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Antero Greco

Isolamento resgata história do futebol

Histórica seleção de 1970 anima reprises na TV brasileira - Gerência de Memória/CBF
Histórica seleção de 1970 anima reprises na TV brasileira Imagem: Gerência de Memória/CBF

17/04/2020 04h00

O isolamento social é uma das poucas ações práticas e eficazes para inibir propagação rápida e desenfreada da pandemia do coronavírus. Isso é científico, provado a aprovado por autoridades médicas no mundo todo.

Claro que é chato ficar muito tempo sem sair de casa; angustiante, para quem vê seus negócios prejudicados ou emprego ameaçado. São tempos de exceção. Por isso, antes ter prejuízo financeiro do que perder a vida. O primeiro a gente pode recuperar; a segunda, não.

Para quem curte futebol um passatempo divertido e educativo tem sido ver reprises de grandes duelos nacionais e internacionais. Emissoras de tevê, além de plataformas digitais, têm oferecido imagens de momentos marcantes. Na falta do que fazer, compensam a carência que temos de ver nossos times em ação.

(A propósito: é bom ir com calma, mas com muita calma, nessa história de voltarem os estaduais. O futebol só pode retomar rotina mais ou menos normal apenas, e tão somente, se não houver riscos para os envolvidos. Qualquer coisa fora disso é arriscada e insensata.)

Ver ou rever partidas que decidiram títulos é uma boa maneira de comparar estilos, esquemas táticos, ritmo e até desempenho de jogadores. Chance de ter contato com esquadrões que ficaram na memória dos mais velhos e que, para os jovens, não passam de lenda urbana ou "saudosismo". Craques de outras eras rejuvenescem diante da gente, em alguns casos com narração atual. (Gosto desse recurso das tevês, se for enriquecido com informações de época, para situar os telespectadores.)

Acompanhar a seleção de 70, por exemplo, é prazer insuperável. O tri está a dois meses de completar 50 anos e, no entanto, para muitos dá a impressão de que foi "anteontem". Que encanto curtir Pelé, Tostão, Rivellino, Gérson, Clodoaldo, Jairzinho, Carlos Alberto desfilarem pelos gramados mexicanos. Como jogaram bola esses senhores! Que precisão nos passes, nos dribles, nas finalizações. Que visão de jogo que tinham!

Para quem supõe que era moleza, basta ter visto o embate com a Inglaterra, na segunda rodada da primeira fase do Mundial de 70. Os então campeões do mundo foram osso duro de roer, tinham um timaço e batiam que só! Foram o maior desafio na caminhada para a posse definitiva da (roubada e derretida) taça Jules Rimet. Também foram complicados os jogos contra Romênia e Uruguai e parte da final com a Itália.

Um salto mais adiante no tempo permitiu que saboreássemos, dias atrás, a final com a Alemanha, em 2002. A vitória por 2 a 0, em Yokohama (Japão) e a conquista do penta talvez tenha sido o último momento marcante da seleção brasileira. E isso está prestes a completar 20 anos.

Ok, houve brilhareco em algumas Copas de Confederações e em partidas pontuais em eliminatórias ou Copa América. Mas nada que se assemelhe aos prodígios de Rivaldo, Ronaldo, Ronaldinho Gaúcho, Marcos & Cia nos campos asiáticos. Uma geração de qualidade. Onde foi parar nosso espírito campeão, depois daquilo? Como foi possível desembocar nos 7 a 1 contra os próprios alemães, em 2014? (Parêntesis, de novo: no primeiro tempo, em 2002, os bravos tedescos deram um trabalho e tanto para o Brasil.)

Aproveite o tempo para revisitar finais de Libertadores, de Champions, de Mundiais de Clubes. Veja compilações de gols de gênios como Pelé, Messi, Maradona, Zico, Cristiano Ronaldo e tantos outros. Recorde grandes formações de seu clube do coração ou de equipes famosas mundo afora. Use o esporte como uma opção de lazer, de descontração, como pausa no noticiário -importante e apavorante - sobre a doença.

Note como a história é importante para compreender o que acontece hoje no esporte. Não caia na conversa preconceituosa e ignorante de que "quem gosta de coisa antiga é museu". Bobagem que já saiu da boca de muita gente famosa no mundo da bola. História serve, também, para resgatar autoestima - e a nossa anda bem em baixa, e não só no futebol.

No mais, amigo que me acompanha neste papo semanal, fique em casa. Por amor a você e pelas pessoas que você quer bem. Tenha fé na ciência e um pouco de paciência. Sairemos dessa, vivos. Não dê ouvidos a oportunistas.