Topo

Tales Torraga

REPORTAGEM

Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

Como Maradona acabou preso depois de ver Boca x Corinthians na Bombonera

Colunista do UOL

16/05/2022 04h00

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

Maior jogador argentino de todos os tempos, Diego Armando Maradona jamais disputou uma Libertadores da América. Mas isso não significa que o inigualável "Dieguito" não tenha suas histórias no principal campeonato do continente.

E a mais lembrada delas na Argentina tem a ver com o Corinthians.

Foi na arquibancada da Bombonera, em abril de 1991, que o astro da camisa 10 apareceu para torcer para o Boca Juniors. Nada de tribuna, palco, camarote. Naquela noite fria de quarta-feira, Maradona preferiu ver o jogo no meio da multidão pulando ao lado da sua mulher, Claudia, e carregando no colo sua filha mais velha, Dalma, que tinha apenas quatro anos.

diego - Reprodução El Gráfico/Arquivo - Reprodução El Gráfico/Arquivo
Dalma, Diego e Giannina na histórica despedida da Bombonera em 2001
Imagem: Reprodução El Gráfico/Arquivo

Estrela confusa

E é claro que Maradona na arquibancada foi tão mostrado pela TV como o próprio jogo entre Boca e Corinthians.

O Boca tinha um timaço, e uma das estrelas do time argentino naquele ano faria companhia a Maradona na seleção dois anos depois. Estamos falando de Gabriel Batistuta, que naquele tempo já era chamado de "Batigol". Mas Diego, ali na Bombonera, não parecia muito interessado na pesada rotina de atleta profissional.

O Maradona que circulava pela Bombonera para torcer pelo Boca contra o Corinthians nem parecia o Diego que havia brilhado na Copa um ano antes.

Sempre agitado, cantando e pulando como um torcedor qualquer, e não como um dos maiores jogadores de todos os tempos, Maradona teve os seus passos seguidos naquela noite por alguém que não era necessariamente uma admiradora sua.

A revista argentina "El Gráfico" trouxe a história. Uma "loira fatal", como nos filmes de ação, começou a seguir os passos de Maradona ainda na Bombonera. Ela, na verdade, era uma policial que queria investigar como andava o triste vício em cocaína que colocaria Maradona à beira da morte nos anos seguintes.

Maradona comemorou a vitória do Boca sobre o Corinthians e deu inúmeras entrevistas para as rádios argentinas, que ficaram surpresas com tamanha euforia.

A vitória do Boca por 3 a 1 praticamente definia as oitavas de final daquela Libertadores. O Corinthians passou a depender de uma vitória milagrosa para se classificar no Morumbi. Em Buenos Aires, o time jogou sem seu craque Neto, e o gol do Alvinegro foi marcado pelo lateral-direito Giba, de pênalti.

Mas a dificuldade do Corinthians para o jogo de volta não seria nada perto do que aconteceu na semana seguinte em Buenos Aires.

marado - Rafael WOLLMANN/Gamma-Rapho via Getty Images - Rafael WOLLMANN/Gamma-Rapho via Getty Images
Maradona é preso por uso de cocaína em Buenos Aires em 26 de abril de 1991
Imagem: Rafael WOLLMANN/Gamma-Rapho via Getty Images

Caos portenho

Maradona continuou sendo investigado e foi mostrado preso, como um triste troféu, na noite de 26 de abril de 1991, uma sexta-feira, e em pleno horário nobre da televisão.

Diego estava no apartamento de um cunhado, com dois amigos seus, e aquela era a sua primeira aparição pública desde o Boca x Corinthians da Bombonera. O ídolo saiu desgrenhado, com uma roupa improvisada e com a barba por fazer, e ainda ironizou na saída, perguntando se a RAI, a famosa emissora italiana, havia sido chamada para sua entrevista coletiva.

A prisão de Maradona depois deste Boca x Corinthians dá muito que falar na Argentina até hoje, mesmo 31 anos depois.

A polêmica da detenção aumentou no começo de 2021, quando se completaram 30 anos daquele triste episódio. Várias teses foram escritas indicando que Maradona, na verdade, caiu em uma cilada armada pela presidência da Argentina.

Quem o viu, ali, na escuridão de uma cela, jamais imaginaria o seu retorno para a seleção argentina e para a Copa do Mundo, onde brilhou nos Estados Unidos em 1994 antes de ser expulso da competição depois de dois jogos.

Também por drogas, mas não a cocaína, no caso, e sim a efedrina que ele consumiu indevidamente para perder peso e entrar em forma em seu último Mundial. Mas esta é uma outra história. A história de um homem que carregou, até o seu último dia, o peso do vício que começou a ser mostrado para o mundo na arquibancada da Bombonera em um Boca x Corinthians pela Libertadores.

O UOL Esporte trouxe esta história também em vídeo na série UOL Explica. Para conferir, basta clicar abaixo.