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F1: Como a Mercedes conseguiu uma vantagem tão grande em 2020?

Valtteri Bottas cumprimenta Lewis Hamilton, líder do campeonato após 3 corridas - Leonhard Foeger/Pool via Getty Images
Valtteri Bottas cumprimenta Lewis Hamilton, líder do campeonato após 3 corridas Imagem: Leonhard Foeger/Pool via Getty Images

Colunista do UOL

28/07/2020 04h00

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A Fórmula 1 teve apenas três corridas neste ano, mas a Mercedes já tem mais que o dobro de pontos da segunda colocada, a Red Bull, e quase 100 a mais que a Ferrari, equipe que foi sua principal rival nos últimos três anos. Lewis Hamilton, que busca seu sétimo título mundial, acredita que o carro deste ano da equipe que venceu os últimos seis campeonatos é o melhor que ele já pilotou correndo pela equipe e mesmo as duas corridas realizadas no Red Bull Ring, onde a Mercedes sofreu nos últimos anos, foram vencidas pelo time nesta temporada. Mas, afinal, como eles conseguiram alcançar um nível tão alto?

O carro

A disputa dos títulos de 2014 a 2016 ficou totalmente limitada aos dois pilotos da Mercedes - na época, Lewis Hamilton e Nico Rosberg - muito em função de uma vantagem que o time conseguiu com o motor, depois da adoção dos V6 turbo híbridos, em 2014, e também pelo carro ser bastante equilibrado. As coisas começaram a mudar em 2017, quando mudanças de regras aerodinâmicas fizeram com que os carros seguintes fossem mais "nervosos" que os anteriores, e tivessem uma janela de operação menor. Ou seja, eles funcionavam da melhor forma possível sob condições bastante específicas.

Na verdade, parte do sucesso da equipe nas últimas três temporadas tinha relação com a suspensão que conectava por um sistema hidráulico os eixos dianteiro e traseiro, tornando o comportamento do carro mais harmônico, mas que foi banido em 2017. Assim, especialmente em pistas de asfalto liso, com pouco atrito, a Mercedes não conseguia gerar temperatura suficiente. Ou, em condições de mais calor, superaquecia os pneus. Para complicar, isso por vezes acontecia só no eixo traseiro, ou só no dianteiro.

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Valtteri Bottas, da Mercedes, cruza a linha de chegada do GP da Estíria
Imagem: Joe Klamar / various sources / AFP

Ano após ano, esses comportamentos foram sendo corrigidos, sem que a Mercedes se rendesse a buscar uma mudança radical no carro. Até que, em 2019, eles eram os únicos que usavam os bicos mais largos, maior distância entre eixos e menor diferença de angulação entre a dianteira e traseira.

E conseguiram fazer esse combo funcionar cada vez melhor, até chegar no "refinado" modelo de 2020, como explicou Hamilton. "Trabalhamos muito duro ano passado, sendo muito claros e concisos ao escolher quais os problemas que o carro de 2019 tinha e o que queríamos mudar. Isso só é possível com a ótima comunicação que temos entre os pilotos e a equipe, os engenheiros, a compreensão que temos e a terminologia que usamos."

O motor

Essa evolução do carro já era esperada, pois veio sendo gradual nos últimos anos e era ajudada pelo fato de o regulamento ter ficado estável de 2019 para cá. Mas o passo mais impressionante foi no motor. Em fevereiro, o diretor técnico James Allison já comemorava "um avanço realmente impressionante" do departamento de motores, com "muitos cavalos a mais" em relação ao ano anterior. E o então chefe da divisão de unidade de potência da Mercedes, Andy Cowell, que na época já havia comunicado sua saída do cargo ao time, revelou que a tolerância em termos de temperatura tinha aumentado de maneira significativa. O superaquecimento do motor foi uma dificuldade da Mercedes em anos anteriores, e está diretamente associado à possibilidade de os pilotos serem liberados para usar o máximo do motor por mais tempo.

A estabilidade

toto wolff - Divulgação/Mercedes - Divulgação/Mercedes
Toto Wolff está no comando do time desde 2013
Imagem: Divulgação/Mercedes

Tudo isso só foi possível porque a equipe não passou por grandes mudanças nos últimos anos. A harmonia entre o engenheiro de pista Peter Bonnington e Lewis Hamilton (dupla que trabalha junta desde 2013) é fundamental para que a informação sobre o comportamento do carro seja bem passada para os engenheiros, e a estabilidade não para por aí: a última grande adição ao time de engenheiros que lidera a parte técnica da equipe foi James Allison, em 2017. Mas o restante da equipe está lá desde antes disso (alguns, desde a época em que a Mercedes era Honda): Geoff Willis (diretor de processos de engenharia), Mike Elliot (chefe de aerodinâmica) e John Owen (projetista-chefe).

No comando da equipe em si, também pouca coisa mudou nos últimos anos, com Toto Wolff como chefe desde 2013. Ele tinha Niki Lauda como presidente não-executivo e braço-direito até o ano passado, quando o tricampeão austríaco faleceu. Já entre os pilotos, a única mudança de 2013 para cá foi a substituição de Rosberg, que se aposentou após ser campeão em 2016, por Valtteri Bottas em 2017.