Topo

Vitor Guedes

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Brasil sobra e dá show com formação irreal contra baba que não testa nada!

Richarlison fez dois e mostrou que Brasil cresce coletivamente com a presença de um "9" - Lucas Figueiredo/CBF
Richarlison fez dois e mostrou que Brasil cresce coletivamente com a presença de um "9" Imagem: Lucas Figueiredo/CBF

Colunista do UOL

23/09/2022 17h26Atualizada em 23/09/2022 18h12

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

Considerações após Brasil 3 x 0 Gana:

1) O Brasil deu show no primeiro tempo, quando construiu o 3 a 0. O fato de 2 dos 3 gols do 3 a 0 terem saído de bola parada (Marquinhos e Richarlison testaram para rede, respectivamente, escanteio e falta muito bem batidas por Raphinha e Neymar) escancara que não é porque uma seleção é talentosa e tem craques que não deve ensaiar, treinar e contar com a bola parada.

2) Neymar pode jogar de falso 9, de 11, de 7 ou onde ele bem entender, mas está muito claro que rende mais mesmo e participa mais do jogo de 10, atrás do centroavante e, por isso, Tite fez bem em armar o time com Richarlison. O atacante do Tottenham aproveitou bem a chance com dois gols. Mesmo sem ter um 9 do naipe de Reinaldo, Careca, Romário ou Ronaldo, o Brasil de Richarlison, Pedro e Gabriel Jesus não pode abrir mão de ter alguém no comando do ataque. Primeiro, porque é a história do futebol brasileiro, segundo e não menos importante, a presença de um centroavante facilita e potencializa o futebol de Vini Jr e Neymar (as duas unanimidades de crítica e torcida), Paquetá e Raphinha.

3) A seleção atual de Gana é horrorosa e, à vera, não serviu de teste para o Brasil. Agora, se é a Alemanha, a França, a Espanha ou a Inglaterra que dá o mesmíssimo show contra essa mesmíssima Gana, com todos os seus muitos defeitos, boa parte da torcida verde-amarela estaria arrancado os cabelos e colocando a respectiva seleção como virtual campeã no Qatar. Gana é ruim, mas não é qualquer um que sobra como o Brasil sobrou.

4) Para além do adversário, repito, horroroso, a boa notícia do Brasil foi o espírito coletivo e a ausência de estrelismo. Não se viu ninguém se aproveitando da teta que foi o jogo para tentar roubar os holofotes ou jogar para si.

5) Já que não foi possível marcar um amistoso contra uma potência europeia que realmente testasse o Brasil, Tite usou muito bem a exibição para ganhar o carinho e aplausos da torcida. Tem que ser muito mala e diferentão do contra para não reconhecer que a seleção, especialmente no primeiro tempo, jogou o fino. E à brasileira, no ataque, como historicamente o torcedor gosta de ver a seleção. Versões pragmáticas só são perdoadas quando ganham, como em 1994 e 2002. E olha que era um "pragmatismo" sustentado pelas magias de Romário e Bebeto, no tetra, Ronaldinho, Rivaldo e Ronaldo, no penta...

6) Se o beque Militão está pronto para ser o reserva de Danilo na lateral direita, se Alex Telles segura o rojão na lateral esquerda e se Bremer pode completar o time de zagueiros no Qatar não deu para saber contra a inexistente Gana. E é muito difícil que na terça, contra a Tunísia, a situação seja muito diferente. Tite vai ter que convocar muito mais no instinto do que pelo teste.

7) Tite, que dá entrevistas pastorais insuportáveis, é muito bom técnico, disparado o melhor do Brasil. É muito raro uma seleção apresentar organização e variações de clubes, que treinam e jogam juntos a temporada toda. Mesmo em seus piores momentos, o Brasil de Tite jamais foi desorganizado. E, agora, às vésperas do Mundial, ganha brilho com a fartura de boas opções ofensivas.

8) O Brasil foi campeão mundial com Djalma Santos, Carlos Alberto Torres, Jorginho e Cafu, na lateral direita; Nilton Santos, Everaldo, Leonardo, Branco e Roberto Carlos, na esquerda. Zé Maria, Leandro, Maicon e Daniel Alves não ganharam, a exemplo de Marcelo. Se o hexa vier no Qatar, e o Brasil está entre os candidatos, terá sido com o conjunto menos estelar de laterais da história da seleção brasileira.

9) Quem decidiu a última Liga dos Campeões e não sente o protagonismo no Real Madrid, o maior clube do mundo, está pronto para vestir com leveza a camisa mais pesada dentre todas as seleções do planeta bola. E, ainda que não tenha resultado em gol, uma pena, o momento mais bonito de Brasil 3 x 0 Gana foi o passe de trivela de Vini Jr para Raphinha: pena que o atacante do Barça, outro que mostra não se sentir intimidado pela amarelinha, desperdiçou.

10) Nem tudo precisa ter consequência. Dar show, ganhar bem e alegrar à torcida vale sempre a pena. Dito isso: foi um vareio irreal. Por dois motivos: a partir das quartas de final da Copa, que é quando a Copa do Mundo vai começar à vera para o Brasil, a seleção pegará um adversário muito mais forte que a fraquíssima Gana. E, contra esse rival, seja ele quem for, em mata-mata, eu DUVIDO que Tite armará o time com um único volante atrás de um meia ofensivo e de quatro jogadores com DNA de atacantes, ainda que eles possam se doar taticamente à equipe. Repito: DUVIDO.

Eu sou o Vitor Guedes e tenho um nome a zelar. E zelar, claro, vem de ZL! É nóis no UOL!

Veja:

E me siga no Twitter e no Instagram