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Milly Lacombe

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Neymar Jr não sabe o que é democracia e se surpreende com a fúria das redes

Neymar grava vídeo cantando funk do Bolsonaro - Reprodução
Neymar grava vídeo cantando funk do Bolsonaro Imagem: Reprodução

Colunista do UOL

30/09/2022 16h35

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Nosso maior talento futebolístico, e certamente um dos maiores do mundo, declarou apoio a um candidato associado a práticas fascistas de gestão.

Um homem que, por todo horror humanitário que promove, será certamente julgado por tribunais internacionais por crimes contra a humanidade.

O apoio de Neymar Jr. não é um apoio qualquer. Trata-se de um ídolo nacional e internacional, e as pessoas tendem a imitar e acreditar em seus ídolos.

A declaração de apoio de Neymar é irresponsável e lastimável.

A princípio, soa democrática, não é? Qual o problema de declarar voto em um candidato?

Se o candidato é Jair Bolsonaro, há muitos problemas, mas digamos, para começar, que nunca foi democrático, ainda que por séculos e décadas tenha sido perfeitamente legal, apoiar a escravidão, o nazismo, o fascismo e outros horrores como esses.

O voto em Bolsonaro não é um voto "diferente", como escreveu Neymar em postagem.

O voto em Bolsonaro é um voto em práticas fascistas de gestão.

É do jogo? É, afinal o cara é candidato protegido por lei. Mas a escravidão já foi "do jogo", o Nazismo já foi "do jogo". Ser legal não significa ser legítimo ou ético

Neymar deveria estar preparado para ser fortemente criticado dado que ofereceu apoio explícito a uma aberração ética, moral, política, social e humanitária.

Não é democrático apoiar alguém que já avisou algumas vezes que pode dar um golpe se as coisas não forem como ele quer.

Não é democrático apoiar aprendiz de ditador.

Não é democrático votar em pessoas que usam livremente o lema fascista de "Deus, pátria e família"

Não é democrático apoiar amante de torturador que levava pelas mãos crianças para ver suas mães serem torturadas e estupradas. Não é democrático apoiar alguém que considera que o estupro é um merecimento da mulher. Não é democrático apoiar quem compara negro a gado e quer filho gay morto.

Não é democrático apoiar candidato que usou um vírus como arma biológica contra sua população.

Não é democrático apoiar o homem que, vendo seu povo morrer sem ar, tirou uma onda da cara dos mortos imitando um doente sufocando.

Por fim, como escreveu Casagrande, não é democrático apoiar uma figura antidemocrática.

Neymar se surpreendeu com a raiva com que seu apoio a Jair Bolsonaro foi recebida.

Estamos mesmo com muita raiva, Neymar. Nossas vidas não são um joguinho de computador, nem uma dança em cadeira de gamer, nem mesmo uma negociação de dívida milionária com o governo.

Nossas vidas são reais e o que está em jogo nessa eleição brasileira, como definiu o maior intelectual vivo, é a continuação da espécie.

No ritmo em que a Amazônia está sendo destruída não haverá muito mais a ser feito em nome de uma recuperação climática.

Mais quatro anos de Bolsonaro e a geração de seu filho não terá chance de vida decente sobre esse planeta.

O clima seguirá seu curso extremista e, em mais duas ou três gerações, começaremos a nos extinguir.

Para sorte do planeta, que renascerá sem a humanidade sobre ele.

Podemos evitar nossa extinção? Certamente. Desde que mudemos o sistema e paremos de destruir as florestas que seguem de pé.

Pode soar como um exagero, e eu adoraria que fosse, mas não é.

Sua declaração de apoio a um genocida e ecocida é frouxa, vulgar e mimada.

É um soco no estômago das pessoas mais pobres, famintas e excluídas da sociedade brasileira.

É um soco no estômago das mulheres e de todas as minorias políticas desse país.

É um soco no estômago das nossas florestas e das populações indígenas.

Apoiar Bolsonaro é apoiar todo o circuito de morte que ele mobiliza e representa.

Não tem hexa que apague essa covardia, Junior.