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Rafael Oliveira

Brasil deveria aproveitar exemplos mundiais e parar o futebol

Torcida do PSG se concentra do lado de fora do Parc des Princes para o jogo contra o Borussia Dortmund pela Liga dos Campeões - Gonzalo Fuentes/Reuters
Torcida do PSG se concentra do lado de fora do Parc des Princes para o jogo contra o Borussia Dortmund pela Liga dos Campeões Imagem: Gonzalo Fuentes/Reuters

Colunista do Uol

13/03/2020 14h04

A semana foi caótica no calendário do esporte mundial. Inúmeras reuniões e atualizações a cada hora, afetando as mais diversas ligas. O motivo é o impacto do coronavírus e, evidentemente, a saúde pública global está em primeiro lugar.

Mesmo em um país apaixonado pelo futebol, o esporte não é a prioridade. O Brasil teve tempo para observar os acontecimentos e desdobramentos pelo mundo. Deveria ser suficiente para antecipar algumas questões e ter respostas práticas.

Na Europa, vimos exemplos positivos e negativos. A Itália foi a primeira impactada e o futebol passou dias tomando decisões incoerentes, relutando para que a competição seguisse dentro do possível.

Fechar os portões virou a alternativa preferida, fazendo o show continuar. É evidente que sempre existem questões financeiras, embora o produto também perca muito sem a atmosfera dos estádios. Só que a experiência mostrou duas falhas.

A primeira é que, por mais importante que seja reduzir as aglomerações, é bem mais difícil impedir a irresponsabilidade e inconsequência de torcedores que querem se reunir. O PSG, na Champions, foi um exemplo.

A segunda falha é a ideia de que o futebol é uma bolha. "Fechem os portões e sigam o show", pensam. Só esquecem que cada jogo, mesmo sem público, significa viagem, transporte e hospedagem para dezenas ou até centenas de pessoas. Jogadores, comissão técnica e staff seguem em contato com familiares, que vivem na mesma sociedade que acumula casos confirmados.

Vira questão de tempo. E algumas ligas precisaram do caso extremo para que as devidas decisões fossem tomadas. A Uefa só suspendeu jogos quando a Roma já não tinha permissão para voar para Sevilha ou quando o Getafe não teria como voltar de Milão. Depois, precisou que o zagueiro Rugani testasse positivo para que a Juventus tivesse seu jogo adiado. Que o Real Madrid entrasse em quarentena para adiar o duelo com o Man City. La Liga e Bundesliga também foram até o limite antes da suspensão.

A Premier League, idem. Emitiu um comunicado batendo o pé para a realização da rodada com estádios cheios. Minutos depois, recebeu a notícia do teste positivo de Mikel Arteta, técnico do Arsenal. Mais tarde, um caso confirmado no Chelsea. Outros suspeitos em Leicester, Bournemouth, Watford, e etc. A reunião de emergência, na manhã seguinte, naturalmente suspendeu o campeonato.

Inglaterra, Espanha, Itália, Alemanha, França, Portugal, Holanda, Bélgica, Escócia, Irlanda, Suíça, Áustria, Dinamarca, Croácia, Polônia, Noruega, Bulgária, República Tcheca, Romênia, Estados Unidos, Japão, China, Coreia do Sul, Colômbia, Peru, Venezuela, Paraguai e muitos outros países já estão com o futebol suspenso.

Sabendo que há casos confirmados no Brasil e observando o mundo, não deveria ser difícil entender que são circunstâncias atípicas. Mesmo que o primeiro momento permita partidas com portões fechados, decisões mais firmes serão necessárias. Por incrível que pareça, a Conmebol foi um exemplo positivo, se antecipando ao problema.

O futebol brasileiro poderia aproveitar para já trabalhar os diferentes cenários possíveis para regulamentos, calendários e desfechos das competições estaduais e nacionais. Ou vai esperar jogadores e elencos entrarem em quarentena na véspera dos jogos?