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Milly Lacombe

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Thiago Silva usa lema fascista nas redes para sugerir voto em Bolsonaro

Thiago Silva recebe o prêmio de melhor jogador do Mundial de Clubes - Michael Regan - FIFA/FIFA via Getty Images
Thiago Silva recebe o prêmio de melhor jogador do Mundial de Clubes Imagem: Michael Regan - FIFA/FIFA via Getty Images

Colunista do UOL

03/10/2022 10h32

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Jogadores e jogadoras de futebol não se enxergam como uma classe de trabalhadores. Os que fazem sucesso e ganham muito dinheiro se convencem de que foi por mérito e talento deles apenas. Quem se esforça consegue, diz o mantra liberal. É assim que o sucesso de um apaga o fracasso de muitos.

Quantos Thiagos Silva haveria se a juventude periférica não fosse assassinada, encarcerada, excluída, milicianizada?

Mais de 50% dos jogadores e das jogadoras ganham um salário mínimo. Menos de 20% ganham mais do que cinco mil reais. Não se trata apenas de uma classe trabalhadora, mas também de uma classe precarizada.

Sem essa consciência, é mesmo fácil apoiar o candidato que prega uma certa masculinidade conveniente e autoritária. Uma ideia de família hierárquica na qual a mulher é apenas uma servidora do lar e uma ideia de pátria entregue a interesses do capital internacional.

Sem essa consciência é fácil apoiar o candidato que elogia estupro e compara negro a gado. Fácil dar o voto em quem acredita em meritocracia. Fácil até repetir sem pensar o slogan fascista usado por Jair Bolsonaro: Deus, Pátria, Família.

Ignorar o horror histórico das palavras que estão sendo repetidas não isenta o repetidor de culpa.

No domingo, 2 de outubro, o zagueiro Thiago Silva foi às redes sugerir voto em Bolsonaro usando o slogan fascista. É grave, muito grave. E também triste.

É preciso compreender o que o fascismo representa e como ele impede que outros Thiagos Silva cumpram seus destinos de glória. É preciso ter cuidado com as palavras repetidas, com o uso irresponsável de lemas de regimes de extermínio.

Bolsonaro vem fazendo uso cada vez mais constante do slogan fascista sem ser importunado. Ele não faz isso à toa. Ele tem um projeto de sociedade muito bem desenhado. Um no qual homens mandam, mulheres obedecem e tudo o que não for espelho pode ser destruído.

Sem isso, o futebol é apenas um entretenimento vazio e o jogador de sucesso nada mais do que um capataz de um sistema perverso, excludente e racista.