Topo

Casagrande

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Com achados de DNA do Daniel Alves, não sobra muito espaço para dúvidas

Daniel Alves em jogo da seleção brasileira contra Camarões pela Copa do Mundo 2022 - Foto Olimpik/NurPhoto via Getty Images
Daniel Alves em jogo da seleção brasileira contra Camarões pela Copa do Mundo 2022 Imagem: Foto Olimpik/NurPhoto via Getty Images

Colunista do UOL

11/02/2023 08h00

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

DNA, além de ser um resultado científico, é um termo usado no futebol quando o time joga com a cara do seu treinador.

Quantas vezes já ouvimos dizer que tal time tem o DNA do seu treinador? O time do Palmeiras tem o DNA do Abel Ferreira e o Fortaleza tem o do Juan Pablo Vojvoda, e são as únicas duas equipes do Brasil que realmente têm a cara de quem comanda.

Esse termo mostra o que é seu ou que foi você que fez algo. E esse é o novo sério problema do Daniel Alves.

Os jornais "El Periódico" e "El Mundo" trazem as informações do laudo entregue à polícia que confirma a presença do sêmen do Daniel Alves no corpo da garota que o acusa de estupro, nas roupas dela e também no banheiro da boate onde teria ocorrido o crime.

A cada dia a situação de Daniel está mais crítica. E depois que acharam o seu DNA no corpo da garota, não tem muito o que se discutir, né?

Vou repetir que o grande problema de uma boa parte dos jogadores brasileiros (não generalizo de forma alguma) é a arrogância e a prepotência, acompanhadas de uma grande soberba.

Esse conjunto faz a pessoa se sentir superior, achar que está acima do bem e do mal, e que pode fazer tudo, porque de uma forma absurda elas se sentem como deuses.

Só que quem age dessa maneira não consegue perceber que "nem sempre se pode ser Deus", como cantam os Titãs.

Nunca vou deixar de lembrar à sociedade que o Robinho é condenado pela Justiça Italiana a nove anos de prisão pelo crime de estupro e debocha das pessoas e da Justiça andando livremente pelas praias, se divertindo, jogando futevôlei, tirando fotos e rindo como se nada tivesse acontecido.

Rindo da cara da sociedade brasileira e das mulheres, principalmente daquelas que já sofreram algum tipo de abuso, assédio, estupro e todos os tipos de violência.

Na Espanha a lei é diferente, e com todos esses indícios, provavelmente "Dani Alves", o que transcende o futebol, como disse o filósofo e amigo Tite, será punido.

Mesmo com tudo contra não se pode julgar, até porque não é o nosso papel, mas devemos sim debater o tempo todo essa situação.

Os jogadores e ex-jogadores continuam fingindo que nada aconteceu, no caso Robinho, ou que nada está acontecendo (no caso Daniel), assim como uma boa parte da imprensa esportiva deixa esse assunto de lado.

O compromisso que temos é com a sociedade e com a verdade, informando e debatendo assuntos relevantes, nesses casos de violência contra a mulher.

Os casos Robinho e Daniel deveriam ser debatidos todos os dias, em algum momento, nos canais que falam de esporte durante as 24 horas diárias.

Nessa mesa de debate deveria ter homens e mulheres, porque nós, homens, precisamos entender de uma vez por todas que "não é não", sempre.

O homem tem uma grande dificuldade de aceitar o não de uma mulher, por causa do machismo estrutural que existe na sociedade.

Nos casos de estupros cometidos por pessoas públicas e por chefes, a chegada é através da imposição pelo poder. E é sempre bom repetir as perguntas arrogantes e nojentas que esses caras soltam na hora do assédio.

"Você sabe com quem está falando?"
"Quem é você para me dizer não?"
"Você sabe quem sou eu?"

Enfim, essa é a pressão que as mulheres sofrem na hora de um assédio, além das ameaças quando o homem tem cargos superiores numa empresa ou qualquer outro trabalho.

"Se você falar para alguém será demitida e não trabalhará mais em nenhum lugar"
"Você não é ninguém e será a sua palavra contra a minha, que sou influente"
"Quem irá acreditar em você?"

Temos que deixar claro que sabemos como age esse tipo de pessoa. Nós, homens, temos que mostrar com mais veemência a nossa indignação.

É como a luta antirracista: não adianta ser só contra o racismo, é preciso ser antirracista. Portanto, não adianta só falar que é nojento o crime de estupro e que está sempre ao lado das mulheres. Precisa cobrar leis mais fortes, precisa discutir sem ficar aliviando por ser um ex-jogador, precisa se mostrar indignado e gritar por punições juntos com as mulheres. Precisa agir!

Precisamos expor quem comete esse crime hediondo. A imprensa precisa ter esse papel, porque não é só informar. Precisa discutir, opinar, tomar posição, porque o silêncio é a omissão. E, em um caso de estupro, é como no mínimo não ligar muito para isso.

Precisa se colocar no lugar da vítima e da família dela, e imaginar como seria a sua reação se fosse uma mulher da sua família.

Se colocar no lugar do outro se chama empatia, e isso está faltando muito na nossa sociedade. Principalmente nos últimos quatro anos, com o governo Bolsonaro tendo zero empatia por todos, incluindo os "patriotas manipulados".

Voltando ao caso Daniel Alves, não existe uma testemunha de defesa dele. Todas as pessoas que foram ouvidas confirmam a versão da garota, as imagens e os exames também.

Infelizmente tudo leva a crer que ele realmente cometeu o crime de estupro, mas precisamos esperar o julgamento para realmente não sermos injustos com ele.

E nunca esquecer: a vítima é a menina, e não o Daniel Alves.