Topo

Milly Lacombe

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

A PRF não atua como polícia mas sim como um partido de extrema-direita

Posto da Polícia Rodoviária Federal em Betim (MG); PRF - PRF/Divulgação
Posto da Polícia Rodoviária Federal em Betim (MG); PRF Imagem: PRF/Divulgação

Colunista do UOL

01/11/2022 11h54

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

Durante a eleição para o segundo turno entre Lula e Bolsonaro houve uma clara tentativa de golpe com o apoio da PRF, a Polícia Rodoviária Federal.

A tentativa foi divulgada timidamente, sem a importância necessária.

Alexandre de Moraes, por volta da hora do almoço no dia 30, fez pronunciamento dizendo que tudo corria bem, que nada estava fora da ordem. Mas nem tudo corria bem.

Há quem acredite que Moraes acertou ao não jogar lenha na fogueira.

Pode ser, de fato.

Mas e se a tentativa de golpe tivesse sido bem sucedida? Ainda assim ele teria acertado ao diminuir a violência dos atos golpistas com participação da polícia?

A verdade é que poderia ter funcionado, dada a pequena diferença de votos entre Lula e Bolsonaro.

E se tivesse dado certo? O que teria acontecido com esse país? As eleições seriam impugnadas? Eu duvido.

Não deu certo, felizmente, mas os golpistas tinham um plano alternativo que envolvia encorajar o núcleo mais amalucado dos eleitores, aquela parcela de bolsonaristas que parece acreditar de fato que o comunismo chegou com a eleição de Lula, e a PRF.

Vamos à primeira tentativa de golpe, a que fracassou.

No domingo, muitos eleitores de estados do Nordeste e do Rio de Janeiro foram impedidos de votar.

Relatos dizem que alguns conseguiram chegar a tempo, mas outros tantos ou desistiram ou chegaram depois do horário.

Não temos ainda um cálculo preciso de quantos eleitores deixaram de votar, nem mesmo daqueles que, intimidados pela ameaça de violência, nem saíram de casa.

Não há relato de eleitores de Bolsonaro sendo parados pela PRF, mas sim de carros com bandeiras e adesivos de Lula.

Não funcionou, por sorte.

E, assim, a segunda parte da tentativa de golpe usando homens de farda foi colocada em prática no dia seguinte.

A PRF, que se comportou como uma polícia fascista que impede petistas de votarem, agora atua para proteger quem não respeita o resultado democrático da eleição.

O presidente que perdeu a chance de ser reeleito mesmo diante de tantos casos de assédio eleitoral cometidos por empresários a seu favor, segue calado, como calam os covardes em situações de tensão.

O silêncio de Bolsonaro não é apenas covardia. É também um sinal de "sigam na baderna". Seu silêncio é parte da gestão de um golpe.

Mas sua soldada, a deputada Carla Zambelli, fala por ele e pede via redes sociais que os golpistas sigam firmes nas ruas.

Sabemos que a PRF esteve em reuniões com o time de Bolsonaro e sabemos que o diretor geral da PRF é declaradamente bolsonarista.

Sabemos que outros policiais foram às redes dizer que estavam orgulhosos de impedir que petistas votassem.

Depois que a tentativa de golpe do domingo fracassou, a PRF se articulou para proteger quem bloqueia estradas berrando em delírio alucinatório que o comunismo chegou.

É uma mistura de extrema burrice com paranoia delirante alucinatória com ímpetos fascistas.

Outra vez é preciso usar as palavras corretas: não são manifestantes que estão nas ruas, são golpistas.

A PRF não atua como polícia mas sim como um partido. Um partido fascista, é preciso que digamos.

Nas palavras do professor Vladimir Safatle: "A Primera ação de um novo governo é o fim da polícia tal como ela se organiza atualmente. Ela não é apenas o gestor de políticas de extermínio, mas um partido político".

O fim das polícias como elas se organizam hoje precisa entrar em pauta com urgência.

E seria muito importante que o vocabulário correto fosse para o noticiário.

Serviria para informar e evitaria a chance de manipulações.

O ministro Alexandre de Moraes está agindo corretamente exigindo, através da lei, que as estradas sejam liberadas, aplicando multa ao diretor da PRF caso as estradas não sejam e autorizando sua prisão em flagrante. São as ações que podem ser feitas dentro do campo democrático.

As estradas serão liberadas, Lula será empossado. Mas esses dois meses até a posse serão de violências e alucinações.

Cabe lembrar que em 2018, quando Haddad foi derrotado, o máximo que os perdedores fizeram foi uma campanha em redes sociais para que ninguém soltasse a mão de ninguém.

Agora, com a atitute violenta e golpista de alguns bolsonaristas derrotados e ilegalmente amparados pela polícia, fica claro quem é da baderna, da violência, da antidemocracia e do fascismo.

Eles perderam uma vez, nas urnas, e perderão de novo, nessa tosca tentativa de golpe com a ajuda da polícia.