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Todt diz que não acreditou em defesa da Ferrari e revela pedido de protesto

Jean Todt foi reeleito como presidente da FIA - Clive Mason/Getty Images
Jean Todt foi reeleito como presidente da FIA Imagem: Clive Mason/Getty Images

Colunista do UOL

15/04/2020 11h53

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Uma novela que acabou sendo pelo menos adiada pela crise causada pela pandemia do coronavírus na Fórmula 1 ganhou mais um capítulo após as revelações do presidente da Federação Internacional de Automobilismo, Jean Todt, que afirmou ter instruído que as rivais do time italiano entrassem com um protesto contra a equipe no final do ano passado, e deixou claro que a FIA não acredita que a Scuderia competiu legalmente. "Não acreditamos [que eles estavam correndo legalmente]. Entretanto, não conseguimos provar as dúvidas que tínhamos 100%."

Após meses de investigação, como não estava satisfeita com as explicações da Ferrari, e ao mesmo tempo não conseguia provar que o equipamento italiano estava fora do regulamento, a FIA entrou em um acordo cujos termos, revelou Todt, só podem ser esclarecidos pela própria Ferrari.

A suspeição a respeito do motor ferrarista começou em 2018 e se intensificou (juntamente com a vantagem de potência especialmente nas classificações e em momentos pontuais nas corridas) ano passado. Os rivais, porém, não sabiam exatamente o que a Ferrari fazia diferente, e demorou até outubro para a Red Bull questionar se era possível estar, momentaneamente, com o fluxo de combustível acima do permitido e, mesmo assim, estar dentro do regulamento.

O questionamento foi feito porque a avaliação do time era de que este era o ponto irregular da Ferrari, e isso gerou uma diretiva técnica (algo que funciona como uma medida provisória nas regras da F-1) que proibia tal prática de forma mais específica. Ela veio logo antes do GP dos Estados Unidos, justamente a etapa a partir da qual a vantagem ferrarista diminuiu sensivelmente.

Mas Red Bull e Mercedes cobravam uma ação mais enérgica da FIA e seus chefes se reuniram com Todt em Abu Dhabi, logo antes da última etapa do campeonato do ano passado. Foi nesta ocasião, segundo Todt, que ele teria falado pela última vez sobre o protesto formal. "Quando percebemos que o motor poderia não estar funcionando de maneira legal e os rivais nos informaram sobre suas dúvidas, decidimos primeiramente acabar com essas dúvidas no futuro. E elas não vão mais existir, para a satisfação de todas as equipes, menos a Ferrari. E, depois disso, aconselhei as equipes a protestar. Por isso fiquei chateado quando as equipes disseram que eu não aconselhei um protesto. Foi justamente o contrário", disse Todt à publicação alemã Auto Motor und Sport.

Em um eventual protesto, a equipe rival teria de apresentar tecnicamente o que estaria ilegal no motor ferrarista. Além disso, agir desta maneira desestabilizaria a relação entre as equipes e daria mais chances de FIA e F1 barganharem justamente em um momento de renovação de contratos com os times. Um racha seria, politicamente, bem-vindo.

Mesmo sem protesto, a FIA decidiu investigar o caso mais a fundo. "O mais fácil a fazer seria deixar a poeira baixar, mas pedi que investigassem a situação da maneira mais profunda possível. Mas a Ferrari não aceitou nossos argumentos. Na opinião dos nossos engenheiros e dos conselheiros legais, não conseguimos provar 100% que eles estavam fazendo algo de errado", explicou Todt. "É algo que acontece todo dia: chamamos isso de presunção de inocência."

Questionado se poderia ter levado a questão ao tribunal desportivo, Todt admitiu que a FIA fez um acordo com a Ferrari para evitar "controvérsias desnecessárias" e adicionou que a federação, embora queira divulgar todo o parecer, não pode fazê-lo justamente por conta do acordo. "A Ferrari concordou com isso colocando como única condição que essas discussões permaneçam confidenciais. E concordamos com isso. Não tínhamos escolha."

O que mais irritou as equipes rivais foi a divulgação de um comunicado simples dizendo que a federação tinha chegado a um acordo confidencial e que a Ferrari trabalharia junto à FIA para que casos semelhantes não voltassem a acontecer. Mas, segundo Todt, isso foi melhor do que "jogar a sujeira debaixo do tapete, pois senti que era importante dizer ao público que havia acontecido uma investigação".

Todas as discussões do caso Ferrari perderam força devido às incertezas causadas pela pandemia, mas prometem voltar com tudo assim que a F-1 retornar às pistas. Isso porque uma das decisões tomadas para minimizar os danos financeiros do covid-19 foi manter o mesmo regulamento para 2021, com um muito provável congelamento do desenvolvimento dos motores.