Tragédia do Ninho se aprofunda como mancha de horror na camisa do Flamengo

Nem precisaríamos ter novas acusações contra o Flamengo a respeito do incêndio que matou dez garotos nas instalações da base do clube para avaliarmos como pequeno e covarde o comportamento do clube nesse caso.

Não apenas pelo estado em que os garotos dormiam - em containers - mas pela atitude mesquinha e desumana de encrencar com valores e negociar para baixo as indenizações devidas às famílias das vítimas.

Diante do horror, a única saída decente seria a de abraçar essas famílias de todas as formas possíveis, de pagar as mais altas indenizações e ainda erguer um memorial na Gávea em nome das vítimas. Dinheiro para tudo isso existe de sobra.

Celebrar as vidas desses jovens, agradecer a paixão pelo clube, fazer justiça ao peso de uma camisa que é tão imensa que já foi até objeto de homenagem da seleção alemã de futebol masculino.

Agora, apuração de Leo Burlá para o UOL traz a denúncia de um engenheiro que diz ter sido pressionado pelo Flamengo para alterar a cena do incêndio no dia seguinte à tragédia que matou os dez garotos.

Segundo a fonte de Burlá, a perícia chamada ao local teria verificado que as instalações elétricas do Ninho do Urubu estariam fora do padrão de segurança, o que poderia ter causado o incêndio.

A revelação abre novo espaço de monstruosidade ao acontecimento.

São acusações graves e que parecem estar amparadas por indícios, como mostra a excelente reportagem.

Um clube de futebol não precisa gerar lucro e dividendos.

Um clube de futebol é instituição social que deveria ter todo o saldo positivo do balanço reinvestido em formação de jogadores e jogadoras, em melhorias nas instalações, em educação que ajudasse a formar cidadãos e cidadãs para além de atletas, em maneiras de estreitar a participação social da entidade na vida da comunidade etc.

O clube mais rico do Brasil deveria ter instalações de base que fossem citadas como referência mundial e não trazer containers para servir de dormitório, muito menos negligenciar reformas elétricas se foi esse o caso.

A tragédia do Ninho é uma mancha no manto rubro-negro.

Poderia ser uma mancha que estivesse sendo diminuída se a diretoria demonstrasse interesse em tratar as vidas perdidas com honra e ética.

Mas a cada dia que passa, sem que se achem responsáveis e sem que haja envolvimento emocional da diretoria, a mancha fica maior.