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ReportagemEsporte

Após a tormenta, comentários quentes e frios sobre Brasil x Alemanha

Para qualquer fã de tênis, os dois dias de confronto entre Brasil e Alemanha em São Paulo, válido pela fase de qualifiers da Billie Jean King Cup, foram memoráveis. Ibirapuera quase lotado, fãs de tênis empolgados, quatro partidas nervosas e emocionantes, Beatriz Haddad Maia jogando pela primeira vez para um grande público desde sua ascensão à elite do tênis, e um par de bravas atuações de Laura Pigossi e Carol Meligeni.

Mesmo agora (e escrevo isto de madrugada), já depois de algumas horas desde o fim do confronto, é fácil fazer comentários calorosos e emocionados sobre a série, que terminou com vitória da Alemanha por 3 a 1. Aqui vão alguns deles:

Mesmo com todos os bem conhecidos problemas do Ibirapuera, foi lindo rever o velho ginásio pulsando em partidas de tênis. Pessoas pulando, cantando, gritando os nomes das atletas brasileiras. Foi delicioso ver sobretudo Laura e Carol regendo a galera, empurrando e sendo empurradas em busca de vitórias quando as duas enfrentavam rivais de nível superior.

Laura foi ao seu limite. Pulou, gritou, correu e, quando parecia que não dava, ela pulava, gritava e corria um pouco mais. Foi à exaustão, com a perna travando em cãibras imediatamente após o match point. Deixou corpo e alma ali no saibro do Ibirapuera tentando salvar uma noite que começou com uma derrota de Bia. Acabou derrotada por Tatjana Maria, mas saiu de quadra aplaudida de pé, com o reconhecimento do público que via uma tenista corajosa tentando superar seus limites ao defender sua casa, seu país.

Carol transformou em palpável o que parecia impossível e reacendeu o Ibirapuera quando fez um segundo set memorável. Atual número 345 do mundo e escalada porque Laura não tinha as condições físicas ideais, a campineira venceu pela primeira vez uma parcial contra uma top 100 (Siegemund é a atual #85). Encontrou uma maneira variando entre direitas altas e slices de backhand. Fez Siegemund morder a isca e desandar a errar. Deu esperança a uma torcida que murchava e abandonava o ginásio. Ouvi de mais de uma pessoa a lembrança de Meligeni x Kucera no Rio de Janeiro. E quase deu. Carol até fez a derrota doer mais, e isso não é uma crítica. Pelo contrário. Fez jus a cada aplauso dos bravos fãs que ficaram até o fim.

Foi, apesar da derrota, um fim de semana de cenas bonitas. Até Bia saiu do seu "normal" mais comportado e gesticulou, convocando a torcida enquanto brigava consigo mesma para encontrar um padrão de tênis e controlar os nervos que a impediram de vencer na sexta e ajudaram a provocar um colapso no set inicial do sábado. Um esforço louvável que resultou em uma vitória sofrida, mas merecida. Comportamento que também mereceu palmas, como quase sempre é o caso com a postura da número 1 do Brasil. Às vezes, falta tênis. Normal. Atitude, porém, nunca lhe faltou.

Há também, caro leitor, comentários frios - quase antipáticos - que precisam ser feitos em algum momento. Sim, porque quando a carruagem volta a ser abóbora é preciso entender por que o Brasil perdeu. Sem tal compreensão, é impossível dar um passo adiante. Varrer o pó para debaixo do piso do Ibirapuera não fará bem a ninguém nem hoje nem amanhã. Aqui vão alguns desses tipos de comentários.

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O time alemão é mais forte. Sim, flerto com a obviedade aqui, mas é preciso lembrar que tanto Laura Pigossi quanto Carol Meligeni entraram em quadra como franco-atiradoras. Tatjana Maria, Laura Siegemund, Angelique Kerber e até Eva Lys - a única que nunca foi top 100 no time - são simplistas de respeito. E o capitão Rainer Schuettler ainda se deu o luxo de escalar Anna-Lena Friedsam para tentar derrotar Bia no sábado. Enorme ousadia. Ousadia de quem tinha margem para errar uma decisão. Privilégio que Luiz Peniza não tem.

No fim das contas, o resultado de mais peso do fim de semana foi a derrota de Bia Haddad diante de Laura Siegemund. Os outros jogos foram duros e nervosos, mas terminaram com os resultados mais prováveis. Em competições como a BJK Cup e a Copa Davis, a maioria das vitórias de times mais fracos acontecem quando um número 1 brilha e vence seus dois duelos nas simples (quem não viveu, pode jogar "Guga Davis Lérida 1999" no Google). Sem duas vitórias de Bia nas simples, um triunfo brasileiro era muito improvável.

Não dá para esconder: dentro de quadra, não foi um bom confronto para Bia Haddad. Desde o fácil forehand errado no primeiro game contra Siegemund até o sorriso-mais-de-alívio-do-que-de-festa após o match point contra Friedsam, a paulista mostrou-se tensa e com dificuldades para encontrar um tênis sólido e vencedor. Errou mais do que podia na sexta-feira, perdeu um set quase ganho no sábado e só não saiu do Ibirapuera com duas derrotas porque a fragilidade de Friedsam nas simples foi maior do que a montanha-russa mental da brasileira.

Laura e Carol têm suas limitações e, como com qualquer outro tenista, elas ficam ainda mais nítidas diante de adversárias que estão um patamar acima. Em jogos assim, Laura precisa gritar, vibrar e gastar mais energia do que o habitual. Energia que faltou no fim. Carol escondeu como pôde seus pontos fracos, mas seu jogo de paciência e pouco risco deixou a decisão da maioria dos pontos na raquete de Siegemund. A alemã empilhou erros não forçados (39), mas conseguiu agredir o backhand da brasileira com eficiência quando mais precisou. Quando Carol atacou mais, também errou mais e deu pontos valiosos para a adversária, sobretudo no primeiro set.

Não há vexames ou fracassos em confrontos assim. O Brasil, como um todo, foi muito bem dentro de suas possibilidades. Houve, porém, uma atuação de Bia Haddad abaixo do esperado. Abaixo das altas expectativas que ela mesma criou ao se colocar na elite do tênis mundial. Nada de errado nisso. Porém, na análise fria - e, repito, quase antipática - foi o que mais faltou ao time brasileiro dentro do que esse time podia apresentar.

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Não é questão de culpar Bia pela derrota do fim de semana. Longe disso. A paulista poderia ter vencido suas duas simples, e a Alemanha, que tem em Siegemund a duplista número 6 do mundo, poderia perfeitamente ter triunfado no quinto jogo. Contudo, reforço o que escrevi alguns parágrafos acima: esconder o pó não resolve o problema. Bia, hoje mais do que nunca, sabe disso.

Mais coisas que eu acho que acho:

- Siegemund é a melhor definição de tenista chata - no bom e no mau sentidos. Questiona marcações de linha o tempo inteiro, demora a se posicionar e deixa a adversária esperando para sacar, e ainda grita e provoca esporadicamente. Dito isto, é uma grande atleta. Tem personalidade para não se intimidar com torcidas adversárias, possui raça para ganhar pontos quando precisa das pernas e sabe como poucas o que fazer junto à rede. Uma curinga. O sonho de qualquer capitão.

- O discurso do time brasileiro é de que todas simplistas podem jogar e fazer um bom papel contra qualquer rival. Concordo. Foi exatamente isto que aconteceu neste fim de semana. Entretanto, para vencer oponentes de calibre como uma Alemanha, é preciso mais. Ou, pelo menos, grandes atuações seguidas da número 1 do país.

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