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Lito Cavalcanti

Planos de retorno esbarram na realidade

Vista aérea do circuito de Red Bull Ring, na Áustria - Matthias Heschl/Red Bull Content Pool
Vista aérea do circuito de Red Bull Ring, na Áustria Imagem: Matthias Heschl/Red Bull Content Pool

11/05/2020 10h43

Como já se esperava, a passagem da teoria à prática começa a se revelar mais difícil do que a Liberty Media, promotora da Fórmula 1, previa ao divulgar os planos para o início desta temporada. A ideia de realizar corridas em dois fins de semana seguidos na Áustria e na Inglaterra já começa a ser revista, e volta com força a possibilidade de se realizarem corridas no meio da semana.

Em um primeiro momento, cogitava-se correr nos domingos cinco e 12 de julho no circuito Red Bull Ring, na Áustria, e 26 de julho e dois de agosto em Silverstone, na Inglaterra, todas com portões fechados. O problema é que esse cronograma não se encaixa na decisão do primeiro ministro inglês Boris Johnson de impor uma quarentena de duas semanas a todos que chegarem ao país por via aérea.

A esperança da F1 é que a apresentação de testes rigorosíssimos permita que seus profissionais contornem essa imposição. Mas contra essa hipótese há a avaliação do respeitado virologista Jeremy Rossman, catedrático da Escola de Biociência da Universidade de Kent.

Segundo seus estudos, os testes hoje disponíveis não são eficientes a ponto de acusar a contaminação dos indivíduos antes do terceiro dia. Ele enfatiza a necessidade de serem realizados no mínimo três testes ao longo de cinco dias, o que praticamente inviabiliza a realização de uma prova de Fórmula 1 na Inglaterra neste ano.

Outro fato que torna o Grande Prêmio da Inglaterra menos provável a cada dia é o pedido do CEO de Silverstone, Steve Pringle, de que lhe fosse dada uma confirmação com 12 semanas de antecedência. Hoje, dia 11 de maio, restam pouco mais de 11 semanas para a data prevista, 26 de julho.

Teto de gastos e novas regras podem melhorar F1

Mesmo ainda faltando a confirmação oficial, há na Fórmula 1 a certeza de que o limite orçamentário anual das equipes já está fixado em US$ 145 milhões, algo como R$ 835 milhões. Este será o teto de gastos em 2021, mas ainda há a intenção de se impor novas reduções nos dois anos seguintes.

Fala-se em uma queda para US$ 135 milhões (cerca de R$ 780 milhões) em 2022 e para US$ 130 milhões (aproximadamente R$ 750 milhões) em 2023. Os US$ 100 milhões (cerca de R$ 575 milhões) pleiteados pela McLaren estão fora de cogitação, mas foi obtida uma redução significativa em relação aos US$ 175 milhões (pouco mais de R$ 1 bilhão) que se pretendia quando se começou a discutir a introdução de limites de gastos das equipes.

Essas novas regras atingirão majoritariamente a Ferrari, a Mercedes e a Red Bull, as três equipes de maior sucesso nas duas últimas décadas, e a Renault e a McLaren em menor proporção. Essas são as únicas escuderias que dispõem, atualmente, de verbas superiores a US$ 145 milhões. E terão essa vantagem pelo menos reduzida, mesmo que o limite não se estenda ao desenvolvimento dos motores, salários dos pilotos e dos executivos mais bem pagos de cada equipe e verbas de marketing.

Estas exceções, porém, não bastarão para amenizar o corte para as equipes grandes. Os gastos estimados da Mercedes em 2019, por exemplo, teriam sido de US$ 480 milhões (cerca de R$ 2 bilhões e 760 milhões). As despesas excluídas do limite chegaram a US$ 85 milhões (cerca de R$ 490 milhões).

Diminuindo-se 85 de 480, sobram ainda US$ 395 milhões (cerca de R$ 2 bilhões e 275 milhões). Para chegar ao teto de US$ 145 milhões, a Mercedes terá de cortar US$ 250 milhões (perto de R$ 1 bilhão e 440 milhões), mais da metade do total gasto no ano passado.

Os números podem ser um pouco diferentes para a Ferrari e a Red Bull, mas a situação é igual. Serão necessários cortes de funcionários. Já se fala em mil engenheiros e mecânicos desempregados no fim desta temporada, haja ou não corridas. Há quem acredite, contudo, que a disponibilidade desses profissionais signifique uma excelente oportunidade para novas equipes se juntarem às dez que hoje disputam a Fórmula 1. Isso porque quem os contratar terá acesso aos conhecimentos e métodos de trabalho adotados pelas maiores.

A experiência desses profissionais será ainda mais valiosa com a introdução de mais uma restrição aerodinâmica já no ano que vem. O plano é impor um limite diferenciado ao uso dos túneis de vento e aplicativos de aperfeiçoamento aerodinâmico. Quanto mais à frente estiver uma equipe na classificação do campeonato, maiores as restrições. As três primeiras colocados só terão direito a 70 por cento do tempo permitido às duas últimas; a quarta, a 75; a quinta, a 80, a sexta, a 85; a sétima, a 90 e a oitava, a 95.

O objetivo da Liberty Media é que essas inovações, somada a um quase certo congelamento dos motores, tragam uma nova competitividade para a categoria. O sonho é que as escuderias do segundo pelotão tenham possibilidades de pódios e até vitórias. Com isso, elas podem obter uma fatia maior do bolo dos prêmios, melhorando seus orçamentos.

Estados Unidos rompem o silêncio dos motores

Na noite da última sexta-feira, dia 8, foi disputada nos Estados Unidos a primeira corrida pós-pandemia. Foi a etapa de abertura da World of Outlaws, uma das bases mais importantes das categorias que correm em circuitos ovais, que tem como principal característica correr em pisos de cascalho.

A prova foi realizada sem público e com todas as medidas de proteção prescritas. A pista escolhida foi Knoxville Raceway, em uma cidade com menos de oito mil habitantes no estado de Iowa. Normalmente, essa corrida não teria maior importância além dos limites da cidade e da categoria, cujo público não vai muito além do Sul dos Estados Unidos, mas dessa vez ele teve um acompanhamento surpreendente pela televisão.

Um fator que influenciou a enorme exposição desta prova foi a presença de duas estrelas da NASCAR, Kasey Kahne e Kyle Larsson. Este último fazendo seu retorno às corridas depois de ser demitido da equipe Chip Ganassi Racing e suspenso por tempo indeterminado da NASCAR pelo uso de termos racistas durante uma corrida virtual.

Larson passou pelas baterias eliminatórias e foi o décimo colocado na prova final, um desempenho acima do esperado no confronto com os profissionais das pistas de terra batida. A reafirmação de suas qualidades como piloto, porém, dificilmente amenizará as punições pelo seu destempero verbal.