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Antero Greco

Futebol e os ídolos para consumo imediato

"Pressa por criar heróis fez com que Gabigol, 23, fosse comparado a Adriano, de raízes na Gávea" - UESLEI MARCELINO/REUTERS
"Pressa por criar heróis fez com que Gabigol, 23, fosse comparado a Adriano, de raízes na Gávea" Imagem: UESLEI MARCELINO/REUTERS

21/02/2020 04h00

Pessoal, o papo de hoje é a respeito de ídolos no futebol. Sim, aqueles jogadores que os torcedores aplaudem com mais entusiasmo, que servem de referência para a meninada, que ditam até moda. Existem, com o risco de serem objetos de consumo imediato e. portanto, descartáveis.

Sei que o assunto não é inédito, mas sempre se renova. Nos últimos dias, houve dois casos, por coincidência com personagens ligados ao Flamengo.

O primeiro foi uma enquete de programa de televisão. O apresentador perguntava, para os comentaristas e para o público, se Gabigol já podia ser considerado o maior ídolo do Flamengo nos anos 2000, mais do que Adriano, o Imperador aposentado. Opiniões divididas, tanto dos jornalistas como dos telespectadores.

O segundo foi a apresentação de Reinier no Real Madrid. O clube espanhol pagou 140 milhões de reais para o Flamengo para ter no elenco o jovem de 18 anos. O rapaz chorou na primeira entrevista, disse que realizava "sonho de infância" e já sabe que, em princípio, vai reforçar o Real Madrid B, equivalente a nossos antigos times de aspirantes.

Começo por Gabigol. O moço com méritos caiu nas graças da nação rubro-negra. Na primeira temporada, em 2019, foi artilheiro e peça importante nas conquistas do Brasileiro e da Libertadores. Jogou mais do que quando despontou no Santos e foi parar na seleção olímpica e na Inter de Milão. Agradou tanto que o Flamengo o contratou de vez.

A pressa por criar heróis e a necessidade de ter ídolos fizeram com que Gabigol, 23 anos, já fosse comparado a Adriano, que tem raízes na Gávea e uma história de vida ligada ao clube. Os mais afoitos colocam o goleador de hoje na galeria dos maiores astros do Fla.

Entendo que a emoção, o calor da hora nos empurram para exageros. E, caramba, o futebol é feito de excessos. Cada geração tem o seu "maior da história". Normal, é do ser humano imaginar o mundo a partir do instante em que nasceu. O passado, sobretudo no Brasil, não é cultuado; ao contrário, é visto como saudosismo, "coisa de museu".

Por isso, Gabigol desponta como candidato à prateleira de cima na lista dos gigantes rubro-negros. Não critico quem pensa assim; injusto tirar a alegria do torcedor. Porém, com a idade e os muitos anos de profissão, aprendi que é necessário dar um tempo para avaliar a importância de jogadores na história de um clube.

Gabigol está no caminho certo, entendeu o que significa jogar no Flamengo. Agora, depende dele consolidar a imagem. E isso engloba desempenho, gols, postura dentro e fora de campo e tempo de permanência no clube. Que fique muitos anos. Caso contrário, logo será trocado por outro "ídolo eterno por um curto período".

A longevidade é essencial para marcar época - aqui e no mundo todo. Por exemplo, também já há quem veja o Fla de hoje maior do que aquele do início dos anos 80. Bom ponto para discussão. Como acompanhei um e sigo o outro, digo que há talentos de sobra tanto naquele quanto neste.

Para mim, estão em nível bem superior Raul, Leandro, Mozer, Júnior, Abílio, Andrade, Zico. Com uma vantagem, por ora: pelo tempo que defenderam as cores do time, são ídolos para sempre.

Na turma atual, coloco Gerson, Bruno Henrique, Gabigol, De Arrascaeta como tops, com menções honrosas para Diego, Diego Alves, Rafinha e Filipe Luís. Estão na trilha dos velhinhos; basta que tenham constância e... levantem novas taças.

Para terminar a conversa: Reinier pode ser considerado ídolo do Flamengo? Me parece que não. Mal começou a empolgar a galera e foi embora. Não deu nem para construir um pouco de história. Pena, pois tinha tudo para ser ídolo por aqui. Quem vai recriminá-lo por aceitar a grana da Real?

Esse é tema para futuro papo entre a gente.

Bom carnaval.