "Pô, Nando, ele não apareceu no programa e não conseguimos falar com ele".

Nesse momento, o Nando me pediu um favor porque os Titãs estavam no Rio terminando um novo disco, e um cara tinha sido atropelado, estava no Hospital das Clínicas e poderia ser ele. O cara no hospital tinha uma tatuagem do "Super Mouse", que era um desenho animado com esse herói.

Bom, fomos eu e o André Henning. Quando chegamos, fui até a porta da emergência, que estava fechada, mas o médico de plantão abriu a porta e me deixou entrar. Foi quando eu vi que se tratava do Marcelo Fromer.

Saí, liguei para o Nando Reis e confirmei que era ele mesmo. Então, me pediu para ficar lá até as pessoas começarem a chegar para me ajudar.

Me lembro bem que o primeiro a chegar foi o Serginho Groisman e foi a melhor pessoa que poderia chegar porque eu, Marcelo e o Serginho, às vezes, saíamos para jantar e conversar.

Mas até aí eu estava tranquilo, apesar de saber da gravidade do caso, como o médico me falou.

Na terça-feira, dia 12/6, começaram os dias que classifico como dois dos mais tristes em toda a minha vida, porque ficamos todos no hospital até de madrugada orando, chorando e esperando uma boa notícia.

Quando falo que ficamos é porque todos os amigos foram para aquele hospital que ficou cheio de gente, com VJs da MTV, músicos, atores e atrizes, familiares, jornalistas. Enfim, todas as pessoas que tinham muito carinho pelo Marcelo.

Eu voltava para casa 2 ou 3 da manhã e às 10h já estava no hospital novamente. Na quarta-feira (13), num determinado momento, a irmã dele, Cuca Fromer, me chamou e falou assim: "Casão, você quer ver ele né?".

Respondi que sim, e ela falou 'vem comigo'. Fomos para o lugar no hospital, e o Marcelo já estava pronto praticamente para partir. Pouco tempo depois, foi decretada a sua morte.

Foi horrível para todos nós, que tínhamos esperança que daria tudo certo. Fiquei muito mal, como todo mundo naquele momento.

No outro dia pela manhã, foi a cerimônia para despedida de todos, uma grande tristeza.

Coluna do Casagrande - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Imagem: Arquivo pessoal

Mas me diverti muito com ele. Durante a Copa do Mundo da França, em 1998, tínhamos um programa juntos no Sportv chamado Bistrô Brasil, que era sobre cultura francesa. Foi superlegal, porque pegamos a Féte de la Musique, que se comemora no dia 21 de junho, sendo que em Paris tinha uma banda tocando com estilos diferentes espalhados por todos os lugares.

Curtimos muito aquela Copa. Fomos nós dois que inventamos programas de rádio FM que falava de rock e futebol em 1996. Hoje, quase todas as rádios têm um programa desse tipo. Começamos na rádio 89 FM, a rádio rock de São Paulo, com o nome Rock Gol.

Íamos em jogos de futebol juntos. Eu ia em quase todos os shows dos Titãs aqui em São Paulo e cheguei a ir em um show em BH no sábado, um dia antes de Atlético-MG x Corinthians. Levei todos eles para o show do intervalo e foi superdivertido.

Bom, quero terminar dizendo que fui um privilegiado por ter conhecido e convivido com o Marcelo Fromer, que se transformou em umas das cinco pessoas mais importantes que conheci sem ser familiares e amigos de infância.

Pessoas que conheci durante a vida, em tempos diferentes, lugares e estilos distintos. Por isso, as minhas memórias me levam só aos momentos marcantes, divertidos e criativos das nossas vidas.

Sei que ele tinha o mesmo sentimento, consideração e admiração que eu tinha por ele e isso fez de nós uma dupla de amigos felizes.