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Lito Cavalcanti

Uma semana de expectativas e esperanças

Detalhe dos carros brancos da Mercedes no GP da Alemanha de 2019 - @MercedesAMGF1/Twitter
Detalhe dos carros brancos da Mercedes no GP da Alemanha de 2019 Imagem: @MercedesAMGF1/Twitter

10/02/2020 12h12

Esta semana será marcada pelos lançamentos dos carros da Fórmula 1 para este ano. Como o regulamento permanece praticamente inalterado no setor técnico, não devem surgir grandes novidades - serão vistos mais evoluções e aperfeiçoamentos.

Isso leva a um certo otimismo quanto à qualidade das corridas. Considerando-se o aumento da competitividade na segunda metade do último campeonato, há expectativas positivas em todas as equipes. E por mais que elas só possam ser verificadas nas pistas, pode-se alimentar alguma esperança.

O alvo coletivo continuará a ser a poderosa Mercedes, campeã invicta desde 2014, o ano em que foram introduzidos os motores híbridos. Desde então, ela vem-se beneficiando da sábia decisão de começar a aperfeiçoar esta nova tecnologia em 2008, com nada menos de seis anos de antecedência.

Mas agora ela terá pela frente adversárias que vêm evoluindo ano a ano. A confiabilidade e o ganho de potência que os motores Honda mostraram em 2019 fazem da Red Bull uma ameaça séria. O mesmo se pode dizer do motor da Ferrari.

Mas é no campo da aerodinâmica que a luta deve ser mais intensa. E é nele que a Ferrari se concentra, foi pela falta dessa pressão que Maranello teve a maioria dos problemas que a prejudicaram no ano passado.

Em síntese, ganha quem consegue pressionar os pneus contra o solo com mais eficiência. Se não houver aderência suficiente, os pneus derrapam e, por consequência, esquentam e perdem desempenho. Essa pressão é gerada pelas asas e pelo assoalho de cada carro - mas como eles têm dimensões e posicionamentos limitados pelas regras, ganha quem explora melhor esses conceitos.

Uma tarefa para poucos

Não é trabalho para amadores nem iniciantes. A melhor aerodinâmica não é a que gera maiores picos de pressão, e sim a que se mantém mais equilibrada em todas as faixas de velocidade. Ela pode até impor o sacrifício de velocidade nas retas - mas essa perda se compensa pela maior velocidade nas curvas.

Nesse aspecto, a vantagem tem sido da Red Bull, que tem como projetista o engenheiro inglês Adrian Newey, idealizador dos melhores carros das últimas décadas. Mesmo que não fique muito atrás e tenha motores mais potentes, o domínio da Mercedes em 2019 só foi tão ostensivo porque a adversária teve um início de ano claudicante e só aparou suas arestas na segunda metade.

As incertezas aerodinâmicas que acometeram várias equipes só ocorreram por causa da introdução de novas limitações à asa dianteira em 2019. Atenta à situação, a Mercedes decidiu atrasar a definição das formas definitivas de seus carros e dedicar mais tempo ao desenvolvimento aerodinâmico.

Ela participou dos quatro dias da primeira sessão da pré-temporada com uma carenagem conservadora, usada apenas para coletar informações sobre as reações do carro com a nova asa e para trabalhar no amadurecimento do novo carro. Só apresentou a arquitetura definitiva na última sessão de testes, quando já não havia tempo para as outras equipes reagirem.

Como neste ano não há novas regras, a vantagem que a Mercedes teve em 2019 não se repetirá. Além disso, as equipes que têm recursos para trabalhar em duas frentes adotarão o mesmo comportamento. A Ferrari pretende usar uma carenagem provisória para aperfeiçoar os pontos fracos na primeira sessão enquanto aprimora a definitiva, que só será vista na última.

A Red Bull, que teve problemas de resistência e confiabilidade na primeira metade de 2019, revelou que aprontará seu carro uma semana antes da data limite. O tempo que sobra será dedicado ao aprimoramento dos componentes mecânicos, eletrônicos e hidráulicos.

Red Bull boxes Verstappen - Andrej Isakovic/AFP - Andrej Isakovic/AFP
Red Bull não teve tempo para colocar o carro de Verstappen na pista
Imagem: Andrej Isakovic/AFP

Agora, o que interessa é a quilometragem

Por isso, o que será revelado por estas equipes nessa semana de lançamentos pode não ter muita relevância. A elas o que importa é sair de Barcelona com a certeza de que seus carros têm condições de somar pontos valiosos nas corridas iniciais do campeonato.

Esse cuidado ganha ainda mais importância diante da redução da pré-temporada de oito para seis dias. Com isso, cada minuto perdido nos boxes do autódromo de Barcelona por falhas ou quebras será ainda mais prejudicial do que antes.

Para as outras equipes, o procedimento deverá seguir a tradição: iniciar a primeira sessão já com as escolhas definitivas - eventuais mudanças só devem ocorrer caso uma ou mais soluções se mostrem ineficientes. Nesse caso se enquadram todas sete escuderias restantes. Mas preste-se atenção para os detalhes, sempre há evoluções.

Isso já pôde ser visto nas imagens do novo Haas, exibidas em sites especializados e redes sociais. A equipe norte-americana copiou algumas soluções utilizadas no ano passado pela Ferrari, que lhe fornece todas as peças permitidas pelo regulamento. Motor, câmbio, suspensão, volante e diversos outros componentes da Haas são fabricados em Maranello. Daí a lógica de seguir também suas opções aerodinâmicas. A mais visível é a asa dianteira, mas também há novidades no chassi, alongado em sete centímetros.

Quem seguirá essa mesma trilha é a Alpha Tauri, nova denominação da Toro Rosso, equipe B da Red Bull. Ela extinguiu seu departamento de projetos no ano passado e passou a usar as soluções da irmã maior. Com isso, reduziu a folha de pagamentos e pôde dedicar mais recursos aos detalhes e à montagem dos carros.

O lado não tão positivo foi perder seu excelente engenheiro, o inglês James Key para a McLaren, que terminou o ano à frente do segundo pelotão e um pouco mais perto das três grandes: Mercedes, Red Bull e Ferrari. A mão de Key já se fará notar nas formas mais afiladas do novo McLaren, seu primeiro projeto na equipe inglesa.

Uma luta em dois "fronts"

Se o motor Renault que a McLaren usará nesta temporada se mostrar tão forte quanto apregoa o responsável pelo setor, o francês Rémi Taffin, a tradicional escuderia inglesa tem tudo para repetir o honroso quarto lugar conquistado no campeonato mundial de construtores de 2019.

Mas, se o motor da montadora francesa for realmente o que prevê Taffin, a McLaren poderá ter uma oposição respeitável na própria equipe da sua fornecedora. Depois de investir pesadamente em um túnel de vento tão moderno quanto os melhores, a Renault também fez contratações de peso.

Dentre elas destaca-se o inglês Pat Fry, dono de um currículo de sucessos na Benetton, na Ferrari e na própria McLaren no começo deste século. Ele voltou para lá no ano passado e criou o carro de 2019, cuja qualidade foi atestada pelo seu sucessor James Key ao manter os conceitos implantados por Fry.

De olho na Williams

Das demais, só se esperam grandes mudanças na Williams - que vem de anos de insucesso. Há quem acredite que a equipe inglesa só pode melhorar, pior do que tem sido não pode ficar. Isso já foi dito em outros anos e nada mudou. Ela também foi a campo fazer contratações, mas há quem diga - incluindo-se engenheiros que passaram por lá - que o problema não é pessoal, e sim a estrutura e os métodos.

Pelo bem e pelo mal, a Williams será uma das equipes mais observadas nesta semana de lançamentos e também na pré-temporada, que será do dia 19 ao dia 21 e do dia 26 ao dia 28, mais uma vez na pista de Barcelona.

Depois disso, a Fórmula 1 só voltará a ser vista no GP da Austrália, no dia 15 de março. Essa, sim, será a hora da verdade. O que vem antes conta pouco.