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Como bicampeão Max Verstappen ficou sem adversários à altura na Fórmula 1

Max Verstappen, bicampeão da F1, comemora sua vitória no GP do Japão - Clive Mason/Getty
Max Verstappen, bicampeão da F1, comemora sua vitória no GP do Japão Imagem: Clive Mason/Getty

Colunista do UOL

09/10/2022 07h23

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Se as regras de 2022 da Fórmula 1 foram pensadas para deixar a categoria mais competitiva, alguém esqueceu de combinar isso com a Red Bull e Max Verstappen. Depois de desafiarem simplesmente a equipe e o piloto mais vencedores da história da categoria ano passado, na disputa épica com Lewis Hamilton que lhe deu seu primeiro título mundial, o holandês de 24 anos deitou e rolou em cima da Ferrari e de Charles Leclerc para chegar ao bi com quatro corridas de antecipação.

A conquista veio em uma corrida complicada pela chuva, e com um final confuso com uma punição dada a Leclerc e a dúvida a respeito da pontuação, já que foi a primeira vez que uma regra que mudou neste ano foi aplicada. Mas Verstappen fez tudo parecer fácil, vencendo com 26s de vantagem para Sergio Perez, mesmo em uma corrida que acabou com metade das voltas programadas.

Ferrari começou melhor, mas Red Bull se tornou o carro do ano

Foi uma conquista que pode ser dividida em duas partes. Até o GP da França, era difícil dizer quem tinha o melhor carro, com a Ferrari parecendo ser forte em todo tipo de pista, e deixando a desejar apenas nas retas, quando a Red Bull tinha mais altos e baixos. Mesmo assim, Verstappen chegou à França com uma vantagem de 38 pontos, construída com a execução perfeita de um lado, e um sem número de erros, principalmente da equipe Ferrari, do outro.

A atualização que a Scuderia levou a Paul Ricard mudou o comportamento do carro e a história do campeonato. O F1-75 passou pela mesma fase que o RB18 tinha passado após as atualizações do GP da Espanha: ficou mais nervoso. E o que já era uma diferença bastante difícil de ser revertida virou lavada.

O bicampeonato, da maneira como foi conquistado, é a coroação de um trabalho que começou lá atrás, em 2016, quando Verstappen foi promovido no meio da temporada muito em função da pressão de seu pai, Jos, impaciente para ver o filho andando na frente. Ele correspondeu logo de cara, vencendo sua primeira corrida, mas até o GP de Mônaco de 2018 teve seus altos e baixos. O mesmo serve para a equipe, que passou por algumas temporadas um tanto perdida com fornecedores de motor e sem um conjunto que pudesse lutar pelo título.

Com a Honda, eles acharam o parceiro perfeito (ou quase, com a diminuição do envolvimento dos japoneses nesta temporada). A execução das corridas já vinha sendo um ponto forte. Verstappen já tinha deixado erros capitais de lado. E a mudança de regulamento deu a chance de que Adrian Newey precisava.

Sim, existe toda a suspeita em relação à maneira como a Red Bull interpretou as regras do teto orçamentário, em função de como o time é organizado. Mesmo que a FIA decida não punir a equipe, haverá sempre esse questionamento pela maneira como a equipe leu o regulamento para tirar vantagem.

Junte-se a isso a queda da Mercedes, que assistiu ao título do rival de 2021 enquanto não entendia completamente os altos e baixos de seu carro. E uma Ferrari ainda em construção, sem a mentalidade vencedora da era Schumacher. Sem ter a pressão direta de ninguém, o conjunto mais forte da F1 atual sobrou.

Verstappen foi se tornando imbatível ao longo da temporada

Verstappen teve lá suas dificuldades. Ficou na bronca com a equipe ao ter abandonado duas das três primeiras provas por problemas técnicos, que não voltariam a acontecer. No final do primeiro terço da temporada, estava sofrendo com o comportamento do carro, muito dianteiro, o que ficou bastante claro no único fim de semana ruim que teve em termos de performance, em Mônaco. Cometeu alguns erros na última parte da classificação, tentando tirar mais do que deveria de um carro que ficou devendo várias vezes para a Ferrari em uma volta lançada. E teve um GP recheado de frustração em sua pilotagem em Singapura após se irritar com um raro erro da Red Bull na classificação.

São momentos que têm de ser procurados com uma lupa em um mar de grandes atuações. As disputas na pista com Charles Leclerc foram sempre de altíssima qualidade, de ambos os lados. O ritmo de corrida, irrepreensível. E a maneira como ele limpou o pelotão quando largou mais atrás, especialmente na exibição histórica de Spa, calculando os riscos mas sendo bastante decidido ao mesmo tempo, não deixa dúvidas de que, neste momento, Verstappen e a Red Bull não têm adversários na F1.