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Falta de sensibilidade dos dirigentes com tragédia no RS é revoltante

O futebol continua dando as costas aos diversos problemas sociais que assolam o Brasil.

O estado do Rio Grande do Sul foi vítima de uma das maiores catástrofes climáticas já vivenciadas no Sul do país. As autoridades parecem esquecer que se tratam de três enchentes seguidas no estado, nas quais a população perdeu tudo em cada uma delas.

A situação é realmente desesperadora, e todo o Brasil se mobiliza para arrecadar doações de alimentos, roupas, medicamentos, água e tudo o que o povo gaúcho necessita neste momento. Mas o carinho, o afeto e o amor não se arrecadam: são sentimentos que se sentem, se transmitem, se desejam, e são tão importantes quanto os mantimentos.

A CBF discute soluções, e há a possibilidade de os times do Sul treinarem em outros estados para dar continuidade ao campeonato. A falta de sensibilidade dos dirigentes do futebol brasileiro é revoltante.

A questão não é onde treinar e jogar, mas sim a dor, a preocupação e a aflição dos jogadores que têm amigos e familiares no meio dessa tragédia. A CBF parece acreditar que uma mudança geográfica resolverá tudo, que se Internacional, Grêmio e Juventude forem para outra região, a catástrofe terá fim. Ora, a própria CBF é uma catástrofe em termos de princípios, conceitos e valores.

Para eles, o que importa é a bola rolar, as datas serem cumpridas e as rodadas acontecerem. E aqui entra novamente a omissão dos atletas do futebol: a única opinião clara, direta e importante foi do meia Giuliano, do Santos Futebol Clube, que questionou: "Um gol paga o preço de uma vida?". Uma visão muito mais ampla e solidária do que o egoísmo majoritário no futebol.

Essa frase também poderia ter sido dita na época da pandemia da covid-19. Mas, em vez disso, a CBF, junto com o governo federal da época, trouxe a Copa América para o Brasil, num momento em que o país registrava 3.400 mortes por dia. E a seleção brasileira escreveu um manifesto de que ninguém se lembra, um texto inócuo lido pelo "capitão" Casemiro.

Vamos ver quantos jogadores seguirão a coragem do Giuliano de expressar suas opiniões. Uma região do país está completamente submersa, e a CBF discute maneiras de dar continuidade ao campeonato brasileiro.

Quem fizer um gol vai comemorar o quê? A felicidade de um simples gol será maior do que a tristeza de uma tragédia? Quanto valem hoje em dia o amor, a solidariedade e a filantropia em comparação com a bola rolando?

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Quais são os verdadeiros princípios e valores do nosso futebol? O futebol deveria parar, não porque Grêmio, Inter e Juventude não conseguem treinar, jogar em seus campos e viajar, mas em solidariedade aos brasileiros gaúchos.

Por que não fazer dois jogos entre uma seleção paulista e uma seleção carioca, um jogo no Maracanã e outro no Allianz Parque, com a renda destinada ao Rio Grande do Sul? O campeonato deveria ser suspenso, e jogos de seleções estaduais realizados para arrecadar doações para ajudar as pessoas do Sul.

Seleção baiana x seleção cearense.
Mineira x Paulista.
Carioca x Mineira.

E assim usar o tempo do campeonato parado para colocar o futebol a serviço da filantropia.

A CBF deveria estar pensando no que pode fazer, além de enviar dinheiro, para colaborar com o Rio Grande do Sul. Até quando esperar?

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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