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Moss tentou testar carro de Piquet com capacete aberto em 83. Mas desistiu

Stirling Moss tentou usar capacete dos anos 1950 para andar com carro de Piquet - Divulgação
Stirling Moss tentou usar capacete dos anos 1950 para andar com carro de Piquet Imagem: Divulgação

Colunista do UOL

19/04/2020 04h00

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Há uma semana, o mundo do automobilismo perdeu um dos melhores pilotos do pós-guerra, Sir Stirling Moss, aos 90 anos. Mesmo nunca tendo sido campeão do mundo na Fórmula 1, o britânico venceu 16 das 66 provas que disputou na categoria e ficou conhecido como o maior rival do pentacampeão Juan Manuel Fangio. Mais do que isso, a longevidade de Moss fez com que ele se tornasse a grande referência da época em que o automobilismo desafiava todo e qualquer padrão de segurança.

E um bom exemplo disso aconteceu em um momento até improvável: quando Moss pediu para testar o BT52, carro com que Nelson Piquet conquistou seu bicampeonato mundial, em 1983, pela Brabham. O teste aconteceu no final daquele ano, ou seja, 21 anos depois do acidente que encerrou a carreira de Moss, em Goodwood. Na ocasião, ele ficou em coma por um mês e perdeu parte dos movimentos das pernas por seis meses.

Duas décadas depois, aos 54 anos, Moss pediu ao chefe de Piquet, Bernie Ecclestone, para pilotar o carro daquele ano, em história que está narrada no livro Brabham BT52 Owners? Workshop Manual. Por que Moss escolheu exatamente aquele carro? Seu biógrafo, Simon Taylor, conta que o britânico estava curioso para saber como seria pilotar uma máquina equipada pelo potente motor BMW turbo, que chegou a produzir mais de 1300 cavalos nos anos seguintes, mas que já chegava razoavelmente perto disso na época. Para se ter uma ideia, os motores atuais, V6 turbo híbridos, mal passam dos 1000cv.

O desejo de Moss se concretizou no circuito britânico de Brands Hatch, na versão mais curta da pista, na qual a lenda andou junto dos italianos Pierluigi Martini e Ivan Capelli, que ainda não tinham estreado na F-1 na época, e do pouco experiente norte-americano Davy Jones.

É de se imaginar o tamanho da surpresa dos jovens pilotos quando Moss apareceu com seu macacão feito de seda e capacete com a parte da frente aberta e óculos, no estilo que era usado até meados da década de 1960.

"Eu tive uma dispensa da FIA de usar o equipamento atual, ou seja, pude andar com meu capacete aberto. Só eu eu o Jack Brabham conseguimos isso", relembrou Moss anos depois. "Isso também quis dizer que eu pude usar meu macacão original ao invés dessa coisa atrapalhada que eles usam hoje".

Mas o britânico logo percebeu que o BT52 era bem diferente do último carro de Fórmula 1 que ele tinha pilotado, o Lotus 18, cujo motor não chegava a produzir 250 cavalos e potência no início dos anos 1960. E logo desistiu da ideia de pilotá-lo, basicamente, de cara para o vento. Ele começou lentamente mas, assim que acelerou e "chamou" a potência do motor, voltou aos boxes e gritou "eu preciso do meu capacete! Não consigo respirar!"

Paramentado com um capacete mais moderno, Moss se divertiu com a experiência. "Foi algo que abriu meus olhos porque eu obviamente tinha muito mais potência do que jamais tinha experimentado", disse o piloto, que venceu 212 das 529 corridas que disputou ao longo da carreira. "A grande diferença, claro, foram os pneus slick (lisos), com os quais nunca tinha corrido, e fiquei impressionado pela maneira como você acelera e o carro gruda no chão. A experiência me impressionou imensamente."

Moss fez aproximadamente 60 voltas no teste e fez sua melhor volta na versão que foi usada durante a atividade em Brands Hatch, com 46s90, mas acabou sendo mais lento que os pilotos mais jovens que andaram no mesmo dia: Martini foi o mais rápido com 41s75, enquanto os outros dois pilotos andaram na casa de 43s. Não que Moss estivesse enferrujado: ele tinha voltado recentemente às pistas, ainda que não com muito sucesso, no campeonato de turismo britânico.

O fato é que a evolução dos carros da F-1 desde o último ano de Moss no campeonato, 1961, havia sido impressionante não apenas em termos de potência e de aerodinâmica, que mudara completamente a aparência dos carros em 20 anos, mas também em termos de padrões de segurança: quando Moss encerrou sua carreira na Fórmula 1, a categoria ainda usava o oval inclinado de Monza, corria no Nordschleife em Nurburgring - circuito de quase 26km em meio a uma floresta na Alemanha - e na versão mais longa, de 14km de Spa-Francorchamps.

Moss foi quatro vezes vice-campeão da Fórmula 1 entre 1955 e 1958, e ainda foi por três vezes terceiro colocado nos anos seguintes, quando estava correndo pela equipe privada RPC Walker Racing, bem menos poderosa que a Ferrari, Lotus e Cooper na época. Depois de se recuperar do acidente sofrido em Goodwood em 1962, Moss continuou se apresentando em carros históricos até abandonar as pistas definitivamente aos 81 anos. Ele faleceu no último domingo, aos 90, depois de anos afastado de aparições públicas após uma longa internação no final de 2016 devido a problemas pulmonares.