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Rafael Oliveira

Variações de Sampaoli são convite para falar mais de funções nas escalações

Jorge Sampaoli comanda o Atlético-MG em partida contra o Internacional no Mineirão - Alessandra Torres/AGIF
Jorge Sampaoli comanda o Atlético-MG em partida contra o Internacional no Mineirão Imagem: Alessandra Torres/AGIF

Colunista do Uol

06/12/2020 20h46

Ao longo de toda a temporada, um dos desafios mais interessantes é interpretar as escalações de Jorge Sampaoli a cada rodada. O treinador não hesita em modificar as formações, mas sempre há uma lógica na distribuição das peças na ocupação dos espaços no momento ofensivo.

O difícil mesmo é tentar traduzir de uma forma mais objetiva. Afinal, não há número que resuma corretamente as diferentes funções. O desenho pode até ser simples, mas não necessariamente segue uma lógica de pares (dois laterais, dois pontas, etc).

A partida contra o Internacional foi um bom exemplo (sem nem entrar no mérito da avaliação da atuação ou do jogo em si - é apenas um gancho para o tema).

Foram três zagueiros, ok. Mas e a partir daí? Como definir? Pois um 3-4-3 não descreve exatamente as funções, já que só havia ponta por um lado, assim como só um dos "alas" ia ao fundo.

Não é exclusividade do Atlético-MG, mas é uma necessidade cada vez maior no futebol mundial. Já não é possível falar em sistemas e funcionamentos apenas com 4-3-3, 3-4-3 ou 4-4-2. Eles ajudam a situar, como ponto de partida, mas, assim como o número de zagueiros, volantes ou atacantes, dificilmente carregarão a profundidade necessária para abordar as particularidades e princípios.

Falar em funções individuais e características complementares é fundamental para entender as ideias coletivas. Vale para qualquer equipe, pois as variações são constantes e as possibilidades, infinitas. Mas voltando ao Galo...

Allan era o volante na frente do trio de zaga. O quarteto iniciava a saída de bola. Um pouco mais para a frente, apenas as funções explicam a forma de atacar.

Arana era o ala pela esquerda, mas ataca por dentro, como um meio-campista (como geralmente faz, sendo lateral ou ala, com dois ou três zagueiros). O lado esquerdo contava com um ponta: Keno, que costuma receber bem aberto para potencializar suas arrancadas em diagonal, no um contra um.

No lado direito, o funcionamento já é outro. O meio-campista era Hyoran, enquanto o lateral/ala Guga tinha a liberdade para atacar o corredor e explorar a ponta. Afinal, ali não havia um atacante aberto.

Por dentro, Sasha era o mais avançado dos quatro "meio-campistas", uma faixa de campo que costuma explorar, seja como "9" ou "10". Contra o Inter, foi mais meia, pois Vargas era o atacante central, tentando se deslocar para criar opções de passe em profundidade.

Como resumir tanta informação com apenas três ou quatro números que simbolizam supostas linhas? Nada contra a numeração de formações táticas, relevante como ponto de partida e de identificação de padrões. Mas, em alguns casos, ela é insuficiente diante de tanta especificidade.

O Atlético de Sampaoli já apresentou diversas variações ao longo do Brasileirão. E há muito mais para abordar do que apenas o número de zagueiros ou de atacantes em campo. Falar sobre forma de jogar, seja sobre qual time for, exige cada vez mais profundidade.