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A 100 dias de Paris, Brasil só tem três favoritas ao ouro

Faltando 100 dias para os Jogos Olímpicos de Paris, o Brasil só tem três atletas/times que podem ser considerados favoritos a uma medalha de ouro. Todas mulheres: Beatriz Ferreira, na categoria até 60kg do boxe, Rebeca Andrade, no salto, e a dupla Ana Patrícia/Duda, no vôlei de praia.

Significa que o Brasil só vai ganhar três medalhas de ouro? Provavelmente não. Mas, para ter resultados melhores, vai ter de apresentar desempenhos melhores daqui até as Olimpíadas.

Mesmo nessas três disputas em que as brasileiras são favoritas, a folga não é grande.

Beatriz Ferreira só perdeu uma luta no ciclo olímpico (para a norte-americana Rashida Ellis, na final do Mundial de 2022), mas sua maior rival, a irlandesa Kellie Harrington, de quem perdeu na final de Tóquio-2020, foi ainda melhor: venceu todos os seus combates. A favor da brasileira, o fato de ter lutado dois Mundiais, enquanto a europeia ficou fora deles.

Rebeca Andrade vem de ouro em Tóquio e é a atual campeão mundial no salto. Também fez, no Pan, a melhor execução do ciclo olímpico no mundo todo. O problema para a brasileira se chama Simone Biles, que não vai querer deixar escapar este ouro e tem saltos mais complexos na manga.

Já Duda e Ana Patrícia são a melhor dupla do mundo no vôlei de praia, mas foram prata no último Mundial. Duda já viveu isso no ciclo passado: ela e Ágatha eram favoritas em Tóquio-2020, mas não chegaram ao pódio. As brasileiras carregam a estatística de terem vencido cinco dos últimos oito 'Elite 16', torneio mais importante do circuito mundial.

Entre os homens, o nome mais consolidado pelo ouro é Gabriel Medina, que costuma se dar muito bem em Teahupo'o, praia onde vão ocorrer as provas de surfe de Paris-2024. De nove etapas que disputou ali, foi finalista em seis. Também deu um show para vencer o ISA Games e se classificar à Olimpíada. Mas, na temporada da WSL, vem fazendo uma temporada irregular.

Falta impressionar

De forma geral, os brasileiros candidatos (não favoritos) ao ouro ainda não encantaram em 2024. Seja por que a temporada não começou para valer, como é o caso de Alison dos Santos, o Piu, nos 400m com barreiras, ou por que outros atletas tiveram desempenho melhor.

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Um bom exemplo é o skate. O Brasil pode ganhar ouro em três provas e medalhar em todas as quatro. Mas, no Mundial de Dubai, no começo do ano, só Luigi Cini, com prata no park, subiu ao pódio. Rayssa Leal, sempre candidata a títulos, este ano foi oitava no Mundial e prata na SLS de Paris.

No judô, Mayra Aguiar vai atrás do ouro que falta na sua coleção de três medalhas olímpicas. Mas ela não vem respaldada por grandes conquistas recentes, porque tem lutado pouco. Em 2023 inteiro só foi a dois Grand Slams — foi ouro em Tóquio e bronze em Baku.

Ana Marcela Cunha, que é a atual campeã olímpica da maratona aquática, é candidata a repetir o ouro, mas seus resultados na distância não estão neste patamar. Foi quarta no Mundial deste ano e quinta no de 2023. Em Copas do Mundo, vem de um quinto lugar. Passou parte de 2023 machucada e sua última vitória internacional foi em 2022.

Outro campeão olímpico, Isaquias Queiroz, vem de um 2023 atípico, quando se afastou dos treinamentos. Conquistou a vaga olímpica com um sexto lugar no Mundial, mas ainda não teve a chance de fazer uma apresentação para o mundo da canoagem dizer: "ele voltou". Para piorar, não pode remar a seletiva olímpica no C2 e o Brasil corre risco de nem se classificar para uma prova na qual seria forte candidato à medalha com Isaquias e Filipe Vieira.

Martine e Kahena não são só campeãs olímpicas. São bi. Mas vêm em péssima fase. No Princesa Sofia, prévia da Olimpíada, tiveram o pior resultado da carreira — de longe. Terminaram em 25º, sendo que nunca na vida haviam ficado fora das 12 primeiras de qualquer competição. Podem surpreender, mas não vão chegar a Paris como favoritas ao ouro.

Marcus Vinicius D'Almeida lidera o ranking mundial do tiro com arco, venceu o Finals, venceu o torneio de Las Vegas, maior do mundo em número de participantes, mas foi "só" bronze no Mundial e sequer medalhou Campeonato Pan-Americano disputado em Maricá este mês, na prova individual. Uma inconstância que não o coloca como grande favorito ao ouro olímpico.

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Passo além

Ainda que não vá repetir (muito menos superar) o número de atletas que levou a Tóquio-2020, o Brasil vai a Paris com um número recorde de "possibilidades de medalha" e tem boas chances de transformar isso, de fato, em um recorde de medalhas.

Mas, a 100 dias do início dos Jogos, segue a carência de grandes destaques, atletas que dominam suas provas internacionalmente. Já era esta a leitura na virada do ano (escrevi aqui) e segue o mesmo cenário depois de quatro meses.

Ainda dá tempo de mudar, mas, como se vê, o tempo passa rápido e a Olimpíada (desculpe o clichê) é logo ali.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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