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Milly Lacombe

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

O Corinthians luta contra o racismo de um lado e afaga o machismo do outro

Andrés Sanchez e Mané da Carne têm influência no Corinthians - Reprodução
Andrés Sanchez e Mané da Carne têm influência no Corinthians Imagem: Reprodução

Colunista do UOL

29/06/2022 10h15

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Numa mesma noite, a notícia de duas reincidências. Torcedores do Boca cometem racismo em Itaquera e conselheiro corintiano é, outra vez, acusado de agressão verbal com ameaça de partir para a agressão física contra uma conselheira.

Em Itaquera, tivemos a confirmação - como se precisássemos de mais uma - que combater o racismo com tweets e multas não está adiantando. A Conmebol vai, certamente, aplicar outra multa ao Boca e seguir engordando seus cofres a cada nova ação racista durante a Libertadores.

Enquanto isso, no grupo de conselheiros do Corinthians, Manoel Evangelista, conhecido como Mané da Carne e já flagrado intimidando outra conselheira no grupo de WhatsApp - para em seguida ser absolvido pelo comitê de Ética (!) - agora é acusado de ter ameaçado de agressão a conselheira Susy Miranda, que disse ter sido verbalmente abusada e intimidada na frente de muitos outros conselheiros no salão nobre do clube.

A primeira apuração foi um furo da minha amiga Marilia Ruiz, e a nova apuração é do sempre preciso repórter Yago Rudá - o texto completo pode ser lido aqui.

Segundo apuração de Rudá, Miranda contou que Mané da Carne - que viaja com o time para alguns jogos fora de São Paulo - teria dito, depois de agredi-la verbalmente e de ter sido confrontado com a indicação de que ela Miranda não iria deixar a violência passar batida, a seguinte frase: "Ameaçando não, eu vou te dar um murro nessa sua boca de bosta".

Pessoas que trabalham com mulheres agredidas, abusadas, assediadas e que estão bastante conscientes dos números de guerra que envolvem o feminicídio no Brasil (o quinto país que mais mata mulheres no mundo) dizem que a agressão física é invariavelmente precedida da ameaça verbal.

O Corinthians vai esperar alguma coisa ainda mais violenta e trágica acontecer para tomar medidas? O "Respeita as mina" vai ser mesmo só um slogan para vender produtos a suas torcedoras?

Esperamos que o caso seja investigado com mais seriedade do que feito da primeira vez em que nem as provas escritas bastaram para que medidas fossem tomadas contra o conselheiro acusado de ameaças tão graves.