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A F1 está usando o Safety Car para deixar as corridas mais imprevisíveis?

Safety car entrou na pista logo nas primeiras volta dos GP da Rússia - Yuri Kochetkov/Reuters
Safety car entrou na pista logo nas primeiras volta dos GP da Rússia Imagem: Yuri Kochetkov/Reuters

Colunista do UOL

15/10/2020 08h34

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A temporada da F1 tem chamado a atenção pela quantidade de períodos de Safety Car, que inclusive têm sido questionados pelos pilotos. A suspeita é que isso vise usar uma brecha no regulamento para dar mais emoção às corridas, já que essas interrupções fazem com que o pelotão fique agrupado. E, em um campeonato em que os carros de Mercedes e Red Bull têm carros muito superiores que os demais, conseguindo dar uma volta em praticamente todo o grid em condições normais, isso também permite que pilotos recuperem voltas perdidas e voltem à disputa.

Na corrida do último domingo, o segundo colocado Max Verstappen disse que o carro de Lando Norris, que parou na área de escape a 15 voltas do fim, "poderia ter sido coberto por um safety car virtual, mas acho que eles quiseram tornar a corrida empolgante de novo por conta das diferenças [entre os carros]." Mas será que as suspeitas têm fundamento?

Nas 11 provas disputadas até aqui, apenas três delas (GP da Estíria, Hungria e dos 70 Anos) não tiveram períodos de Safety Car. A crítica não é pela interrupção das corridas em si, mas um questionamento quanto à necessidade de efetivamente colocar o Safety Car na pista, uma vez que, desde 2015, existe uma opção intermediária: usar o Safety Car Virtual, ou seja, apenas indicando para os pilotos o tempo máximo de volta em que eles podem andar na pista, diminuindo, assim, sua velocidade de forma considerável enquanto os fiscais limpam a pista. As regras deixam claro que cabe ao diretor de prova, Michael Masi, interpretar se a corrida pode seguir normalmente em caso de algum incidente só com bandeiras amarelas localizadas (indicando que o piloto tem de diminuir significativamente o ritmo naquele setor), ou se o VSC ou o SC são necessários.

Como funciona a regra do Safety Car?

A regra é bem interpretativa nesse sentido. No caso do Safety Car normal, com o carro de segurança na pista, o regulamento esportivo da F1 diz que ele "será usado somente se os competidores ou fiscais estão em perigo físico iminente na pista ou perto dela, mas as circunstâncias não levam à necessidade de suspender a corrida." E, no caso do Safety Car Virtual, a regra diz que ele é usado "normalmente quando bandeiras amarelas duplas são necessárias e os competidores ou fiscais estão em perigo físico iminente na pista ou perto dela, mas as circunstâncias não levam à necessidade um SC."

Lembrando que as bandeiras amarelas duplas significam que o piloto deve não apenas diminuir o ritmo, como também deve estar preparado para parar o carro, o que geralmente vinha acontecendo era o uso de Safety Car somente quando tratores tinham que entrar para retirar carros da pista. A entrada de fiscais de pista para retiradas rápidas (quando o carro está próximo de uma saída) era feita com regime de VSC.

Mas a preferência ao uso do Safety Car normal já chamou a atenção desde a primeira etapa, já que isso aconteceu três vezes no GP da Áustria - e, em duas delas, nos abandonos de Magnussen e Russell, a impressão foi de que, em anos anteriores, seriam casos cobertos pelo Safety Car Virtual.

GP da Estíria - Mark Thompson / various sources / AFP - Mark Thompson / various sources / AFP
O GP da Estíria foi um dos três em que não houve um SC neste ano após 11 GPs disputados
Imagem: Mark Thompson / various sources / AFP

Na época, Masi foi questionado sobre o assunto e apenas disse que essa foi sua opção, lembrando que ele tem total autonomia para fazer esse tipo de intervenção. E essa postura mais cautelosa se manteve ao longo da temporada.

Há um detalhe importante a ser lembrado: por conta do coronavírus, a Fórmula 1 tem usado alguns circuitos mais antigos e que mantêm o uso de brita nas áreas de escape. Para recuperar um carro na brita, é preciso que os tratores entrem na pista, e isso gera a necessidade de um Safety Car normal. E outros carros tiveram que ser recuperados, também em pistas que sempre são usadas no calendário, de áreas de brita. Dentro desse cenário, estão os SC da Toscana, Espanha, os dois do GP da Grã-Bretanha. Em outras duas situações (batida entre Leclerc e Stroll na primeira volta do GP da Rússia, em circuito de rua e em que os fiscais trabalham perto da pista, e na forte batida entre Giovinazzi e Russell na Bélgica), o Safety Car normal também foi justificado.

Além disso, houve três bandeiras vermelhas. Duas delas (no GP da Itália e no GP da Toscana) para refazer barreiras bastante danificadas após acidentes fortes, e a terceira, também na Toscana, depois de uma batida de grandes proporções que envolveu vários carros.

Quais decisões podem ser questionadas?

No GP da Itália, houve um Safety Car para recolher o carro de Kevin Magnussen que gerou dúvidas, uma vez que havia abertura para simplesmente puxar o carro para o lado de dentro do muro, mas Masi argumentou que o espaço não era suficiente e, por isso, o carro teve de ser empurrado para o pitlane. Esse acabou sendo um lance decisivo na corrida, já que gerou uma punição a Lewis Hamilton por ter entrado nos boxes enquanto eles estavam fechados justamente por essa movimentação de retirada da Haas.

E, na corrida que gerou a queixa de Hamilton e Verstappen, no último final de semana, Lando Norris parou sua McLaren próximo de uma área em que o carro poderia ser retirado sem que o trator tivesse que entrar na área de escape, mas a opção da direção de prova foi por usar o Safety Car normal porque o carro começou a ter um pequeno incêndio.