"Pato como Pirlo" só pode ser um engano de Osorio
Em entrevista ao programa Resenha ESPN, o técnico Juan Carlos Osorio falou sobre Alexandre Pato. O trecho que repercutiu foi a suposta comparação com Pirlo. Só que ela não faz sentido.
Em primeiro lugar, é importante ressaltar o respeito pela visão de jogo de Osorio. Não é essa a questão.
Quando o treinador menciona que enxerga Pato rendendo melhor na ponta esquerda, a afirmação tem total sentido. Embora seja possível questionar se não produz melhor como um segundo atacante, ele teve bom desempenho atuando por ali quando os dois trabalharam juntos no São Paulo.
Tudo depende do funcionamento coletivo. E com liberdade para partir da ponta para dentro, sem tanta responsabilidade na recomposição defensiva, pode explorar sua capacidade de finalização com a perna direita.
Logo, a primeira parte do raciocínio de Osorio é totalmente compreensível e nada absurda. O que fica confuso é o trecho final. Quando cita Pirlo na Juventus, a referência faria bem mais sentido como complemento do que como comparação.
Pirlo não atuava pela esquerda na Juve. E muito menos como ponta. Também não era um condutor de bola e, para completar, nunca foi um goleador, exatamente por não jogar em uma faixa minimamente comparável do campo (a não ser lá no início da carreira).
Pirlo era um volante. Esqueça os clichês sobre o nome da posição. Sim, o meio-campista mais recuado do time. E se destacava pela capacidade de armar por trás, recebendo a bola dos zagueiros e ditando o ritmo da distribuição. Mais uma vez, impossível a comparação com Pato.
Possível seria enxergar as características como complementares. Ter um meio-campista com tal qualidade no passe permitiria inverter jogadas e acionar mais vezes um ponta que aguarda o momento de fazer seu movimento em diagonal.
Sendo assim, ter um Pirlo potencializaria Pato na função desejada (eles jogaram juntos no Milan, inclusive). Mas não foi a frase dita. Era mais plausível e comum o debate sobre Ganso jogando "de Pirlo", mas o meia brasileiro não foi citado no contexto.
E a suposta comparação fica ainda mais misteriosa se lembrarmos que a Juventus não usava um ponta nos tempos de Allegri ou Conte. Tinha um ala de força física (Asamoah) ou Evra quando passa a usar linha de quatro. E quem explorava a faixa esquerda era Pogba, se projetando como meio-campista.
Diante de tudo isso, a ideia de Pato como Pirlo não tem sustentação. As virtudes destacadas pelo próprio treinador inviabilizam a sugestão de uma transformação mais radical. Confesso que vi e revi o trecho do programa para tentar encontrar alguma lógica. E só posso imaginar que tenha sido uma confusão na hora de citar o exemplo. Ou um engano na formulação da frase, deixando o raciocínio incompleto.
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