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Osaka perde queda de braço, recua de boicote e abandona Roland Garros

FFT
Imagem: FFT

Colunista do UOL

31/05/2021 16h06

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Os tenistas não apoiaram; os torneios do grand slam não só aplicaram uma multa como acenaram com uma ameaça de desclassificação; a opinião pública mostrava-se fortemente contra o boicote; e um texto publicado por sua irmã lhe passou a imagem de mentalmente frágil. Naomi Osaka, isolada e encurralada, deu um passo para atrás na sua decisão de ir a Roland Garros e não dar entrevistas. Nesta segunda-feira, revelou que luta contra depressão e anunciou que não vai continuar no torneio. O abandono evita futuras multas e a chance de ser não só desclassificada em Paris como proibida de competir em outros slams - o que poderia acontecer se ela continuasse descumprindo a obrigação de comparecer a entrevistas coletivas após suas partidas.

Na prática, a japonesa de 23 anos, atual número 2 do mundo, vencedora do Laureus de Esportista Mulher do Ano e mulher mais bem paga do esporte, perdeu a queda de braço com o tênis. Em mais um texto publicado em suas redes sociais (veja no tweet abaixo), Osaka admitiu alguns de seus erros e escreveu que o melhor para ela, para o torneio e para os outros era sua retirada da competição. Ela também adotou uma postura mais amigável em relação à imprensa - especialmente a especializada em tênis.

"Nunca quis ser uma distração e aceito que meu timing não foi o ideal e minha mensagem podia ter sido mais clara. De modo mais importante, eu nunca iria trivializar saúde mental ou usar a expressão de modo leviano. A verdade é que tive várias lutas com a depressão desde 2018 e tenho dificuldade em lidar com isso. Todos que me conhecem sabem que sou introvertida e todos que me veem nos torneios notam que estou sempre usando fones de ouvido porque isso ajuda a lidar com a minha ansiedade social."

Ao defender-se da trivialização do uso da expressão "saúde mental", Naomi tenta apagar o pequeno incêndio causado nas redes sociais por um texto postado por sua irmã, Mari Osaka, no fórum Reddit. A ideia de Mari era defender e explicar os motivos da irmã para não falar com a imprensa em Roland Garros, mas o relato passou a impressão de que Naomi era apenas uma menina frágil que não queria lidar com opiniões negativas. No texto, Mari conta que a irmã não estava bem mentalmente quando perdeu na primeira rodada em Roma, algumas semanas atrás. "Sua confiança estava despedaçada, e acho que as opiniões de todos afetaram a cabeça dela, e ela mesmo achava que era ruim no saibro. Isso não é verdade [ser ruim no saibro], e ela sabe que para ir bem e ter uma chance de ganhar Roland Garros ela terá que acreditar que é possível. " ... "Então sua solução foi bloquear tudo. Sem conversar com pessoas que colocarão dúvidas em sua cabeça. Ela está protegendo sua mente, portanto isso é chamado de saúde mental" (leia a íntegra da declaração no tweet abaixo).

O post de Mari deu origem a uma repercussão muito negativa para Naomi. Muitos leitores e fãs comentaram que as irmãs estavam banalizando o uso da expressão "saúde mental" e que Naomi apenas não queria ouvir críticas. Por isso, pouco depois, Mari apagou o texto e publicou outro em seu lugar. O estrago, porém, já estava feito. O jornalista Ben Rothenberg, que escreve para o NY Times, também lembrou que Osaka não deu entrevista após sua derrota em Roma, o que pesa contra o argumento da tenista de que jornalistas colocam dúvidas na cabeça de atletas - algo citado por Naomi no anúncio do boicote.

Foi a primeira vez que Osaka falou abertamente sobre sintomas de depressão e ansiedade, especialmente como justificativa para o uso de fones de ouvido nos torneios.

"Embora a imprensa tenística tenha sempre sido gentil comigo (e quero me desculpar especialmente com todos jornalistas legais que eu posso ter magoado), não falo publicamente de modo natural e tenho grandes ondas de ansiedade antes de falar com a imprensa mundial. Fico muito nervosa e acho estressante tentar sempre engajar e dar as melhores respostas possíveis."

Osaka também deixou de lado a versão de que não gostaria de falar com pessoas que colocam dúvidas em sua cabeça, como escreveu na mensagem que anunciava o boicote. Nesta segunda, a versão foi bastante diferente.

"Aqui em Paris eu já estava me sentindo vulnerável e ansiosa, então eu achei melhor exercer autocuidado e não participar de entrevistas coletivas. Eu anunciei antes porque acho que as regras são muito antiquadas em partes e queria ressaltar isso. Escrevi privadamente ao torneio pedindo desculpas e dizendo que eu ficaria mais do que feliz em conversar com eles após do torneio, já que os slams são intensos."

A número 2 do mundo não explicou por que não respondeu quando foi procurada pela organização de Roland Garros e pelos torneios do Grand Slam para conversar sobre sua medida. Naomi, no entanto, deixou uma mensagem muito mais amigável na mensagem desta segunda, aceitando o diálogo.

"Vou dar um tempo das quadras agora, mas quando a hora for certa, realmente quero trabalhar com o Circuito para conversar sobre maneiras para melhorar as coisas para os jogadores, a imprensa e os fãs."

A retirada de Osaka significa que a romena Ana Bogdan avança por WO à terceira rodada em Roland Garros. Essa seção da chave também fica menos difícil para a espanhola Paula Badosa, cabeça de chave 33, que agora é a favorita para alcançar pelo menos as oitavas de final.