Olhar Olímpico

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Brasil tem bom ano olímpico, mas carece dos ouros que precisará em Paris

Em um ranking mundial que considera os oito melhores resultados de cada dupla na temporada, Duda e Ana Patrícia se dão ao luxo de descartar tudo que não seja uma medalha em um evento de primeiro nível no vôlei de praia. Em sete finais, ganharam cinco. Mas o que entra para a estatística de fim de ano é que elas foram medalhistas de prata no Campeonato Mundial.

É cruel medir o desempenho do esporte brasileiro com base nos resultados de Campeonatos Mundiais, mas, afinal, é assim que funciona em Jogos Olímpicos e Pan-Americanos. Após um ciclo inteiro, incontáveis competições, o que vai para o quadro de medalhas é o desempenho em um torneio de tiro curto.

Em 2023, o Brasil teve um bom ano, de forma geral, nos esportes ditos olímpicos. Mas, pensando nos Jogos de Paris, em meados do ano que vem, ficaram faltando as medalhas de ouro que, historicamente, são o primeiro critério para posicionar os países nos quadros de medalha. Em Tóquio, foram sete, e a expectativa para Paris é melhorar.

A temporada termina com três ou quatro ouros para o Brasil, a depender dos critérios. Rebeca Andrade foi campeã mundial no salto, na ginástica artística, e, Beatriz Ferreira, na categoria até 60kg do boxe. Filipe Toledo ganhou a WSL de surfe e Rayssa Leal foi campeã do Mundial de Skate Street de 2022, que só foi disputado em 2023. No de 2023, já quase no Natal, terminou com a prata. A dúvida é se o primeiro entra ou não para a conta.

Pensando em Jogos Olímpicos, é um desempenho frustrante. São só dois ouros que podem se transportar para Paris. Filipinho ganhou o circuito de surfe, mas a competição olímpica será no Taiti, em condições que não o favorecem, onde ele foi só nono colocado este ano. Melhor do mundo naquelas ondas e vice na etapa deste ano, Gabriel Medina ainda não está classificado para a Olimpíada.

No caso de Rayssa, não há dúvidas de que ela está entre as melhores do mundo, na pista que for, mas a brasileira vai a Paris não como campeã mundial, mas como vice, e segunda do ranking mundial. E com meninas mais jovens que ela, como Chloe Covell, em seu calcanhar.

Contando também as medalhas de Augusto Akio e Pedro Barros no Mundial de Skate Park de 2022 realizado em 2023, o Brasil fechou o ano com 20 pódios em uma temporada que não teve Mundiais de vôlei de quadra, por exemplo. Em 2022, o país ganhou prata e bronze no seu velho "carro chefe". Também não houve competição de referência para o futebol masculino, onde o Brasil é atual bicampeão olímpico, e candidatíssimo, desde já, a tri — antes, precisa se classificar pelo Pré-Olímpico, no mês que vem, na Venezuela.

Onde não deu

Atletas importantes, cotados ao pódio, e até ao título olímpico em Paris-2024, falharam em Mundiais, por razões diversas. Bruno Fratus, 34, com problemas físicos e cuidando também da saúde mental, não foi ao Mundial de Esportes Aquáticos. Ana Marcela Cunha, 31, trocou de técnico na véspera da competição e foi só quinta colocada nos 10km, ainda sem vaga olímpica.

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Mayra Aguiar, 32, optou por não ir ao Mundial de Judô defender o título conquistado em 2022, mas voltou com tudo ao circuito, conquistando um ouro inédito para o país no Grand Slam de Tóquio. Isaquias Queiroz, 29, passou quase um semestre inteiro sabático, rompido com a seleção, e quase não treinou antes de ir para o Mundial, onde foi só sexto.

Martine Grael e Kahena Kunze, ambas 32, atuais bicampeãs olímpicas, não levaram o barco principal para o Mundial de Haia, não velejaram bem, e terminaram até fora da zona de classificação para Paris (depois, conquistaram a vaga pelo Pan).

Bem mais jovem, Alison Piu, 23, sofreu uma lesão grave no início do ano, precisou passar por cirurgia, até voltou a tempo do Mundial de Atletismo, mas longe da melhor forma física para defender o título. Terminou em quinto. Já Thiago Braz não foi ao Mundial por culpa própria: caiu no doping e está suspenso.

De onde vieram as medalhas

Eleita melhor atleta feminina do país em 2023 no Prêmio Brasil Olímpico, Rebeca Andrade ajudou o país a ganhar cinco medalhas mundiais no ano. O ouro no salto, a prata no solo e no individual geral e o bronze na trave, em provas individuais, e a prata por equipes. Com a volta das norte-americanas Gabby Douglas e Sunisa Lee, e a autorização para russas buscarem vagas olímpicas, a tendência é a disputa em Paris ser ainda mais dura.

No skate, entraram para as estatísticas a prata de Augusto Akio (no Mundial de 2022) e Luigi Cini (no de 2023) e o bronze de Pedro Barros (no de 2022), sempre no park. Mas o Brasil ainda venceu a SLS no skate street com Giovanni Vianna e viu Raicca Ventura, em plena evolução, ser quarta colocada no Mundial de park.

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As medalhas de bronze vieram com Beatriz Souza (judô), Caio Bonfim (atletismo), Flávia Saraiva (ginástica artística), Maria Clara Pacheco (taekwondo), Marcus Vinicius D'Almeida (tiro com arco), Rafael Silva (judô) e Wanderson Oliveira (boxe). Com boa vontade, dá para contar um bronze para Bia Haddad Maia, semifinalista de Roland Garros, onde será a competição de tênis da Olimpíada.

Outros atletas tiveram boa temporada, não subiram ao pódio nos Mundiais, mas estão cotados para medalhas em Paris. A lista tem Rafaela Silva (terceira do ranking mundial do judô), Guilherme Schmidt (quarto no judô), equipe de judô (quarta do mundo), Hugo Calderano (quinto no tênis de mesa), George/André (sextos no vôlei de praia), Camilla Lopes (segunda na ginástica de trampolim), Guilherme Costa (quarto nos 400m livre no Mundial), Keno Marley, Jucielen Romeu e Abner Teixeira (todos classificados à Olimpíada no boxe),

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