Topo

Vinte e Dois

Giannis deveria marcar Butler? Resposta não é tão simples como parece

Giannis Antetokounmpo, do Milwaukee Bucks, (à direita) e Jimmy Butler, do Miami Heat, observam a bola - Garrett Ellwood/NBAE via Getty Images
Giannis Antetokounmpo, do Milwaukee Bucks, (à direita) e Jimmy Butler, do Miami Heat, observam a bola Imagem: Garrett Ellwood/NBAE via Getty Images

Lucas Pastore

Colunista do UOL

04/09/2020 04h00

Eleito o melhor defensor da temporada regular, o astro do Milwaukee Bucks Giannis Antetokounmpo não foi responsável por marcar Jimmy Butler, destaque ofensivo do Miami Heat, nos dois primeiros jogos da série em que a equipe da Flórida abriu 2 a 0 e se aproximou da classificação para a final da Conferência Leste. Validada pelo grego, a opção tática de Mike Budenholzer, técnico da equipe do Wisconsin, iniciou o debate: o melhor defensor de um time sempre deve marcar a estrela adversária?

A discussão ganhou força após Butler marcar nada menos do que 40 pontos no jogo 1 da série, convertendo 13 dos 20 arremessos de quadra que tentou e comandando a vitória do Heat por 115 a 104 sobre os Bucks. Questionado se queria ter marcado o ala na reta final do jogo, Giannis demonstrou irritação: "Não. Por que você perguntaria isso?".

Duas vezes All-Star da NBA, o armador Isaiah Thomas usou sua conta no Twitter para criticar o grego. "Como competidor e melhor defensor da temporada, é seu trabalho assumir essa função. Sei que Marcus Smart, Avery Bradley, Kawhi Leonard pensariam 'dane-se, eu vou marcá-lo'".

De acordo com levantamento estatístico mostrado pela ESPN americana, Giannis foi o jogador que limitou All-Stars adversários ao pior aproveitamento como defensor mais próximo entre os que contestaram ao menos 40 arremessos durante a temporada.

Parece óbvio, então, que ele deve ser sempre o responsável por marcar o astro adversário, certo? Mas a resposta não é tão simples quanto parece. Primeiro por uma simples questão de gerenciamento de energia. Voltando aos números, Giannis tem 34,1% de usagem nos playoffs. A métrica estima a quantidade de posses de bola de uma equipe em que o jogador é utilizado. Khris Middleton, com 27,4%, é o outro único membro dos Bucks que chega à casa de 20%. É difícil exigir que o grego, ou qualquer outro astro da NBA, protagonismo dos dois lados da quadra o tempo todo com partidas decisivas e intensas a cada dois dias, especialmente com o risco de problemas com faltas.

Há também a questão do perfil defensivo de Giannis. Seu conjunto de ferramentas técnicas e físicas o tornam um versátil defensor, capaz de marcar homem a homem jogadores de praticamente todas as posições e também de atuar na cobertura. Foi na ajuda, por exemplo, que o grego conseguiu impressionante toco sobre Butler no jogo 1 depois que o astro do Heat conseguiu se livrar do seu defensor primário.

O Bucks tem outros bons marcadores no mano a mano, como Eric Bledsoe, George Hill, Wesley Matthews e Khris Middleton, mas todos passam longe de ter a combinação de tamanho e mobilidade de Giannis para atuar na cobertura.

Segundo o BBall Index, especialista em estatísticas de basquete, Giannis foi o segundo jogador com os duelos defensivos mais fáceis entre os líderes da métrica da ESPN citada acima. Isso mostra que faz parte da estratégia de Budenholzer utilizá-lo mais na cobertura e menos na marcação do astro adversário.

Ainda há a questão ofensiva. Como não é um grande arremessador de média e longa distância, Giannis tende a pontuar mais facilmente no contra-ataque, utilizando sua combinação de controle de bola, atleticismo e passadas longas. Assim, colocá-lo em uma função defensiva longe da bola permite que ele mesmo pegue rebotes e acelere o processo.

Isso não significa, porém, que Giannis não possa ser deslocado para defender um astro adversário que vive grande noite no quarto período de uma partida. As posses de bola finais de um jogo da NBA tendem a ter menos movimentação de bola, e a vantagem de tamanho do grego sobre o ala do Heat poderia até mesmo inibir arremessos do oponente.

A posse de bola final da partida 2 mostra várias camadas que norteiam decisões do tipo. Jogando na cobertura, Giannis conseguiu ler bem a jogada e dobrar a marcação sobre Butler, dificultando seu arremesso, mas cometeu a falta que levou o adversário a definir o jogo na linha de lances livres.

Hoje (4), Bucks e Heat se enfrentam às 19h30 no jogo 3 da série, disputada em formato melhor de sete. Para o time de Milwaukee se manter vivo, Giannis terá de jogar o que sabe no ataque e na defesa, seja marcando Butler ou na cobertura.