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Olhar Olímpico

Nunca houve um coadjuvante tão protagonista como Escadinha

Sérgio Escadinha, líbero da seleção brasileira de vôlei, beija a medalha de ouro conquista nas Olimpíadas de Atenas, em 2004 - Adam Pretty/Getty Images
Sérgio Escadinha, líbero da seleção brasileira de vôlei, beija a medalha de ouro conquista nas Olimpíadas de Atenas, em 2004 Imagem: Adam Pretty/Getty Images

Amauri foi o elo solitário entre as gerações de prata de 1984 e a do ouro de 1992. Giovane e Maurício representam a união entre grupos tão destintos quanto aquele campeão em Barcelona e o que foi ao alto do pódio em Atenas, 12 anos depois. Serginho foi além, muito além. Durante uma década e meia, os protagonistas de uma seleção quatro vezes finalista olímpica foram se renovando, mas melhor coadjuvante que um time de vôlei poderia era sempre Escadinha.

Os resultados falam por si. Das seis medalhas olímpicas do vôlei brasileiro, Serginho conquistou quatro (ouro em 2004 e 2016, prata em 2008 e 2012). Em Mundiais são dois ouros e uma prata, porque em 2010, quando o Brasil também foi campeão, ele estava machucado. Fez 10 finais de Liga Mundial, com sete títulos. Só não ganhou mais por causa da cirurgia de 2010 e, porque, entre 2013 e 2015, esteve "aposentado" da seleção.

Aquela primeira aposentadoria, então válida apenas para a seleção brasileira, durou apenas duas temporadas. Seduzido pela possibilidade de brigar por um ouro olímpico em casa, comandando a velha geração de "senadores", voltou à seleção. Tornou-se bicampeão olímpico e comemorou virar uma pessoa normal. "Fico feliz porque vou para casa, ficar com meus filhos, almoçar com eles, jantar com eles, poder comemorar o aniversário deles. É o que me deixa mais feliz", disse depois da medalha.

Na ocasião, a promessa era de, dali dois anos, se aposentar também dos clubes. Não cumpriu. Levou quatro temporadas inteiras até parar, já longe do auge. Jogou dois anos num projeto próprio em Guarulhos, que vestiu a camisa do Corinthians, e encerrou a carreira passando quase desapercebido pelo time de Ribeirão Preto, onde não jogava o tempo todo. Sem pandemia, teria feito um jogo de despedida na última rodada da Superliga, com sua equipe já eliminada.

Só nessa reta final é que Escadinha pôde ser coadjuvante, como manda o figurino do líbero. Quando Serginho começou no vôlei, essa posição sequer existia. Foi rejeitado nas peneiras dos principais clubes (Banespa e Pirelli), mas recebeu chance no Palmeiras, arquirrival futebolístico do seu amado Corinthians. Começava a se destacar no Guarulhos quando o time acabou. Era 1998, ano que a Federação Internacional de Vôlei (FIVB) criou a figura do líbero. Um jogador que só defenderia, proibido de sacar, bloquear ou atacar. Logo, que ficaria zerado na lista de pontuadores.

Serginho passou num teste para jogar pelo time do São Caetano e dali só cresceu. Chegou aos times de ponta, à seleção, a ser o primeiro líbero eleito como MVP de uma Liga Mundial (em 2009) e, depois, como coração da carreira, também da Olimpíada do Rio. Giba, Gustavo, Nalbert, Wallace, Visotto, Lipe, Éder, Lucão, Rodrigão, André Heller, Anderson, Dante. Não importa quem fizesse o ponto, era sempre Serginho quem estava ali ao lado para abraçar, ou para dar o tapinha de incentivo após um erro.

Aos 44 anos, não parece haver outra alternativa senão essa aposentadoria ser definitiva. Um descanso merecido para um jogador que deixa as quadras como o melhor líbero que o vôlei masculino já produziu. E que pode ficar tranquilo. O rei não perderá a coroa tão cedo.

Errata: este conteúdo foi atualizado
Foram 12 anos entre Barcelona e Atenas, não 8, como informado anteriormente.